Denise Ramiro
Com capital próprio dos sócios – o advogado Daniel Gonçalves e o contabilista e administrador de empresas Wolney Borba, ambos de Porto Alegre – o LeftBank se considera um banco com causa. A fintech abriu as portas no final de 2020, com de R$ 500 mil de investimento, para atender um mercado potencial de 60 milhões de pessoas que se consideram politicamente de esquerda ou de centro. Em menos de um ano, já conseguiram conquistar três mil clientes que abriram suas contas na instituição, entre pessoas física e jurídica. E agora, a fintech está de mudança para São Paulo, quer estar no centro financeiro do país.
“A ideia surgiu quando constatamos na sociedade brasileira um grupo de empresários brasileiros de extrema direita, o que levou as pessoas de esquerda a começarem a criar uma lista negativa de empresas, com as quais não queriam se relacionar”, conta Marco Maia, diretor geral do LeftBank. Diante desse cenário, a estratégia do LeftBank foi apostar em outra direção, criando uma lista positiva, formada por pessoas e empresas com visão progressista. Torneiro mecânico de formação e político de carreira, Maia cumpriu quatro mandatos de deputado federal, inclusive com a presidência da Casa.
“Hoje, o Left não é mais apenas uma fintech, mas um ecossistema de serviços financeiros, formado por pequenas empresas constituídas através de parcerias”, diz Maia. Uma delas é a LeftFone, uma operadora virtual de telefonia móvel (MVNO), na sigla em inglês, uma categoria que está crescendo no país. Assim como uma empresa de seguros de carro, o Left Assistência 24 horas e o Left Seguros de Vida e Saúde, em parceria com a Mag Seguros, do Rio de Janeiro.
Mais dois lançamentos estão saindo do forno na próxima semana. Um é o Left Mais, um clube de benefícios com cashback, descontos nas principais lojas e comércios que tenham na sua essência comportamento adequado do ponto de vista da defesa dos direitos humanos, da ciência e do respeito às minorias.
O outro projeto é o PIX Cobrança LeftBank, que disponibilizará uma plataforma de acompanhamento, de controle para o comércio e empresas que quiserem utilizar o sistema de geração de boletos – segundo Maia com preço acessível, menos de um real por PIX emitido. Ainda neste ano, deve chegar ao mercado o Left Pay, a maquininha de pagamentos para o vendedor, o comerciante. No início do ano, o LeftBank vai iniciar suas operações com concessão de crédito.
Púbico alvo e causas sociais
Antes de abrir o negócio, o LeftBank realizou uma pesquisa, em 2019, para saber quem era o público progressista, seu comportamento de consumo e seus valores.
Foram ouvidos 1.019 entrevistados em todo o território nacional, pessoas com renda familiar entre dois e 15 salários mínimos (classes C e B), com pelo menos uma conta corrente ou poupança em banco, das quais 17% se declaram de esquerda e 10% de centro esquerda. Uma das perguntas da pesquisa, por exemplo, era sobre o armamento da sociedade. O entrevistado foi questionado, por exemplo, se o seu banco apoiasse entidades a favor do armamento da sociedade, você trocaria de instituição? Para 83% do público que se diz de esquerda, seria um motivo para trocar de banco, contra 18% do público que se declara de direita. A pesquisa foi repetida agora, dois anos depois, e os 60 milhões potenciais clientes se mantiveram.
“A pesquisa foi nos dando essa clareza de que tem gente com ideologia no mundo e disposta a apostar num banco que tenha propósito, com uma bandeira mais progressista”, diz Maia. Está também no radar da fintech a criação do Instituto Left, que vai destinar 20% das receitas do banco para incentivar as lutas dos movimentos sociais e as grandes causas do país.
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