Imagem gerada por InnerAI
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É, meus amigos, chegamos ao final de mais um ano – mais um ciclo. Para muitos, o período passou rápido, mas posso dizer que tivemos acontecimentos de dois anos (ou mais) em apenas um. E os impactos serão sentidos com certeza nos próximos anos. O ano de 2025 consolidou-se como um divisor de águas na história do ecossistema financeiro brasileiro. Marcou o encerramento da fase de expansão desgovernada e o início de um ciclo definido pela maturidade regulatória e pela eficiência operacional compulsória.

As fintechs brasileiras, que durante a última década navegaram em um “oceano azul” de desintermediação bancária e abundante liquidez de capital de risco, enfrentam agora um cenário de “mar revolto”. Este novo ambiente se caracteriza por taxas de juros persistentemente elevadas, com a Selic orbitando a casa dos dois dígitos, um escrutínio fiscal e regulatório sem precedentes por parte do Banco Central (BC) e da Receita Federal, e a necessidade imperativa de integrar Inteligência Artificial (IA) Generativa não como artifício de marketing, mas como motor de solvência e sobrevivência.

A minha tese é que o “mercado de meio” deixará de existir até o final de 2026. Assim, sobreviverão apenas os grandes ecossistemas consolidadores (super apps com licença bancária) e os especialistas de nicho (fintechs verticais em agro, saúde e infraestrutura). As operações generalistas de médio porte, incapazes de arcar com os custos exponenciais de conformidade impostos pelas novas resoluções de 2025, serão absorvidas ou liquidadas

O ano de 2026 marcará a transição definitiva das fintechs brasileiras do modelo “startup de garagem” para corporações financeiras maduras. Na prática, a pressão combinada de reguladores e investidores está forçando uma “troca de pele” na gestão dessas empresas. O improviso criativo cede lugar à disciplina processual.

Governança

Ao projetarmos o cenário para 2026, todos os vetores — regulatórios, tecnológicos e macroeconômicos — apontam para uma seleção natural regulatória. O impacto combinado das regulações implementadas em 2025 criará um ambiente onde a escala e a eficiência de conformidade serão os determinantes de vida ou morte corporativa.

Até 2024, muitas fintechs cresceram explorando zonas cinzentas da regulação (ex: BaaS com controles frouxos, cripto sem reporte fiscal, assimetrias tributárias). Em 2026, essas janelas estarão hermeticamente fechadas.

Túlio Iannini/TribeX | Imagem: reprodução LinkedIn

O aumento do Custo de Aquisição de Cliente (CAC) somado ao aumento exponencial do Custo de Servir (CTS) — devido às exigências de PLD, segurança e reporte — tornará inviável a operação de players pequenos. Fintechs de médio porte que não conseguirem automatizar 100% de seu compliance via IA, por exemplo, serão absorvidas por conglomerados maiores ou encerrarão atividades. O “mercado de meio” tende a desaparecer.

Com o mercado generalista dominado por gigantes (Nubank, PicPay, Mercado Pago, Inter e grandes bancos), a oportunidade de ouro em 2026 reside na verticalização profunda. Os exemplos de setores incluem agronegócio, saúde e condomínios.

Liderança

A era da gestão puramente intuitiva e centralizadora, muitas vezes liderada pelos fundadores originais, está encontrando seu limite. Para 2026, observa-se uma forte tendência de profissionalização do C-Level. Investidores de Venture Capital estão exigindo a contratação de executivos seniores (muitos oriundos de bancos tradicionais ou multinacionais) para posições críticas. Entre elas, Chief Risk Officer (CRO), Chief Compliance Officer (CCO) e Chief Financial Officer (CFO).

A complexidade da Resolução 4.966 e das novas normas de criptoativos não permitem mais “aprendizado na prática”. O mercado disputa a peso de ouro profissionais que dominem regulação prudencial e modelagem de risco. Os salários para cargos de direção nessas áreas podem chegar a R$ 86 mil mensais em 2026.

Operar sem uma estrutura de governança formal tornou-se um risco existencial. As novas regras de capital mínimo e responsabilidade solidária em parcerias (BaaS) implicam que a falta de supervisão pode levar à liquidação da empresa e responsabilização pessoal dos administradores.

  • Conselhos independentes: mesmo fintechs de médio porte (com rodadas de investimento Séries B/C) estão sendo pressionadas a instituir conselhos com membros independentes. O objetivo é mitigar conflitos de interesse e garantir que a estratégia de “crescimento sustentável” prevaleça sobre a tentação de “crescimento a qualquer custo”.
  • Fim da terceirização de licenças em BaaS: o modelo de negócios em que fintechs operavam puramente “alugando” a licença regulatória de terceiros sem estrutura própria de compliance tornou-se inviável. A profissionalização exige que, ou a fintech obtenha sua própria licença (como fez o Nubank buscando licença bancária plena para 2026), ou estabeleça uma estrutura interna de controle espelhada na do parceiro bancário.

Riscos cibernético e climático

O risco cibernético sistêmico será o tema central no próximo ano. Com a interconectividade total proporcionada pelo Open Finance, Pix e futuramente o Drex, um ataque bem-sucedido a um elo fraco da cadeia (como uma pequena fintech de BaaS) pode contaminar grandes instituições. Dessa forma, a governança de cibersegurança será a pauta número 1 dos conselhos de administração em 2026. Por sua vez, o regulador exigirá planos de resposta a incidentes compartilhados e testes de estresse cibernético recorrentes.

Além disso, a agenda ESG (sigla em inglês para aspectos ambientais, sociais e de governança) deixará de ser um item de marketing institucional para se tornar um requisito de capital prudencial. O BC deve integrar riscos climáticos de forma mais agressiva nos cálculos de requerimento de capital (Basileia III), penalizando carteiras expostas a setores ambientalmente nocivos. E todos nós sabemos que ESG é sobre dinheiro. Então, as empresas devem priorizar o tema, pois aumenta consideravelmente a sustentabilidade de produção de riqueza pelas empresas.

Em resumo, se o período de 2020 a 2024 foi caracterizado pela inovação permissiva e sandboxes regulatórios, o biênio 2025-2026 marca a entrada na era da supervisão intensiva. O BC, a CVM e a Receita orquestraram um conjunto de normativas que redefinem as barreiras de entrada, elevam o custo de conformidade e eliminam zonas cinzentas de arbitragem regulatória.

(Texto adaptado de publicação no LinkedIn)

*Cofundador da TribeX; antes, fundou a U4C, fintech comprada pela Okto