"De gente pra gente", Bullla entra em benefícios flexíveis e vai lançar CDC

O Bullla, fintech de crédito com foco nas classes C e D, acaba de lançar uma solução de benefícios flexíveis, conta o CEO Marcelo Villlela

Bullla (Reprodução/site)
Bullla (Reprodução/site)

Nos últimos anos, o Bullla — fintech de crédito com foco nas classes C e D — vem avançando na oferta de soluções financeiras para colaboradores de empresas. Lançou um cartão de antecipação salarial com limite de crédito e agora está entrando em benefícios flexíveis, uma modalidade que tem atraído cada vez mais os RHs das companhias como uma estratégia para atração e retenção de talentos.

“O cartão tem crédito, adiantamento salarial e nesse próprio cartão, o empregador poderá colocar os benefícios”, revela Marcelo Villela, CEO e cofundador do Bullla, com exclusividade ao Finsiders. “Estamos pedindo agora aprovação no PAT [Programa de Alimentação do Trabalhador].”

Com o novo produto, a fintech espera atingir cerca de 2 mil CNPJs. Hoje, a base tem mais de 1 mil empresas conveniadas, principalmente com mais de 500 funcionários. Na carteira, estão companhias como Centauro, DHL, Pague Menos, Prosegur, Tegma, entre outras.

No total, atualmente são 350 mil cartões ativos, e o potencial é quadruplicar esse número até o fim do ano, com a criação dos benefícios flexíveis. “Começamos a oferecer a solução para novos clientes há uma semana. O primeiro [cliente novo] começa com 14 mil pessoas que já vão ter o cartão.”

Pelo app, os usuários do cartão poderão acompanhar os saldos e movimentações realizadas no Bullla Flex, as compras com o cartão e o crédito parcelado. Já o RH das empresas conveniadas tem como benefício (com o perdão do trocadilho) a otimização do fluxo de caixa e a gestão centralizada de todos os benefícios oferecidos a seus funcionários. “O RH está preocupado em reter talentos e manter o turnover baixo, e o Flex ajuda nisso.”

Desde outubro de 2020, quando assumiu as operações no Brasil da norte-americana WEX, que oferece soluções de crédito e meios de pagamentos, o Bullla emitiu cerca de 100 mil novos cartões de antecipação salarial com limite de crédito parcelado para colaboradores de empresas — vigilantes, atendentes de telemarketing, vendedores, porteiros, caixas de supermercado e profissionais do setor de limpeza, entre outros.

Com bandeira Mastercard, o cartão permite antecipações salariais de até 30% do valor da remuneração mensal, sem juros para os colaboradores e sem custo adicional para os empregadores. Em 2021, foram transacionados mais de R$ 204 milhões com o cartão, entre compras, saques e transferências, numa média de 14 mil operações mensais.

P2P

O avanço do Bullla no B2B2C não significa abandonar sua origem, o empréstimo pessoal no “mar aberto”, na modalidade peer-to-peer (P2P) lending. Em 2019, a fintech foi uma das primeiras SEPs (Sociedades de Empréstimo entre Pessoas) autorizadas a operar pelo Banco Central (BC), ao lado de players como Nexoos e MOVA — ambos adquiridos, o primeiro no ano passado pela Ame e o segundo pela britânica Experian, em acordo anunciado na semana passada, e noticiado primeiro no Brasil pelo Finsiders.

O volume emprestado por meio da plataforma do Bullla saltou de R$ 1,5 milhão em 2020 para R$ 16,5 milhões em 2021. Em fevereiro, a fintech ultrapassou R$ 20 milhões em empréstimos entre pessoas, desde o início das operações. No total, são mais de 400 mil cadastros na plataforma. “Por mês, recebemos em média 30 mil novos cadastros no P2P, mas estamos aprovando só 4 mil”, diz Marcelo.

