FRAUDES DIGITAIS

"Estamos sempre um passinho atrás" dos fraudadores, diz BC

Juliana Sandri, do Departamento de Supervisão de Conduta do Banco Central (BC), falou em evento da Febraban

Juliana Mozachi Sandri/Banco Central
Juliana Mozachi Sandri/Banco Central | Imagem: print de tela

A troca de informações rápidas e precisas entre instituições financeiras e órgãos reguladores é o caminho mais eficaz para reduzir fraudes no sistema financeiro brasileiro. A conclusão é dos especialistas que participaram de painel no 2º Congresso de Prevenção e Repressão a Fraudes, Segurança Cibernética e Bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) nesta terça-feira (11/3).

Os números das fraudes preocupam o setor, e os criminosos estão sempre um passo à frente. “A gente sempre está um passinho atrás [dos fraudadores], sempre está correndo atrás do prejuízo”, reconheceu Juliana Mozachi Sandri, chefe do Departamento de Supervisão de Conduta do Banco Central (BC).

A velocidade das transações digitais tornou os golpes mais sofisticados e difíceis de rastrear, especialmente no caso das chamadas “contas laranjas“, abertas por intermediários para movimentar dinheiro ilícito. “Identificar essas contas antes que elas sejam usadas é um dos grandes desafios”, afirmou Adriano Volpini, diretor de Segurança Corporativa do Itaú Unibanco.

O painel destacou que, apesar dos avanços na regulação e supervisão, os criminosos se adaptam rapidamente. Ricardo Vieira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), lembrou que a entrada de novas empresas no setor financeiro aumentou a competitividade, mas algumas não tinham maturidade suficiente em práticas como “conheça seu cliente” (KYC, na sigla em inglês) e prevenção à lavagem de dinheiro. “O Banco Central percebeu isso e vem escalando as regras de supervisão para que todos caminhem para uma maturidade maior”, explicou.

Pix, cartões e o impacto da regulamentação

O Pix, que completou quatro anos, foi um divisor de águas na digitalização dos pagamentos e também na forma como as fraudes acontecem. “A gente teve isso com cartão no passado, depois com boletos. Agora, as fraudes se adaptaram ao Pix, e o desafio é seguir evoluindo”, disse Juliana, do BC. Segundo Ricardo, da Abecs, não é o Pix que causa as fraudes, mas sim o fato de surgir em um cenário onde já existiam milhões de contas laranjas.

“No mundo do cartão presente, o nível de fraude no Brasil é um dos menores do mundo, cerca de 1,3% em valor”, disse Ricardo. No entanto, ele ressaltou que as fraudes no comércio eletrônico (cartão não presente) ainda são uma preocupação, e que o mercado tem buscado novas formas de proteção, como autenticação reforçada.

Crime digital e a importância da prevenção

Além dos golpes tradicionais, os especialistas alertaram para uma nova fronteira das fraudes: os ataques digitais. “Quanto mais conseguirmos entender como o ataque digital se transforma em fraude, mais poderemos agir de forma antecipada”, destacou Adriano, do Itaú. Ele defendeu que times de segurança cibernética e prevenção à fraude trabalhem de forma mais integrada.

O impacto desses crimes vai além das perdas financeiras dos bancos. Adriano citou um caso recente em que uma pessoa foi condenada por ceder sua conta a fraudadores por R$ 2 mil. “Ela movimentou cerca de R$ 20 mil. A mensagem que precisa ficar é que as consequências existem”, alertou.

Ricardo também chamou atenção para os golpes por telefone, que aumentam a desconfiança dos clientes em relação às instituições. “Recebo pelo menos 20 ligações por dia de supostas centrais bancárias. Isso compromete a credibilidade dos canais legítimos”, afirmou. Para ele, além das instituições financeiras, as operadoras de telefonia deveriam ter um papel mais ativo na regulação desse tipo de fraude.

Integração entre bancos e reguladores

A Resolução Conjunta nº 6, que regulamenta o compartilhamento de dados sobre fraudes entre bancos, foi apontada como um avanço. “Ela abriu uma frente que há anos tentávamos construir no setor privado”, disse Ricardo. A medida permite que instituições financeiras compartilhem informações sobre suspeitos de fraudes, o que ajuda a bloquear criminosos antes que eles migrem de um banco para outro.

No entanto, Juliana destacou que a regulação por si só não basta. “O Banco Central não pode dizer para as instituições olharem só um tipo de dado. Elas precisam considerar todas as informações disponíveis, porque fraude é muito mais do que lavagem de dinheiro”, afirmou.

E embora as fraudes nunca sejam totalmente eliminadas, a troca de informações e a modernização das estratégias de prevenção são fundamentais para minimizar os impactos. “O sistema financeiro é tão forte quanto seu elo mais fraco. Precisamos garantir que esse elo esteja cada vez mais sólido”, disse Juliana.