Patricia Stille*
Construir um sistema de governança corporativa adequado é saudável para qualquer empresa, independentemente do setor ou estágio de maturidade. Boas práticas ajudam empresários e executivos a alinharem um grupo de princípios e diretrizes que invariavelmente contribuem para qualidade de gestão dos negócios.
Em companhias de maior porte a preocupação com governança está no dia a dia das pessoas, mas nas pequenas e médias empresas é mais difícil perceber culturas fortes nesse sentido. Muitos empresários não implementam simplesmente porque desconhecem os padrões adotados no mercado, outros acreditam que governança corporativa é assunto para grandes corporações apenas.
Se é evidente que empresas menores não suportam as práticas de governança das grandes, naturalmente mais complexas, a atenção a alguns pilares fundamentais de governança certamente podem ajudar empresários de negócios de menor porte a nutrir uma cultura que pode ser chave para o futuro da companhia, sem deixar de focar naquilo que importa para o momento do negócio – investir toda energia em crescimento.
Para o investidor, a transparência através de reports e uma boa governança sinalizam o plano de negócios a da empresa para geração de valor, passando pelos principais projetos, necessidade de capital, e outros pontos que mostram como ela está organizada. Práticas que trazem segurança. Já para o empreendedor, são iniciativas quem tornam seu negócio mais atrativo para o mercado.
É importante definir desde o início os direitos dos sócios empreendedores, criando mecanismos contratuais de gestão de conflitos para evitar que uma divergência futura venha a prejudicar a organização. Um acordo de sócios precisa contemplar, por exemplo, condições para o exercício do poder de controle, resolução de conflitos, regras de movimentação societária e transações envolvendo participações, entre outros pontos.
Além disso, muitas das empresas pequenas e médias são familiares. Mesmo que na constituição original um sócio tenha maioria suficiente para arbitrar conflitos, na sucessão essa maioria pode ser diluída entre herdeiros. Prever e estabelecer critérios de sucessão é um meio de preservar o valor do negócio.
Outra parte fundamental da estrutura de governança é a criação de um Conselho de Administração. O seu papel é ser o guardião da estratégia da organização. Por isso, mesmo uma empresa pequena ou média precisa contar com ele, ainda que em formatos mais simples.
Um caminho interessante é a formação de um Conselho Consultivo, cujo papel é aconselhar os sócios na sua tomada de decisão. Para empresas menores, como startups ou microempresas, o conselho pode ser substituído por mentores formais. O ideal é que sejam pessoas de fora da empresa, para contribuir com sua experiência e conhecimento no desenvolvimento do negócio.
As grandes empresas contam com um Comitê de Auditoria e uma estrutura de controles internos para antecipar e mitigar riscos. Mas mesmo empresas menores precisam de algum processo claro de controle financeiro, para manter um registro confiável do fluxo de caixa.
Uma boa contabilidade gerencial é fundamental para manter a saúde do negócio. E uma vez que a empresa se abre a investidores, a existência desses controles e gestão contábil simplifica a prestação de contas.
Assim como uma boa gestão pressupõe o acompanhamento dos indicadores do negócio, para saber se os objetivos estão sendo ou não alcançados. Uma vez que a empresa tenha investidores, eles precisam também tomar conhecimento sobre a evolução da performance da empresa.
Mesmo empresas que ainda não tenham recebido investimentos costumam enviar proativamente relatórios periódicos a gestoras de fundos de investimentos em participações, para acompanhamento e preparação de uma futura rodada de captação. Outras, prestam contas aos seus funcionários para provocar engajamento ou fomentar transparência, em especial quando existe na organização um programa de partnership.
Independente do motivo e do formato, o ponto chave é criar uma rotina de reporte financeiro periódico, pois esta prática ajuda a construir confiança e eleva a percepção de valor do investidor.
* CEO da beegin e sócia do Grupo Solum