Na outra ponta, a plataforma soma 3,5 mil investidores cadastrados, sendo 800 ativos. A rentabilidade pelo investimento pode chegar a 40% ao ano, mas para isso é preciso aportar pelo menos R$ 150 mil. “Estamos montando um fundo para que pessoas com tíquete menor possam participar desse movimento”, conta.

Com a deterioração do cenário macroeconômico, a inadimplência no Bullla chegou a 19,84% em fevereiro deste ano, para atrasos superiores a 90 dias — um ano antes, o indicador estava em 12,61%, conforme reportes mensais publicados pela fintech em seu site.

“Diminuí minha propaganda no mar aberto, por conta dos apontamentos do mercado, e descobri que com os funcionários das empresas, começamos a ver um comportamento de consumo e crédito. Significa ver, por exemplo, um filme dos últimos seis meses, não só uma foto”, diz Marcelo. “O Bulla quer ser a solução de crédito para o Brasil real, lançando mão da melhor orientação possível para rentabilizar o investidor.”

Não à toa, a maior parte (80%) da originação hoje vem dos colaboradores de empresas, e o restante do P2P. “Acredito muito que no meio do ano que vem, o mar aberto vai ser mais relevante na originação”, aponta o empreendedor.

Em 2022, a projeção do Bullla é chegar ao final do ano com um total movimentado de R$ 340 milhões em operações de crédito, incluindo o empréstimo entre pessoas físicas e o cartão de antecipação salarial.

Portfólio

A partir de agosto, a ideia é unificar as soluções. “No P2P, a gente atua muito fortemente com autônomos. Arranjei uma solução para a turma que é assalariada para fazer parte desse processo. Agora vamos juntar as duas plataformas”, revela Marcelo.

Também no início do segundo semestre, o Bullla vai incrementar o portfólio de crédito com o lançamento de um CDC (Crédito Direto ao Consumidor), numa roupagem digital — modalidade que ganhou fama mundo afora como ‘buy now, pay later’ (BNPL).

“E a partir do ano que vem, começaremos a colocar seguros, de todas as modalidades”, adianta o empreendedor. “Quanto mais a pessoa usar o Bullla, vai tendo mais benefícios e vantagens. Quero ser o plástico número 1 dele.”

Perguntado sobre projeções de crescimento, Marcelo diz que a expectativa é atingir 20 milhões de clientes até o final de 2026. “Aí acho que estaremos fazendo diferença. A partir de 5 milhões de clientes, você já é relevante”, avalia. “Queremos ser a solução de crédito para o Brasil real.”

O Bullla foi fundado em 2019 por Marcelo, ex-presidente da financeira Losango e ex-diretor do Bradesco e do HSBC. O nome da fintech vem da palavra “bulla”, pedaços de argila com inscrições, usados pelos sumérios como forma de identificação das transações agrícolas. E os três L’s representam o poupador, de um lado, e o investidor (pagador) do outro, enquanto o Bullla fica como intermediário.

Mercado

As SEPs (Sociedades de Empréstimo entre Pessoas) foram regulamentadas pelo BC em abril de 2018, junto com as SCDs (Sociedades de Crédito Direto). Ao contrário das SCDs, as SEPs podem captar recursos do público, desde que sejam exclusivamente vinculados à operação de empréstimo. Adicionalmente, a SEP pode prestar serviços como análise e cobrança de crédito para clientes e terceiros, e emissão de moeda eletrônica.

De acordo com dados disponíveis no site do regulador, referentes a março, atualmente são 10 as SEPs autorizadas a funcionar no país. Entre elas, nomes como a própria Bullla, além de Nexoos (comprada pela Ame em 2021), MOVA (recém-adquirida pela Experian), Inco, Peak e outras.

Na lista de competidores do Bullla, estão tanto as fintechs de crédito pessoal para desbancarizados, como SuperSim, Jeitto, ClickCash, entre outras, quanto aquelas que oferecem soluções financeiras para colaboradores de empresas, um segmento que cresceu bastante nos últimos anos. Nesse segundo grupo, estão players como Paketá, Creditas, Capital Consig, Somapay, Leve, Facio, Grupo H e outros.

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