Daniel Orlean*
Ao mesmo tempo em que milhões de brasileiros acessam aplicativos e contas digitais para aplicar recursos do FGTS em fundos de investimento, tornando-se sócios da Eletrobrás, soa contraditório a discussão sobre um projeto de lei que torna obrigatória a abertura de agências físicas por bancos digitais. De acordo com a proposta do deputado estadual Dionísio Lins, os bancos digitais deveriam estar presentes em municípios em que possuam mais de 5 mil correntistas.
De fato, trata-se de um enorme contrassenso. Qual a capacidade que as fintechs, que têm ajudado a impulsionar a bancarização no país, têm de sustentar estruturas físicas sem comprometer a sua capacidade de investimento em inovação? De que forma a lei não reduziria vantagens competitivas em relação a grandes conglomerados financeiros?
Contas e bancos digitais foram responsáveis pela abertura de mais de 288 milhões de contas nos últimos anos, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Enquanto os bancos tradicionais reduziram a presença física e intensificaram o movimento de digitalização, principalmente durante a pandemia de Covid-19.
Navegando nas redes, com recursos desenvolvidos a partir do alcance de aplicativos de mensagens, as contas digitais ampliaram sua presença geográfica. A verdade é que se a tecnologia ajuda a ampliar a bancarização dos brasileiros, ela não tem sido suficiente para intensificar o uso de produtos financeiros. O brasileiro que, com o celular por meio dos recursos de voz, supera até mesmo os assustadores indicadores de analfabetismo funcional, ainda é carente de educação financeira.
Do crédito aos seguros, passando por investimentos, cashback e cartões de crédito, a tendência é que bancos e instituições financeiras se tornem cada vez mais Figitais, ou seja, que unam o físico ao digital, com a proposta de atrair os clientes millennials e da geração Z, cujos objetivos são diferentes de outras gerações.
Nesse contexto, as fintechs devem desenvolver seu lado Figital, aproveitando suas capacidades únicas. No contato direto com os clientes, é possível apresentar e recomendar os produtos financeiros mais apropriados para cada um dos públicos alvo, seja este uma antecipação de recebíveis ou para o parcelamento de faturas.
Por exemplo, uma operação de crédito tradicional, na qual a taxa de juros já é calculada na liberação do recurso, ou um cartão de crédito pré-pago, por exemplo, no qual os juros só incidem sobre o que é efetivamente antecipado.
A verdade é que, com criatividade e inovação, não existe limite para o crescimento do Figital, mas não por força de lei.
*Co-CEO da Voltz, fintech do Grupo Energisa