Por Franklin Lacerda*, para o Finsiders
Na última semana, o LinkedIn divulgou o seu tão esperado ranking Top Startups 2022, incluindo diversas fintechs. E antes de qualquer coisa, parabéns às 15 startups apontadas no ranking este ano: Neon, C6 Bank, Gupy, Me Poupe!, Flash, Z1, Caju, Pipo Saúde, Paylivre, Onze, Buser Brasil, Pier Seguradora, Azos, Alice e Voltz Motors.
Ao analisar as selecionadas, tivemos algumas reflexões aqui na Análise Econômica (AE) que valem compartilhar.
A primeira coisa a se destacar é a presença majoritária de startups de serviços financeiros e correlatos. Das 15 startups, 10 atuam no segmento financeiro, seja como banco, seguradora ou algum segmento correlato, como é o caso de serviços de benefícios flexíveis.
O Finsiders divulgou no início de setembro, com base em dados do Distrito, que entre janeiro e agosto de 2022, as startups de modo geral levantaram US$ 3,6 bilhões, queda de 45% ante os US$ 6,6 bilhões apurados no mesmo intervalo de 2021.
As estimativas da AE apontam para aproximadamente US$ 2,7 bilhões investidos somente em fintechs brasileiras entre janeiro e agosto. O segmento tem liderado a inovação no país e, apesar da expressiva queda no volume de investimentos em 2022 comparado a 2021, este ano deve superar o volume registrado em 2020.
O comportamento dos investimentos está bastante pautado pela conjuntura econômica conturbada desde o início de 2022. Esse movimento é tão evidente que pudemos notar a pujança dos investimentos nos primeiros dois meses do ano, mas que rapidamente já foi desacelerando.
Questões como a guerra na Ucrânia, o cenário de elevada inflação nos países centrais, a trajetória de alta dos juros e a consequente desaceleração da atividade econômica nesses países estão contribuindo para a recomposição de expectativas dos investidores e, consequentemente, para segurar diversos aportes.
Outro ponto significativo é que, depois de muitas mudanças no ambiente regulatório capitaneadas pelo Banco Central (BC) e de todos os esforços de investimento vistos nos últimos anos, parece que mudanças no grau de concentração bancária do país finalmente estão em curso.
Até 2020, segundo o Relatório de Economia Bancária, do BC, o grau concentração das operações de crédito na mão dos cinco grandes bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Santander Brasil) era de 81,8%.
É preciso destacar que as operações de crédito são o subsegmento dentre as fintechs com maior presença de players dentre as mais de 1,2 mil startups do setor financeiro no Brasil. Boa parte disso também é reflexo do ambiente regulatório, com as resoluções 4.656 e 4.657 de 2018, do BC.
De todo modo, quanto à concentração, os dados oficiais acabaram de ser divulgados na última quinta-feira (6) e, em alguma medida, são animadores, mas devem ser observados com atenção. A concentração das operações de crédito na mão dos cinco grandes bancos do país não teve uma mudança tão significativa: caiu dos 81,8% para 81,4%.
Contudo, observando o segmento bancário como um todo, a concentração está em torno de 78,7%. Ampliando ainda mais o olhar, incluindo o segmento não-bancário, a concentração recua para 67,9%.
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Esse movimento não representa uma mudança brusca, mas claramente, são alterações significativas. As fintechs, especialmente as de crédito, estão mostrando impacto. Avaliamos que o impacto poderia ser maior, devemos salientar. Boa parte disto, ainda em função dos desafios estruturais e culturais da economia brasileira.
Mas o segmento como um todo permanece pujante. O volume de operações de crédito alcançou R$ 5,1 trilhões em agosto deste ano. Trata-se de um crescimento de 1,6% em comparação ao mês anterior, mas de fortes 16,8% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
É um salto positivo para o segmento, mas que também deve nos deixar alertas. A economia global apresenta uma série de riscos, apontados especialmente na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que deliberou a manutenção da taxa de juros Selic em 13,75% ao ano.
Dentre os pontos que vale salientar, de acordo com o Copom, o ambiente externo permanece adverso e volátil, particularmente pelas revisões negativas para o crescimento das principais economias, em especial para a China — o motor do crescimento global nas últimas décadas.
Complementarmente, o ambiente de preços permanece desafiador, na visão do Copom. Os ‘policy makers’ apontaram que o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho nas principais economias indica que as pressões inflacionárias no setor de serviços podem demorar a se dissipar.
Cabe lembrar que, somente no Brasil, o setor de serviços representa aproximadamente 70% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e mais de 50% da mão de obra formal está concentrada no setor. Portanto, com um cenário ainda desafiador no horizonte relevante, é importante nos mantermos alertas para que esse cenário de desconcentração e crescimento das fintechs se mantenha firme e pujante.
Por fim, cabe uma observação relevante para nós. Ainda que o setor de serviços tenha um papel importante no Brasil — especialmente os serviços financeiros — vale apontar que, das 15 Top Startups, somente uma está conectada diretamente à indústria: a Voltz Motors.
A indústria tem um papel significativo no desenvolvimento econômico no país e, apesar de representar cerca de 18,9% do PIB com base nos resultados de 2021, é a líder em investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), de acordo com os dados da Pintec (do IBGE), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e estimativas da Análise Econômica.
Seguimos de olho!
*Franklin Lacerda é economista e CEO da Análise Econômica (AE).
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.
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