O BC deu o trilho do Pix, agora os participantes precisam desenvolver os casos de uso. Quem inovar mais, vai liderar o mercado. Esse foi o principal recado dados pelos especialistas que participaram do Lyncas Talks, realizado no dia 26/11. O evento reuniu especialistas para debater a evolução do Pix, destacando o impacto das instabilidades e os desafios tecnológicos e estratégicos para as instituições financeiras.
Outro ponto também veio à tona: a disponibilidade do sistema. Lembra, da falha recente no sistema do Banco Central que deixou o Pix fora do ar por horas em outubro? Naquele momento lembramos todos que até um dos mais populares métodos de pagamento do Brasil está sujeito a erros. “Você tem que esperar pelo melhor, mas estar preparado para o pior”, alertou Reinaldo Le Grazie, ex-diretor de política monetária do BC, durante o debate.
Em quatro anos, o Pix se tornou indispensável no Brasil. Segundo a Febraban, deve movimentar neste ano R$ 27,3 trilhões, quase 60% a mais do que em 2023. No entanto, sua popularidade trouxe consigo novas demandas e riscos. “O maior pesadelo para qualquer instituição financeira é acordar e descobrir que nada está funcionando”, afirmou Reinaldo. Ele destacou que, embora o sistema tenha sido projetado para ser robusto, as falhas são inevitáveis. “Fraudes e indisponibilidades vão acontecer. O que diferencia uma instituição de outra é o preparo para responder a esses cenários.”
Novidades
Renan Corrêa, gerente de TI e Produtos Digitais do A27 Bank, reforçou o impacto das falhas na percepção do consumidor. “Hoje, o cliente tem várias opções. Uma instabilidade frequente pode significar perda de credibilidade e de mercado. O segredo está em redundâncias e em processos bem testados”, disse. Washington Souza, arquiteto especialista em finanças da Lyncas, completou: “A tecnologia brasileira está entre as mais avançadas, mas precisamos de monitoramento constante e de sistemas escaláveis para atender às demandas crescentes.”
O debate também abordou as novidades previstas para o Pix, como o Pix por aproximação, Pix agendado e Pix Garantido. Reinaldo destacou que o BC cumpriu seu papel ao criar a estrutura básica, mas que agora a responsabilidade pela inovação é das instituições financeiras. “O trilho está dado. Cabe aos participantes do mercado desenvolverem produtos que sejam convenientes e relevantes para os consumidores”, afirmou.
Renan complementou: “As modalidades do Pix vão muito além do que o Banco Central inicialmente imaginou. O Pix por aproximação, por exemplo, pode substituir o uso do cartão físico em muitos casos.” Ele também mencionou o Pix Garantido, que deve competir diretamente com o cartão de crédito ao permitir pagamentos parcelados, desde que o cliente tenha saldo ou uma linha de crédito pré-aprovada pelo banco.
Washington destacou a importância da criatividade na oferta de novos produtos. “Já vemos bancos permitindo que o recebedor receba via Pix, enquanto o pagador parcela no cartão de crédito. São essas inovações que determinam quem lidera o mercado”, disse.
Preocupações
Com o avanço do Pix, surgem também novas modalidades de fraudes, exigindo atenção redobrada. “O sistema é tão vulnerável quanto qualquer outro no mercado financeiro”, afirmou Reinaldo, destacando que a proteção de dados e a cibersegurança precisam ser prioridades absolutas. Renan concordou: “Qualquer incidente de segurança pode ser devastador para a reputação de uma instituição. É crucial estar um passo à frente dos criminosos.”
Washington ressaltou o papel da observabilidade no combate a fraudes. “Hoje, precisamos monitorar cada interação do cliente em tempo real, identificando padrões e prevenindo comportamentos anômalos. Isso é essencial para proteger tanto o consumidor quanto a instituição”, explicou.
Pix e Drex: revoluções paralelas
Outro ponto de destaque foi a relação entre o Pix e o Drex, a moeda digital do Banco Central, ainda em desenvolvimento. Reinaldo explicou que, enquanto o Pix é focado no varejo, o Drex transformará o mercado de ativos financeiros. “O Drex não concorre com o Pix. Ele será usado para transações complexas, como contratos inteligentes e trocas de bens de alto valor. É uma evolução que só agora se tornou viável devido à tecnologia disponível”, afirmou.
Washington alertou para os debates políticos e sociais em torno do Drex. “Uma moeda gerida integralmente pelo governo levanta questões sobre privacidade e controle. É uma discussão que ainda precisa amadurecer”, disse.
Sustentabilidade e custos
O encontro também abordou os custos crescentes para manter o Pix operacional. Segundo a Febraban, as instituições financeiras tiveram um aumento de 8% nos gastos com tecnologia entre 2022 e 2023. “O equilíbrio entre inovação, segurança e custo é o maior desafio. Afinal, nenhuma empresa joga dinheiro para o alto”, disse Renan.
Washington destacou o papel da computação em nuvem para reduzir custos e melhorar a escalabilidade. “Hoje, 78% das operações digitais no Brasil já estão em cloud. Isso permite que as instituições expandam seus serviços sem aumentar proporcionalmente os gastos com infraestrutura física.”
Reinaldo reforçou que o mercado brasileiro está na vanguarda dos pagamentos digitais. “O que estamos fazendo aqui é pioneiro. Mas a evolução exige resiliência, criatividade e a capacidade de lidar com crises, porque elas vão acontecer.”
Revolução silenciosa
Encerrando o evento, os especialistas concordaram que o Pix ainda está longe de atingir todo o seu potencial. “Estamos vivendo uma revolução silenciosa no mercado financeiro”, afirmou Reinaldo. Renan acrescentou: “Quem não acompanhar essa evolução vai perder espaço. A inovação é a única forma de se manter relevante em um mercado tão dinâmico.”
O Lyncas Talks deixou claro que o futuro do Pix será marcado por avanços tecnológicos, novos produtos e desafios constantes. Para consumidores e empresas, a mensagem é clara: o sistema continuará a evoluir, e com ele, as oportunidades e os riscos.