A relação entre banking e e-commerce está se estreitando. O caso mais recente dessa tese ocorreu no domingo (3) à noite, com o anúncio da aquisição da Mosaico — dona de Buscapé, Bondfaro e Zoom — pelo Banco Pan, controlado pelo BTG Pactual.
Com a aquisição, o Pan cria “a maior e mais completa plataforma de banking e consumo do Brasil”, diz o banco no fato relevante. Isso significa um ecossistema, impulsionado por tecnologia, com oferta de marketplace, cashback, crédito e pagamento, seja para os mais de 12,4 milhões de clientes do Pan, seja para os mais de 22 milhões de usuários mensais dos sites da Mosaico.
Na prática, a compra da empresa de tecnologia acelera uma estratégia que já vinha sendo desenhada pelo Pan, que tinha no roadmap a construção de um marketplace.
A Mosaico, por sua vez, criou uma unidade de serviços financeiros sob a marca Bcash, sendo o primeiro produto um cartão de crédito com cashback, utilizando a infraestrutura de banking as a service (BaaS) do BTG Pactual. O banco e a empresa de tecnologia também firmaram um acordo para desenvolver uma plataforma de e-commerce para os clientes do BTG+, o banco digital de varejo do BTG.
Com a aquisição, o Pan leva para a casa uma operação de marketplace que teve incremento no GMV, mas sofreu no último semestre com diminuição da receita bruta e das visitas.
Nos primeiros seis meses do ano, o volume geral de vendas (o GMV) da Mosaico atingiu R$ 1,9 bilhão, alta de 2,1% na comparação com igual intervalo de 2020. As visitas totais às plataformas da Mosaico despencaram 27,6% no período.
Já a receita bruta caiu 3,8%, para R$ 111,6 milhões, enquanto o lucro líquido desabou 84,1%, encerrando o primeiro semestre em R$ 3,6 milhões. Em entrevista ao Valor, um dos sócios-fundadores da Mosaico, José Guilherme Pierotti, disse que a base de comparação com o ano passado é complexa, já que com o fechamento do comércio físico no começo da pandemia, quase todo mundo foi para o online. “Esses números têm muito ruído”, afirmou.
A transação ocorre num momento em que instituições financeiras, incluindo tradicionais e bancos digitais, constroem dentro de casa operações de marketplace ou firmam parcerias para levar estas ofertas aos seus clientes.
O caso mais emblemático é o Inter, que já há algum tempo se define como uma plataforma que combina banco digital e e-commerce. Nos últimos 12 meses, o Inter Shop fez R$ 3 bilhões em GMV. Na prévia operacional dos resultados do terceiro trimestre, o Inter diz que trouxe 438 mil novos clientes no 3T21, chegando 2,4 milhões de clientes ativos, sendo 70% recorrentes.
O Agi (antes Agibank) lançou no final do primeiro semestre o marketplace de serviços financeiros e não financeiros, que possibilitará atrair um ‘retail funding’, impulsionando a estratégia asset light e melhorando a capacidade de alavancagem, disse o banco digital na última divulgação de resultados.
O Next, banco digital criado pelo Bradesco, está construindo também um marketplace, que deve ser lançado em novembro, como contou recentemente para mim o CEO, Renato Ejnisman. Para 2022, o plano é adicionar uma camada de produtos e serviços financeiros ao marketplace, numa tendência de ‘invisible banking’.
Deal Pan e Mosaico
O banco está pagando um prêmio de 27% sobre o fechamento da ação da Mosaico na sexta-feira, quando encerrou o pregão cotada a R$ 12,62. O prêmio pode chegar a 43% caso o papel do banco ultrapasse R$ 24 em três pregões consecutivos nos próximos 30 meses.
A operação será via troca de ações, numa proporção de 0,8 ação do Pan para cada ação da Mosaico. Além disso, os acionistas da empresa de tecnologia receberão um bônus de subscrição, que será negociado em bolsa, com valor de face de R$ 4.
O bônus será pago se a ação do Pan fechar acima de R$ 24 no encerramento de três pregões consecutivos nos próximos 30 meses. Inicialmente, os acionistas da Mosaico ficarão com uma participação de 7,8% no Pan, fatia que pode subir para 9,2% se o bônus de subscrição for exercido.
Na sexta-feira, a Mosaico valia R$ 1,6 bilhão, enquanto o market cap do Pan era de R$ 20,9 bilhões.
A empresa de tecnologia fez sua estreia na B3 em fevereiro, levantando quase R$ 1 bilhão no IPO. Na época, o papel chegou a ter valorização de mais de 97% no primeiro dia de negociação, mas vem caindo nas últimas semanas e acumula baixa de 36,3% desde o IPO.
Os acionistas fundadores da Mosaico se tornarão executivos não estatutários do Pan, sendo que um deles será membro do conselho de administração e outro presidente do comitê de e-commerce.
Além disso, os acionistas fundadores da Mosaico estarão sujeitos a lock-up de suas ações que se encerrará dentro de um prazo de 18 a 30 meses a contar do fechamento da operação, assim como obrigação de não-concorrência.
A conclusão da operação depende de aprovações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Banco Central do Brasil (BC).