Por Tiago Costa*, exclusivo para o Finsiders
‘Cashless economy’, em tradução literal, significa economia sem dinheiro. Na prática, consiste em um tipo de economia em que as transações financeiras são feitas com métodos de pagamentos digitais, como cartão de crédito, débito, carteira digital, Pix e outros, ao invés do uso de papel-moeda. Isso já é uma realidade global, mas os benefícios dessa digitalização devem impulsionar o modelo cada vez mais.
Ainda que o número de pessoas desbancarizadas no Brasil seja alto – 34 milhões continuam sem acesso a bancos ou com pouco uso do sistema bancário (sub-bancarizados), o que equivale a quase 20% dos brasileiros – o volume de dinheiro impresso segue em queda.
Essa tendência mundial tem movimentado empresas e governos para a criação de suas próprias moedas digitas. No Brasil, o real digital está em piloto pelo Banco Central e deve ser um grande impulsionador de transações digitais trazendo ainda mais opções e funcionalidades para as pessoas que querem migrar do mundo financeiro físico para o on-line. O ano previsto para início da circulação é 2024.
A China, um dos países mais avançados nesse processo, desde 2020 está em estudo e testes para a implementação da yuan digital, versão da sua moeda fiduciária, também chamada de e-CNY. Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e Índia também já estão em fase de estudos das versões digitais das moedas oficiais.
O cenário da pandemia de coronavírus acelerou ainda mais a expansão dos pagamentos digitais. Tanto que um estudo divulgado no site UOL revelou que esse setor sofreu um download tecnológico avançando dez anos em apenas 12 meses. Tudo impulsionado pelos avanços constantes das tecnologias e a enorme demanda por digitalização durante os períodos de lockdown.
Os benefícios de uma economia ‘cashless’ vão muito além das facilidades trazidas para o dia a dia. A rapidez de transações e até a redução de custos, como é o caso do Pix, oferecem muito mais robustez e segurança ao mercado financeiro, ao mesmo tempo em que permitem o uso de estratégias cada vez mais sofisticadas no combate à lavagem de dinheiro.
Esses benefícios permeiam esse crescimento e se tornam uma questão estratégica para agregar valor dentro das empresas. Aqui vale destacar que o custo do dinheiro em espécie vai muito além do gerado por sua produção. Nesse contexto, também entram questões voltadas para o tempo de geração das cédulas e moedas e para os gastos com logística, transporte e segurança.
Isso só mostra o quanto este é um movimento sem volta e que, guardadas as diferentes realidades que temos em um país continental como o nosso, a digitalização vai atingir a todos nós e consequentemente, as empresas. Segundo o mesmo levantamento do UOL, durante a pandemia, organizações que migraram para sistemas de vendas on-line tiveram aumento de 74% nas transações. As companhias que adotaram pagamentos eletrônicos para vendas presenciais tiveram crescimento de 82%.
Soluções como o Pix também se consolidaram e só reforçam o quanto os pagamentos facilitados e sem fricção são uma realidade. O pagamento instantâneo já é utilizado por mais de 117,7 milhões de brasileiros atualmente, segundo estatísticas do Banco Central. As carteiras digitais seguem a mesma linha de crescimento, com adesão de 89% das pessoas. A pesquisa constatou, ainda, que os pagamentos por aproximação tiveram crescimento de mais de 384%, comparando 2020 e 2021. Isso resultou em R$ 198,9 bilhões movimentados apenas nessa modalidade.
Além da inclusão financeira, os meios digitais garantem muito mais segurança nas transações, já que facilitam o rastreamento e diminuem as chances de crimes relacionados a lavagem de dinheiro e fraudes financeiras. Outro benefício que movimenta fortemente a economia é a capacidade de fomentar a criação de novos modelos de negócio e, com isso, gerar mais empregos.
E o que podemos esperar para o futuro?
Em uma sociedade cada vez mais digitalizada, há vantagens da ‘cashless economy’ que não podem mais ser deixadas para trás. Apesar de ainda não atingirem toda a população, os meios digitais facilitam a inclusão financeira e melhoram a experiência dos usuários, que já estão entendendo as facilidades de não precisarem utilizar o papel moeda para realizar suas compras.
Além disso, as empresas também estão aproveitando essas vantagens e adicionando capacidades de pagamentos digitais em suas ofertas a seus clientes, aumentando sua escalabilidade, usabilidade, segurança e, principalmente, receita alinhada a diminuição de custos operacionais.
Acredito que é apenas uma questão de tempo para que a economia ‘cashless’ esteja cada vez mais inserida no dia a dia das pessoas. Desde o real digital, criptoativos ou meios de pagamento sem fricção, as tecnologias voltadas para o mercado financeiro não param de evoluir deixando as pessoas cada vez mais acostumadas a fazerem suas transações online.
Cabe às empresas se adiantarem e aproveitarem as inúmeras oportunidades de negócio, entre elas, a de incluir serviços financeiros em seus portfólios, oferecendo assim experiências cada vez mais completas e satisfatórias para seus usuários.
*Tiago Costa é cofundador e diretor de produtos e tecnologia do Bankly, solução de banking as a service (BaaS) do Grupo Méliuz.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo(a) autor(a) do texto.
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