Para atrair e fidelizar clientes, os bancos digitais colocaram em curso um movimento recente de oferecer produtos não financeiros. Na Frente Corretora, fintech de câmbio, a iniciativa é parecida: a companhia vem firmando parcerias estratégicas para aumentar a quantidade de potenciais clientes, disponibilizando a transação de moedas junto a empresas de outros setores.
Fundada em 2016, desde então a empresa utiliza tecnologia para encarar a concorrência no setor, ainda concentrado nos grandes bancos do país. Hoje, permite que outras companhias ofertem serviços de câmbio por meio da Simple, sua plataforma white-label, e negocia moedas diretamente com a Câmbio Online, operadora 100% digital.
Entre as parcerias firmadas recentemente, figuram nomes como PicPay, o super app com mais de 70 milhões de clientes, sendo 30 milhões ativos mensais, a Órama Investimentos, corretora que soma mais de 300 mil contas ativas, e a Smiles, programa de fidelidade da Gol que contabiliza 21,4 milhões de usuários.
“Cada vez mais o mercado e o consumidor prezam pela conveniência e conforto em um bom relacionamento. Essa nossa estratégia está muito baseada no B2B2C, com bases de usuários de empresas para oferecer nossos serviços”, diz William Kerniski, head de marketing e estratégia digital da Frente Corretora, em entrevista ao Finsiders.
No pipeline, conversas com outras empresas do segmento de fidelidade estão em estágio avançado — os nomes não foram revelados. De acordo com William, em um parceiro como a Smiles, que possui um fit com viagens, o serviço de câmbio para consumo é uma das demandas para quem vai comprar passagens, junto com o agendamento de hotel e aluguel de carro, por exemplo.
Na Smiles, ele diz que a compra de moedas tem um ticket médio elevado, o que é maior no PicPay — e ambos contam com um volume “interessante”. “Há muitos consumidores nessas bases que são qualificados e estão fazendo muitas remessas. A abertura de contas digitais está fazendo com que o brasileiro faça o envio de valores para fora”, afirma o executivo. Além de viagens, os estudos e investimentos de brasileiros no exterior também estão na mira da companhia.
Desta forma, a fintech alcançou 4.663 operações no primeiro trimestre deste ano, mais do que o dobro comparado com as 1.968 do período entre janeiro e março de 2022. Em 2023, foram movimentados US$ 223 milhões, alta de 852% frente ao primeiro trimestre do último ano. Só em março, foram US$ 166 milhões em volume transacionado.
“O mercado se transformou profundamente nos últimos anos e os nossos investimentos em time, tecnologia e parcerias são respostas para atender mais e melhor nossos clientes, com soluções de câmbio completas que são facilmente integradas a outras plataformas. Acompanhar essas mudanças faz a diferença e traz resultados sólidos” diz Ricardo Baraçal, CEO da Frente Corretora.
Para diversificar as fontes de receita diante da ausência das atividades de turismo na pandemia, a empresa focou esforços para acelerar a Simple nos últimos anos. Por meio de sua white-label, pôde fazer a expansão junto a parceiros como a MoneyGram, companhia que trabalha com o envio de remessas internacionais online e desde dezembro disponibiliza câmbio com a Simple no Brasil.
Com esses passos, a Frente Corretora saiu de uma receita que era 45% baseada no turismo, antes da pandemia, para um patamar entre 12% a 15% atualmente. Em outras palavras, passou a depender menos do faturamento oriundo do turismo. “Não fomos os únicos a crescer, mas nós crescemos um pouco mais, porque nos preparamos melhor [para este momento]”, diz William.
Disputa crescente
Segundo dados do Banco Central, a compra de moedas movimentou US$ 1,73 trilhão em 2022. Assim, esse mercado trilionário vem atraindo cada vez mais a atenção de bancos digitais, fintechs e demais instituições.
Os nomes incluem players bem-estabelecidos como Remessa Online (do Ebanx) e a britânica Wise — que vem ampliando sua atuação no mercado local nos últimos anos.
Quem também avança no segmento é a Avenue, corretora norte-americana de investimentos focada no público brasileiro, que tem o Itaú e o SoftBank no captable. Na quarta-feira (17), a fintech recebeu autorização do BC para operar com câmbio direto na sua plataforma.
Outro que está forte na disputa é o banco digital BS2. Há seis anos, o BS2 firmou uma parceria com a fintech de câmbio Abrão Filho. Em dezembro, as partes estabeleceram um acordo comercial de exclusividade. Não está descartada a possibilidade do banco mineiro se tornar acionista da fintech.
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