
Desde fevereiro, clientes podem utilizar o Pix na boca do caixa aproximando o celular da maquininha de pagamentos. A modalidade, entretanto, parece enfrentar alguns desafios. Conforme análise da consultoria GMattos, o Pix por Aproximação esbarra em restrições de uso em celulares com o sistema operacional iOS (iPhone) devido à incompatibilidade com a carteira Apple Pay. A modalidade, segundo o estudo, não oferece benefícios quando comparada ao pagamento por aproximação por cartões de débito.
Gastão Mattos, cofundador, CEO da GMattos e um dos principais especialistas em meios de pagamentos no Brasil, faz uma provocação em relação ao Pix por Aproximação ao ressaltar a baixa adesão à funcionalidade. “Pix por Aproximação é um zero à esquerda. É uma solução excelente para um problema que não existia, as pessoas não estavam querendo usar o Pix por Aproximação”, opina.
Para ele, a funcionalidade não decolou, porque quem já paga com cartão de crédito ou débito por aproximação não vai fazer um novo processo de integração na carteira mobile para o Pix. “O princípio do Pix é a universalização, mas, no caso do Pix por Aproximação, não é universal. Quem tem um celular com sistema iOS não consegue fazer diretamente da carteira mobile, é impossível incluir o Pix”, ressalta.
A baixa mobilização, de acordo com a consultoria, pode ser explicada por operar apenas em celulares Android. “Embora o iOS tenha participação de apenas 22% nos aparelhos distribuídos no Brasil, sua participação transacional é mais do que proporcional, podendo chegar a 40% do volume gasto por meio das carteiras mobile”, observa o relatório.
Para pagamento à vista por aproximação, o estudo da GMattos aponta, ainda, que o consumidor não percebe motivos para migrar do cartão de débito para o Pix por Aproximação. “Não existe incentivo (descontos ou outras vantagens) no comércio presencial, tal qual o observado nas compras online”, destaca a consultoria.
NFC
No mundo físico, o pagamento por aproximação acontece porque há dispositivos habilitados com a tecnologia NFC (do inglês Near Field Communication), que possibilita o pagamento sem contato, explica Marcelo Martins, CEO e fundador do Iniciador, fintech especializada em infraestrutura de Open Finance e soluções de Pix. O modelo vale para as transações feitas por aproximação com cartão em sistemas de ponto de venda (POS, do inglês point of sale), local em que o cliente efetivamente finaliza a compra com o estabelecimento, como no caso das maquininhas, e com o Pix por Aproximação.
“O NFC que permite o pagamento por aproximação de cartões, crédito e débito, é utilizado pelo Pix. Quando eu quero pagar com Pix, a maquininha emite o NFC e consigo encostar o celular com sistema Android na maquininha. O sistema Android traduz aquela informação que veio do NFC e vai para o Google Pay”, detalha Marcelo.
No início do ano, quando o Pix por Aproximação foi implementado, nem todas as maquininhas apresentavam o NFC para essa transação. “Agora, talvez aproximadamente 20% das maquininhas não tenham liberado ainda o NFC para pagamento por Pix”, diz o CEO do Iniciador.
Na prática, Marcelo ressalta que o Pix por Aproximação ainda está restrito ao sistema Android, porque a Apple não liberou amplamente as APIs que podem fazer capturar o NFC em POS.
API é a sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação. Na prática, é um conjunto de regras e protocolos que permite que diferentes softwares e sistemas se comuniquem e interajam entre si.
Nos trilhos do Open Finance
Os pagamentos via Pix por Aproximação estão diretamente ligados à funcionalidade chamada Jornada Sem Redirecionamento (JSR). Essa pavimentação teve início em agosto de 2024, com a publicação das Resoluções BCB 406 e BCB 407. Essas normas regulamentam serviços de iniciação de transação de pagamento sem redirecionamento no Open Finance, como o Pix por Aproximação.
A partir da JSR, o usuário autoriza uma única vez a conexão do Google Pay com o banco e estabelece limites para a operação. Isso acontece no ambiente do Open Finance. “Estou com a minha carteira do Google Pay e vou comprar algo em alguma loja. Então aparece o botãozinho do Google Pay lá, é só clicar e pagar com o meu Pix, porque eu conectei anteriormente. A partir desse momento, basta confirmar a transação dentro do Google Pay”, explica Marcelo.
Para que a transação do Pix por Aproximação seja bem-sucedida, o sistema no ponto de venda, como maquininhas, precisa ter o NFC embarcado. Essa tecnologia vai possibilitar a apresentação do QR Code para que o cliente aproxime seu celular e conclua a operação. Para quem efetua o pagamento, é preciso ter uma carteira digital conectada com a tecnologia do Open Finance na JSR, a exemplo do Google Pay.
Desconhecimento
Além das questões tecnológicas, a baixa adesão ao Pix por Aproximação está atrelada ainda ao desconhecimento da tecnologia no ponto de venda. Marcelo, do Iniciador, observa que muitas vezes nem o vendedor sabe que é possível efetuar a transação por Pix com a aproximação do celular.
“No ponto de venda, ainda não é falado para o cliente que é possível pagar com aproximação no Pix. As pessoas que estão na frente do caixa nem sabem que é possível encostar o celular e pagar por Pix Aproximação. Falta educação por parte de quem coloca a solução no caixa, empresa de pagamento ou da máquina de cartão. Precisa levar essa educação ao vendedor.”
Fabio Montanari, CEO da Montanari Tecnologia, avalia que, para o usuário, o Pix por Aproximação pode funcionar melhor em transações com tíquetes mais baixos. “No caso do lojista, a funcionalidade pode oferecer menos fricção na fila de pagamento, com gestos iguais ao contactless e custo transacional de Pix”, observa.