Ailton Aquino/BC | Imagem: print de tela
Ailton Aquino/BC | Imagem: print de tela

O uso de Inteligência Artificial (IA) no Sistema Financeiro Nacional (SFN) está crescendo de forma acelerada, oferece diversos benefícios. Mas também traz consigo uma série de desafios, riscos e preocupações. É o que aponta uma pesquisa do Banco Central (BC), que consta do “Relatório de Estabilidade Financeira (REF)” do primeiro semestre de 2025.

Em coletiva de imprensa para apresentação do documento, o diretor de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, destacou que uma das principais preocupações em relação ao uso de IA é a chamada “caixa-preta” dos modelos. “Em alguns modelos de IA, não se consegue explicar como os resultados são produzidos”, disse ele. Além disso, aspectos como vieses dos modelos, governança e qualidade dos dados também preocupam o BC. Segundo Aquino, esses temas são fonte de discussões de bancos centrais mundo afora.

“Recentemente, eu estive numa grande instituição brasileira para tentar compreender como é que eles vêm utilizando IA nos seus processos de gestão de risco, modelagem, auditoria interna. E nós percebemos claramente que ainda há riscos relevantes a serem tratados”, afirmou o diretor do BC. Na opinião dele, o Brasil ainda precisa avançar numa regulamentação sobre IA. “Outras jurisdições já avançaram nesse sentido e nós precisamos pensar algo”, defendeu.

Riscos e benefícios

Conforme a pesquisa, entre os principais riscos apontados pelas instituições estão risco legal e de não conformidade (66%), operacional (52%) e má qualidade de dados (45%). O menos citado, curiosamente, foi risco de terceiros ou prestadores de serviço, mencionado por 18% das instituições.

De acordo com o levantamento, os maiores bancos (S1 e S2) lideram em adoção de IA, enquanto os outros segmentos de bancos (S3 e S4) há disparidade no uso dessa tecnologia, “evidenciando que a maturidade tecnológica, a capacidade de investimento e a disposição de uso de IA variam mesmo entre instituições bancárias. Já nas Instituições de Pagamento (IPs) – classificação para muitas das fintechs – e cooperativas, a adoção é baixa, conforme a pesquisa. Isso sugere, segundo o BC, “restrições operacionais ou menor prioridade tecnológica”.

Fonte: Apresentação REF 1º semestre de 2025/Banco Central

Outro dado que chama atenção é que a maioria das instituições reguladas ainda não utiliza modelos de IA em soluções e serviços de Tecnologia da Informação (TI). Segundo o levantamento, 26,7% das instituições empregam modelos de IA em suas soluções de TI. Para o BC, isso “sugere que, embora o tema esteja em pauta, sua incorporação ainda não é generalizada”.

Em relação aos benefícios com o uso de IA, a maioria (95,7%) das instituições menciona o aumento da eficiência. Em seguida vêm redução de custos (73,5%) e melhoria na tomada de decisões (72,2%). Outros efeitos positivos mencionados incluem melhor avaliação da instituição pelos clientes (39,5%), aumento da receita financeira (32,7%) e a maior precisão nas previsões financeiras (32,1%). “Apesar dos benefícios da IA, sua expansão enfrenta barreiras como falta de capacitação, custos de implementação e limitações na qualidade dos dados”, escreveu o BC.

Regulamentação da IA no Brasil

No REF, a autarquia justifica o levantamento citando a tramitação do Projeto de Lei 2.338, de 2023, com princípios voltados à governança da IA. “O objetivo estratégico é antecipar o entendimento de práticas e riscos e subsidiar a formulação de eventuais regulamentações específicas”, diz o relatório.

Segundo Aquino, o BC não planeja, por ora, uma regulação específica para IA, mas continuará com o tema no radar. “Continuamos estudando, avaliando e fazendo pesquisa junto ao sistema financeiro.”

A pesquisa foi realizada entre fevereiro e março de 2025, com 606 instituições reguladas. Elas representam, aproximadamente, 38% das instituições autorizadas a funcionar pelo BC e 96% dos ativos do SFN na data-base de dezembro de 2024.