Mozart Marin *
Quando paramos para analisar as tendências do mercado financeiro em veículos especializados e nos principais cadernos de economia do Brasil e do mundo, não é difícil perceber que o movimento do Open Banking é uma das principais pautas que tem direcionado debates e alimentado expectativas quanto a oferta de novos serviços e benefícios para o consumidor, bem como, no sentido do fortalecimento do sistema bancário do futuro.
Apenas como breve conceituação, o Open Banking diz respeito, conforme expresso pelo Banco Central, ao “compartilhamento de dados, produtos e serviços pelas instituições financeiras”, sempre a critério dos próprios clientes. Tal compartilhamento, por sua vez, é feito pela abertura das interfaces de programação dos bancos que, através desta ação, promovem uma ampla autonomia dos consumidores e das empresas sobre suas próprias informações.
Mas quais os ganhos concretos desta iniciativa? O ponto central envolve o fato de que, com independência na gestão de seus dados, os usuários do sistema bancário poderão negociar, de modo mais ágil e com plena liberdade, melhores condições para aquisição de produtos financeiros (de linhas de crédito aos financiamentos; dos seguros aos serviços de pagamento), em diferentes instituições e trazer, definitivamente, o cliente para o centro neste mercado.
Em relação ao fortalecimento do setor bancário como um todo, vale citar que, ao longo dos próximos cinco anos, cerca de US$ 43,1 bilhões serão movimentados no sistema financeiro global, somente graças a iniciativa do Open Banking que, é importante frisar, está apenas começando no Brasil e globalmente.
No Reino Unido, pioneiro na abertura de dados no mundo, os benefícios deste movimento de empoderamento do consumidor sobre seus dados financeiros já começa a colher frutos. 86% do mercado financeiro do Reino Unido reconhece, por exemplo, o valor dos dados providos pelo Open Banking, enquanto 94% das fintechs britânicas já estão implementando processos baseados no Open Banking em suas operações. Além disso, se estima que o Open Banking deve elevar em £1 bilhão anualmente o PIB britânico – todos os dados estão disponíveis no Portal Oficial do Open Banking do Reino Unido.
Neste sentido, quando levamos em conta que o ambiente bancário brasileiro conta com desafios semelhantes a estrutura do sistema financeiro do Reino Unido (sobretudo no plano da alta concentração bancária) é possível esperar ventos positivos desta abertura que se iniciou recentemente no Brasil e na qual, já para agosto, se espera o start efetivo do compartilhamento de serviços, incluindo propostas de operações de crédito, pagamentos e junção oficial do Open Banking com o PIX.
Em todo este contexto, a tecnologia e as empresas mais inovadoras do mercado devem assumir um papel decisivo na oferta de soluções e serviços que, de fato, explorem todas as possibilidades providas pelo Open Banking em prol da consolidação do novo no sistema financeiro e bancário – setor que, embora tradicional, abraçou definitivamente a transformação digital ao longo dos últimos anos.
Penso, por fim, que a iniciativa de abertura de dados do setor bancário será tão importante para o mercado quanto foi, por exemplo, o movimento do Open Health – no qual a abertura de dados de pacientes permitiu o surgimento de prontuários eletrônicos, compartilhamento mais ágil de informações entre médicos e hospitais, e o avanço de soluções mais disruptivas, com base em blockchain e outras novas tecnologias – a portabilidade de dados no setor de telefonia ou mesmo o processo de abertura do mercado de energia que também avança no Brasil.
Sem dúvidas, teremos também desafios culturais pela frente e a necessidade de difundir conhecimento para que todos possam usufruir dos benefícios de uma sociedade mais aberta. Mas o fato é que toda ação que contribui para um maior empoderamento do consumidor e das empresas é um avanço para o ambiente de negócios global e para a vida em sociedade. Cabe a nós colhermos os frutos dessa conquista.
*Fundador da BeBold.Place e sócio da Loara Crédito Empresarial