SEGURANÇA DIGITAL

"Dado sobre fraudes não pode ser diferencial competitivo"

Opinião é de Thais Nolasco, cofundadora da Data Rudder, empresa de antifraude que responde por 10% das transações via Pix no Brasil

Thais Nolasco/Data Rudder
Thais Nolasco/Data Rudder | Imagem: divulgação

Quando o assunto é fraudes, a acirrada competição no setor financeiro precisa dar lugar à colaboração para se combater um inimigo comum, cada vez mais frequente, criativo e veloz. Essa é a visão de Thais Nolasco, cofundadora e responsável por Operações (Chief Operating Officer, COO) da Data Rudder, startup especializada em antifraude, cuja plataforma já responde por 10% do número de transações via Pix no Brasil.

“Dado de fraude não pode ser diferencial competitivo, mas [algo que] possa ser utilizado pelo máximo de instituições possível para mitigar problemas no setor financeiro. Diferencial competitivo precisa ser produto, serviço”, diz a empreendedora, quando perguntada se existe um receio de as instituições compartilharem informações sobre tentativas e indícios de fraudes com outros players, inclusive concorrentes.

Para ela, há uma mudança de mentalidade em curso no setor que advém da implementação da Resolução Conjunta nº 6, do Banco Central (BC), em vigor desde novembro de 2023. A norma determina o compartilhamento de dados e informações sobre indícios de fraudes entre instituições financeiras, de pagamento e demais autorizadas a funcionar pelo regulador. “O regulador apertou o cerco e isso ajudou a destravar algumas barreiras”, avalia Thais.

De fora da resolução do BC, ao menos por enquanto, a indústria de cartões trabalha desde o ano passado em uma iniciativa própria de gestão unificada de fraudes. O projeto é da Abecs, associação que representa mais de 95% do setor de meios eletrônicos de pagamentos. A plataforma Watchlist, desenvolvida pela Data Rudder, é parte desse esforço da entidade. O sistema entrou em operação para o mercado como um todo (associados e não associados à Abecs) no começo de 2025.

Colaboração

“Não existia até agora um sistema colaborativo para o setor de cartões. A Watchlist consolida indícios de fraudes com cartão de crédito, assim como irregularidades de maneira geral no arranjo de cartões”, explica ela. “É um ecossistema colaborativo para compartilhamento e consumo dessas informações, incluindo bandeiras, emissores e adquirentes (credenciadoras).”

Com adesão voluntária das empresas de cartões, a Watchlist já tem a participação de grandes instituições, diz Thais. Ela explica que, por contrato, não pode abrir o nome das companhias. “Fizemos a liberação da plataforma por ondas – primeiro para a diretoria da Abecs, depois para as associadas e no começo do ano, abrimos para o mercado como um todo.”

De acordo com Beatriz Lima, responsável por Dados (Chief Data Officer, CDO) da Data Rudder, a plataforma opera com níveis de acesso distintos, conforme o tipo de player – bandeira, emissor ou credenciador. “Cada um desses segmentos pode ver até certo ponto a informação. E dentro da aplicação, também existem diferentes níveis de acesso para usuários”, explica. Ou seja, as instituições definem quais áreas ou profissionais podem incluir, editar ou apenas visualizar as informações.

O Watchlist é uma das iniciativas mais recentes da Data Rudder, que no ano passado também estreou no mercado de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD-FT), a pedido dos seus próprios clientes, conta Thais. A solução faz o acompanhamento em tempo real das movimentações financeiras de cada cliente, identificando operações atípicas e transações com perfil de lavagem de dinheiro nas contas correntes.

Trajetória

Entre os planos até o fim do ano, Thais destaca a meta de aumentar o volume transacionado nas soluções da Data Rudder, assim como conquistar instituições de maior porte. “Começamos focando em empresas do middle [market]. Agora estamos indo para grandes players, com 400 milhões de transações por mês”, diz a empreendedora.

De acordo com a cofundadora, o foco da empresa desde o início foi desenvolver soluções com tempo de resposta extremamente rápido. “Começamos lá atrás para responder em até 200 milissegundos se uma transação era fraudulenta ou não. Esse tempo de resposta é um dos nossos principais diferenciais.”

Fundada em 2018 em Florianópolis (SC) por Thais e Rafaela Helbing, a Data Rudder se especializou no Pix, mas não se restringe a ele. As soluções detectam risco transacional em operações também com TED, boleto e cartões. De janeiro a abril deste ano, a empresa afirma ter evitado R$ 4 bilhões em prejuízos com fraudes via Pix.