Guilherme Meibak*
O mercado de investimentos voltados a startups, em especial fintechs, tem apresentado uma mudança de paradigma nos últimos meses. Vários negócios já começaram a se adaptar, outros estão encolhendo e alguns estão até desaparecendo.
Se até o ano passado os investimentos eram abundantes para as startups agora o pêndulo virou e o cenário é outro. Com capital mais escasso, os fundos estão seletivos, buscando empresas já estabelecidas e lucrativas ou perto de estarem. Ou seja, os investidores estão em busca de companhias sólidas e reconhecidas, com produtos testados, com boa taxa de retorno e que apresentam claras vantagens competitivas.
Mas, com “fintechzação” dos últimos dois anos, como diferenciar entre as empresas qual é o melhor investimento? Das que brilhavam no passado recente, quais seguem ganhando tração?
Com o capital farto e disponível no mercado, é mais difícil manter a disciplina, o que pode levar empresas a alocar de forma ineficiente os recursos financeiros e também humanos. As fintechs que vão vencer o jogo são aquelas que fizeram a “lição de casa”, mirando a sustentabilidade e a longevidade.
Ao contrário do que se imagina, os “unicórnios” brasileiros levaram em média 15 anos para atingirem US$ 1 bilhão de valuation. Ainda que olhando para a frente, espera-se que esse fenômeno aconteça em um curto espaço de tempo, por conta da velocidade de adoção da tecnologia e do mais rápido processo de internacionalização dessas empresas.
É importante entender quais são as características gerenciais destas empresas de tecnologia que podem passar a segurança que o mercado procura atualmente.
Se antes empresas com crescimento meteórico eram vistas com um certo deslumbre, hoje isso mudou – espera-se uma rota de crescimento planejada, que pode ser lenta, mas deve ser necessariamente segura e estruturada. O mercado tem apontado que o caminho mais certeiro é aquele que aposta no crescimento consistente a longo prazo.
É uma realidade muito diferente do que víamos nos últimos 24 meses, quando percebíamos que algumas empresas cresciam sua carteira de clientes através de subsídios e incentivos não sustentáveis. Uma vez que esses incentivos são retirados ou não mais possíveis, ficou claro como a demanda de seus produtos e serviços não existia ou era muito menor do que se imaginava.
Hoje, há um movimento que, ao que tudo indica, é estrutural. Para se manter vivo no mercado, vai ser preciso oferecer diferenciais competitivos, rentabilidade, produtos com demanda real e sem subsídios.
Os valores que permeiam todo o modelo de negócio da empresa também são fundamentais para seguir no ranking da maratona das startups: um time disciplinado e com cultura estruturada, que desenvolve serviços avançados e apresenta qualidade na entrega.
Por último, é importante salientar que o novo olhar do mercado não tem mais divisão geográfica, o que facilita a internacionalização de fintechs brasileiras. Entre os locais que mais recebem investimentos estão Ásia e Estados Unidos e, ao marcar presença nestes mercados, as oportunidades de atrair investidores só aumentam.
No entanto, as empresas mais atrativas para os fundos de investimentos são as que dominam uma tecnologia capaz de se expandir para o exterior com qualquer sistema regulatório e em qualquer moeda, sem causar nenhum impacto estrutural.
Ou seja, para o investidor, quanto mais escaláveis, competitivas, e aplicáveis em vários países no mundo forem as soluções, menor o seu risco.
*Diretor de Relações Institucionais do FitBank