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Topaz, techfin do Grupo Stefanini, aposta no “novo Cosif” para crescer; em 2023, previsão é atingir receita de R$ 800 milhões

Parece distante, mas será? As novas normas de contabilidade bancária instituídas pela Resolução 4.966/21, conhecidas no mercado financeiro como ‘novo Cosif’,  passam a valer integralmente em 2027. Porém, segundo Frank Fujisawa, diretor do Topaz, já exigem providências imediatas por parte das instituições financeiras – de bancos tradicionais a fintechs. E os impactos não serão simplesmente nos balanços, mas principamente no dia a dia dos negócios.

A techfin do Grupo Stefanini aposta parte do seu crescimento nos próximos anos exatamente na prestação de serviços para a adaptação dos clientes à nova regra. Já em 2023, por exemplo, prevê receitas acima de R$ 800 milhões – mais de 10% do total projetado pelo Grupo Stefanini (ver box), que tem participação em outras 30 empresas.

O processo não será trivial – tanto que o setor pediu e o Banco Central adiou a implantação, que inicialmente era para estar concluída em 2025. E mesmo com o adiamento, a partir de janeiro do ano que vem já há etapas a serem cumpridas. E o Topaz, especialista em “core bancário”, quer puxar essa fila e surfar a crista da onda.

Risco de crédito

Fujisawa explica que a partir do ano que vem, bancos atuantes no Brasil que são sociedades anônimas – cerca de 20% deles – vão ter que começar a fazer duas contabilidades em paralelo, para se preparar para a mudança.

Mas não é só.

“A mudança de regra contábil impacta diretamente quase todos os serviços financeiros vigentes, exigindo que o setor foque nas adaptações necessárias. Isso pode incluir revisão de políticas e até mesmo uma reorganização da estrutura de operações monetárias”, revela Fujisawa. Segundo o executivo, a área de crédito é a que vai sentir o maior impacto, pois a resolução visa exatamente reduzir o risco de crédito das instituições.

Na prática, o desafio para os bancos é compreender como operar de maneira adequada e em larga escala o risco de crédito, considerando novas variáveis que não eram levadas em conta anteriormente. “O ideal é que tudo isso seja realizado em uma esteira produtiva que garanta governança e segurança com o mínimo de esforço”, diz o diretor.

Segundo ele, o passo é gigantesco. “Com a Resolução 4.966/21 o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central estão renovando o modelo de práticas contábeis que vigora no Brasil há 50 anos. Será uma verdadeira revolução – dos profissionais e dos sistemas”, acredita.

Jabuticabas

A primeira tentativa do BC de implantar as normas internacionais de contabilidade (conhecidas pela sigla em inglês IFRS) para o setor financeiro no Brasil data de 2010. Na época todas as sociedades anônimas precisaram adotar a regra, depois de um longo caminho de adaptação.

Mas, como explica Fujisawa, o mercado financeiro nacional é cheio de “jabuticabas” – particularidades que só têm aqui  – principalmente na área de crédito.

O ‘novo Cosfi’ busca, exatamente, aproximar o Brasil das normas mundiais, em especial do IFRS 9 – que classifica, reconhece, mensura e provisiona instrumentos financeiros. Mas, respeitando as nossas ‘jabuticabas’.

“É esperado que a convergência, ainda que adaptada às condições locais, dê mais segurança aos investidores, órgãos reguladores internacionais e agentes do mercado ao proporcionar maior transparência de resultados, lucros e prejuízos”, diz o executivo.

Mas, devido às “jabuticabas”, não seria possível apenas aplicar diretamente a regra internacional ipsis literis. É preciso adaptá-la e testá-la – por isso essa fase de transição.

Torre de finanças

Atualmente, a Topaz, que nasceu no Uruguai, está em 25 países, tem mais de 2 mil colaboradores e 291 clientes entre bancos e corretoras digitais; como “fintechs”, atende PagBank, Neon, Rappi Bank (na Colombia), Banco Inter, Nubank (NuInvest), XP, Banco Original e Agibank, entre outros.

O Topaz é uma das seis empresas na “torre” de finanças da Stefanini: as outras são a Orbitall Payments (de Banking as a Service e processamento de cartões); Saque e Pague (cash in/cash out); In Lira e New M (consórcios); e LogBank (de maquininhas de cartão). Nesta última, da qual a Positivo acaba de comprar uma fatia minoritária, a Stefanini tem apenas uma pequena participação.

Stefanini prevê faturar R$ 7 bi com aposta forte em IA

O Grupo Stefanini prevê fechar 2023 com um faturamento superior a R$ 7 bilhões. Segundo o fundador e CEO Marco Stefanini, o grupo pretende investir até 2026 cerca de R$ 1 bilhão em M&A. Isto é o dobro do que foi direcionado para a área no último triênio. Parte desse valor também vai para o desenvolvimento de novos produtos e serviços com IA generativa.

“Há mais de 12 anos trabalhamos com Inteligência Artificial por meio da nossa venture Woopi, que criou a assistente virtual inteligente Sophie. O surgimento do ChatGPT e de modelos similares deram uma chacoalhada no mercado, porém nossa experiência em IA permitiu agir rápido”, afirma o CEO.

Para atender às diversas demandas por IA, a Stefanini afirma que tem mais de mil ferramentas para apoiar as equipes internas no desenvolvimento de soluções. Uma vez testadas, são aplicadas às soluções da Stefanini. Isso representa um upgrade no portfólio de ofertas da companhia – Aplicações, Banking, Cyber, Data Science, Digital Workplace, Manufatura, Marketing Digital e Vendas, entre outras.

“Antes da nossa solução de IA generativa chegar ao cliente, testamos internamente em várias áreas. Entre elas, estão atendimento ao cliente, desenvolvimento de software, marketing e recursos humanos. Isso possibilitou às equipes trabalharem melhor e mais rápido, além de oferecerem uma camada extra de credibilidade. Afinal, as soluções de IA levadas ao mercado comprovaram sua eficiência previamente”, explica Alex Winetzki, CEO da Woopi e diretor de P&D da Stefanini.

Uma pesquisa do Gartner mostrou que 45% das empresas estão em modo piloto com a IA generativa e 10% colocaram soluções em produção. O aumento é significativo em relação a abril de 2023, quando apenas 15% dos estavam testando IA generativa e 4% estavam em produção. Os números mostram que as organizações não estão apenas falando sobre IA generativa – elas estão investindo tempo, dinheiro e recursos para avançar e gerar resultados.

A Stefanini é um grupo global de origem brasileira com 36 anos de atuação no mercado de tecnologia. Está atualmente em 41 países, e atua em mais de nove setores (veja quadro abaixo).