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Guru se prepara para virar uma corretora independente de renda variável até o final deste ano

Denise Ramiro

A Guru, fintech de investimentos em ações focada no público jovem, está com a agenda cheia até o final do ano. Com o aporte de R$ 12 milhões que recebeu no início de julho da Turim MFO, um dos maiores multi family offices independentes do país, colocou em prática mais uma etapa do seu plano de expansão. Nos próximos meses, planeja ampliar de 35 para 50 o número de funcionários — fechou 2020 com 15 pessoas –, reforçar a infraestrutura tecnológica do seu aplicativo, começar a organizar uma nova rodada de negócios, garantindo fôlego para dar o grande passo de se tornar uma corretora digital independente, entrar no mercado de criptomoedas e de ações do mercado americano.

Em conversa exclusiva com o portal Fintechs Brasil, os sócios Felipe Catão, fundador e CEO da Guru, Marcelo Zuppardo, co-fundador e CMO (completa o time Tom Bernardes, co-founder e CTO, que não participou do encontro), anunciaram que devem entrar com o pedido de licença ao regulador para poderem operar como uma corretora digital ainda este ano – hoje a Guru trabalha com uma corretora parceira.

O projeto era ser uma corretora digital desde o começo, mas a Guru percebeu que o processo era extremamente complexo e demorado. “Inspirado no que o Nubank tinha feito, de oferecer uma experiência de banco sem ser um banco, a Guru quis fazer a mesma coisa para o mercado de corretora”, conta Catão.

Desde 2018, a fintech foi construindo a parte informativa não regulada, fazendo acompanhamento de dados de mercado, cotações, gráficos, notícias e portfólio de ações. Há seis meses, ela se integrou a uma corretora parceira, e seguirá assim até conseguir seu registro legal de corretora.

Criptomoedas e ações dos EUA

A mesma estratégia usada para se tornar uma corretora digital será usada para entrar no mercado de criptomoedas e, mais tarde, no mercado norte-americano de ações. “No início da semana lançamos o acompanhamento da criptomoeda no nosso app, o próximo passo é fazer com que o nosso cliente consiga colocar o bitcoin na sua carteira de investimentos para acompanhar a evolução, se a pessoa já investe em alguma outra plataforma de negociação de criptomoeda”, explica Felipe. “Enquanto isso, desenvolvemos uma plataforma para negociar criptomoedas que deve ficar pronta até o final do ano também.”, acrescenta Zuppardo, o CMO da Guru.

Há um mês, a Guru oferece o serviço de compra e venda de criptomoedas através de uma corretora parceira, que permite que o investidor abra uma conta na corretora no app da fintech. Paralelamente, a Guru desenvolve um projeto interno para oferecer a negociação de criptoativos também de forma independente. “A venda de ações americanas ficará um pouco mais para frente”, diz Catão.

O CEO da Guru lembra que hoje já é possível investir em gigantes como Netflix, Apple, Facebook direto no Brasil, através de BDRs, que são depósitos de ações americanas negociadas no país, e informa que a demanda vem crescendo por esse tipo de produto. Mas ele aponta um lado ainda conservador na juventude – talvez pela falta de experiência. “Continuam comprando empresas tradicionais como Itaú, Petrobras, Vale, ações clássicas que tendem a ser mais seguras. Mas o pessoal aceita emoções, também compram algumas com risco maior mas com potencial de retorno mais alto”, avalia Catão.

Na mira dos jovens


Há um movimento promovido pela chegada na bolsa de uma nova leva de empresas de tecnologia, mais jovens e modernas, como a Enjoei e a Localweb, entre outras empresas que estão fazendo IPO, que estão na mira dos jovens investidores. A Guru realizou uma pesquisa recente que obteve a resposta de dois mil clientes, que mostra que 80% deles têm menos de 35 anos, dos quais 50% investem em ações, direto na Bolsa, não através de fundos. Isso vai ao encontro do negócio da Guru.

“Nossos clientes tem feito aportes mensais em ações, o que mostra que eles estão criando o hábito de investir recorrentemente em ações. A pandemia contribuiu, ajudou para que pudessem se informar melhor, assim como favoreceu o cenário de juros baixos”, explica Catão. “Nos próximos cinco a dez anos vai acontecer uma revolução no mercado de ações. Ainda hoje, 80% da poupança dos brasileiros está guardada nos maiores bancos; temos um grande desafio daqui para frente para trabalhar a população mais jovem”, analisa Zuppardo.

A Guru não faz indicação de investimentos. “Fazer recomendação tem muito conflito de interesse”, afirma Catão. Mas hoje, segundo ele, os jovens se informam nas redes sociais. “A tese da complexidade do mercado, de que as pessoas não conseguem investir sozinhas em bolsa, já está ficando para trás”, diz ele. Catão conta que antes de abrir a Guru, os sócios se inspiraram na Robin Hood nos Estados Unidos. E viram que com tecnologia e design avançado e moderno, a corretora digital americana aproximou quase 5 milhões de americanos da bolsa.

“Decidimos que queríamos fazer uma Robin Hood do Brasil, uma Nubank das corretoras”, diz Catão. E explica que encontrou o mesmo ambiente no mercado de corretoras ao que o Nubank encontrou em 2013/2014 no cenário dos bancos, no começo dos negócios. “Entramos em um negócio antigo, dominado por poucos players, com discursos e tecnologias ultrapassados, ou seja, tem tudo para ser revolucionado”, diz o CEO.

Resultados


A Guru lançou a primeira versão do seu aplicativo em maio de 2020. De lá para cá, foram mais de 350 mil downloads, 100 mil usuários únicos ao mês, 50 mil usuários únicos na semana e 30 mil usuários únicos no dia, resultados que refletem o papel agregador do app, como hospedagem de dados de mercado e portfólio; agora a Guru também transaciona papéis via corretora parceira. Ao todo são cerca de 70 mil portfólios conectados, com R$ 2,2 bilhões em ativos franqueados, que são acompanhados pela fintech e apresentados aos clientes.

“Nos últimos seis meses ficamos focados no desenvolvimento do sistema de negociação para as pessoas conseguirem investir. Agora estamos com 300 contas ativas, indo devagar para entender todo o processo de onboarding, para entender esse fluxo de cadastro e negociação”, diz Catão. As receitas ainda não chegaram, mas está dentro do planejado. “Escolhemos o caminho de criar um aplicativo grátis para formar essa base grande de usuários, mas agora que entramos no jogo transacional, a gente vai começar a ter receita”, avisa.

A Guru quer se diferenciar das corretoras tradicionais com um app fácil de usar, produzido por uma equipe que conta com 20 desenvolvedores e cinco designers, autores de 70 softwares proprietários. De acordo com Catão, as corretoras tradicionais estão correndo atrás da digitalização, mas com a aquisição de soluções de terceiros. “Hoje as corretoras tradicionais são frankensteins de tecnologia, lidam com sistemas próprios, legados, antigos, unem pedaços que são de terceiros”, explica. Por isso, conta ele, a Guru começou a construir tudo do zero, toda a parte de tecnologia, de infraestrutura, do market data e, principalmente, a parte da interface, que é a que o cliente está vendo. “Estamos fazendo diferente”, diz.