Há cerca de seis meses, o grupo GCB, holding especializada no mercado financeiro e de capitais fundada por Gustavo Blasco, anunciou uma reorganização de suas empresas. Com o movimento, a operação de investimentos tradicionais — que reúne consultoria, gestora de recursos e securitizadora — foi consolidada no guarda-chuva GCB Investimentos. Já as fintechs do grupo, Adiante e PeerBR, passaram a ter uma vertical própria, batizada de GCB Ventures.
Agora, para crescer esses negócios, o grupo está anunciando a chegada de Marcos Barros. Com experiência em crédito e negócios digitais, o executivo vinha liderando desde 2015 a transformação do banco BV, onde trabalhou por mais de 11 anos. Lá, ele foi um dos responsáveis por erguer o banco digital da instituição que tem como acionistas o Banco do Brasil (BB) e a família Ermírio de Moraes.
Após quatro meses de ‘garden leave’, Marcos acaba de assumir como CEO da GCB Ventures. Sua missão é levar as duas fintechs do grupo a outro patamar, fazendo-as crescer e aparecer mais. “Vamos trabalhar para tornar as duas plataformas [Adiante e PeerBR] mais relevantes. Isso pode se materializar com um IPO, ou com aportes mais relevantes de novos investidores”, diz o executivo ao Finsiders. É a primeira entrevista concedida por ele para falar sobre os planos e a estratégia da GCB Ventures.
No crédito, a busca pela rentabilidade
No caso da Adiante, fintech de antecipação de recebíveis para pequenas e médias empresas (PMEs), um dos grandes desafios é encontrar a “fórmula da rentabilidade” na base atual de clientes. Por exemplo, apesar de ter atualmente mais de 110 mil empresas cadastradas na plataforma, apenas 1 mil são ativas. “É uma base suficiente para trabalharmos e tirar aprendizados. A partir daí, quando entendermos isso bem, vamos falar de escala e replicar o modelo. Não temos pressão de crescer muito rápido a qualquer custo.”
Criada em 2018, a Adiante utiliza tecnologia para tornar digital o processo de desconto de duplicatas. O negócio, que naturalmente tem sofrido com o cenário de crédito no Brasil, tem a seu favor a regulação recente das chamadas duplicatas eletrônicas (ou escriturais), que passou a valer desde 1º de setembro. Marcos enxerga as regras com bons olhos, no entanto, diz que o impulso para o crescimento da fintech não deve vir daí — pelo menos por ora.
“O regulador teve um aprendizado com o mercado de recebíveis de cartão, que foi num esquema meio ‘big bang’, e com as duplicatas está decidindo fazer algo mais gradual”, afirma o CEO. “Como questão sistêmica, vai trazer mais segurança para esse mercado. Mas também entendo que não dá para esperar que isso aconteça. Até porque pode demorar para ter efeito no nosso público-alvo de empresas, que são duplicatas de valores menores.”
Parceria com grande banco
De acordo com o executivo, uma das estratégias da Adiante é explorar novas avenidas de crescimento, como levar toda a infraestrutura e tecnologia da fintech para outras empresas, inclusive financeiras. A Adiante tem hoje mais 200 parceiros, incluindo sistemas de gestão empresarial (ERPs), softwares de gestão financeira e de contabilidade. Entre eles, estão nomes como Conta Azul, vhsys e Accesstage.
Nessa frente ‘as a service’, inclusive, Marcos revela que a Adiante está em negociação avançada com um dos quatro maiores bancos do país. “Podemos fazer parte da esteira de um grande banco, ajudando a melhorar um serviço prestado para o cliente dele, levando infraestrutura e até uma interface e experiência melhor para o usuário”, diz o executivo, porém sem abrir detalhes sobre o acordo.
Regulador abre as portas para a tokenização
Se no crédito o crescimento vai levar algum tempo para se materializar, no ‘business’ de investimentos alternativos a expansão pode ser mais rápida, segundo Marcos. “No negócio de crédito, tem uma restrição que é não poder errar a mão. Temos vários exemplos de fintechs que pararam no meio do caminho porque erraram nesse movimento. Isso é muito comum, principalmente no mercado de PMEs”, aponta o executivo. Além do BV, em sua carreira ele também atuou com crédito no Unibanco e no Bank of Boston.
O principal combustível para a PeerBR ganhar força é a regulação favorável. A plataforma de tokenização de ativos foi a segunda empresa — a primeira foi a AmFi, conforme o Finsiders revelou no mês passado — a obter aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operar no modelo de crowdfunding e, portanto, seguindo as regras dessa modalidade, previstas na Resolução CVM 88.
“Uma vez autorizados pela CVM, significa que podemos ir ao mercado com mais liberdade de oferta”, resume Marcos. A PeerBR, que conseguiu a licença em 15 dias com apoio da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), já emitiu as primeiras operações que totalizaram mais de R$ 18 milhões. “Temos um pipeline interessante de captações de, no mínimo, R$ 50 milhões até o fim do ano”, diz o CEO.
Próxima revolução será no mercado de capitais
Segundo ele, o leque de possibilidades de novos produtos é amplo. Vai desde tokens de recebíveis mercantis — servindo como canal de distribuição da Adiante — até certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs), debêntures, passando por precatórios e cotas de consórcios. “Além do desafio de criar novos produtos, precisamos traduzir a linguagem do mercado de capitais para um público novo.
Na visão do executivo, o acesso está sendo destravado no mercado de capitais. Ou seja, produtos que antes eram voltados para investidores institucionais, qualificados e profissionais começam a chegar ao público em geral. Um exemplo recente nesse sentido é a abertura dos FIDCs para investidores de varejo, o que é permitido com a regulamentação dos fundos, em vigor desde o início do mês.
“Seja no lado do crédito, com as regras novas para os FIDCs, seja na nova regulamentação de crowdfunding, vai-se criando um arcabouço regulatório mais aberto”, aponta Marcos. Dessa forma, ele enxerga uma grande transformação no mercado de capitais. “Nos últimos 10 anos, houve uma revolução em meios de pagamento com a 12.865 [que criou as instituições de pagamento, IPs], depois a teve a chegada das fintechs de crédito [SCDs e SEPs]. Acho que os próximos 10 anos serão de uma revolução no mercado de capitais.”
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