MERCADO

Como estão as fintechs brasileiras listadas em bolsa com o vaivém do 'tarifaço' de Trump

Levantamento da Elos Ayta Consultoria traz o comportamento do valor de mercado de Nubank, Inter, Stone, PagBank e XP neste ano

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Imagem: Canva

A trégua de 90 dias dada por Donald Trump ao tarifaço imposto a países que exportam aos Estados Unidos parece ter melhorado a percepção geral de pânico que tomou conta do mercado financeiro nos últimos dias. Ainda assim, com o vaivém de decisões do presidente norte-americano, tudo pode mudar – hoje, amanhã e depois. E o embate com a China ganha um novo capítulo dia após dia. Mas e as fintechs com isso?

Ainda que não se possa estabelecer uma relação direta entre a trégua dada por Trump na guerra comercial e o comportamento das maiores instituições financeiras digitais brasileiras, dá para perceber que até elas não passaram incólume nessa última semana em que os mercados ficaram em pânico.

Com exceção do Nubank, que recuperou quase US$ 3,1 bilhões em valor de mercado, Inter, PagBank, Stone e XP tiveram desvalorização em sete dias. A XP foi a que mais perdeu no período: US$ 450 milhões. O Inter, por sua vez, teve variação negativa de US$ 152 milhões. Já as duas credenciadoras, Stone e PagBank, tiveram as menores perdas no intervalo – US$ 96 milhões e US$ 40 milhões, respectivamente.

Os dados fazem parte de levantamento de Einar Rivero, CEO da Elos Ayta Consultoria, a pedido do Finsiders Brasil. A análise aponta o valor de mercado dessas fintechs brasileiras e norte-americanas em três períodos: início do ano (2/1), posse de Trump (20/1) e uma semana após o tarifaço (9/4).

Considerando o período desde a posse de Trump, em 20/1, somente o Nubank apresentou desvalorização nesse intervalo maior. Apesar da retomada na última semana, o banco digital ainda registrou diminuição de quase US$ 3 bilhões no valor de mercado até 9/4. Inter, Stone, PagBank e XP tiveram variações positivas no período [veja tabela abaixo].

Fonte: Elos Ayta Consultoria

Percepção melhor

A queda do Nu, no entanto, é bem inferior ao tombo de três grandes fintechs norte-americanas estão tendo neste ano. Apesar da recuperação na última semana, todas veem uma redução do valor de mercado desde a posse de Trump: PayPal (-US$ 28,7 bilhões), Robinhood (-US$ 5,2 bilhões) e Affirm (-US$ 4,1 bilhões).

Na visão de Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, além dos aspectos macroeconômicos, existem questões específicas relativas ao mercado de atuação (trading, crédito, pagamentos) que podem explicar o comportamento do valor de mercado das fintechs brasileiras em comparação às norte-americanas.

“Talvez também tenha uma percepção melhor quanto às oportunidades, e até relativa à percepção de subavaliação de ações de fintechs latinoamericanas. Isso pode ter impulsionado a posição dos compradores desses papéis”, analisa.

Com o vaivém das decisões do presidente norte-americano, tem sido cada vez mais difícil prever o que será das fintechs. Porém, há uma certeza, pelo menos no curto prazo…

IPOs: um sonho distante

A volatilidade nos mercados congelou os planos de fintechs que pretendiam abrir capital nas bolsas dos EUA. Em meio ao cenário instável, por exemplo, Klarna, Circle, eToro e Chime decidiram adiar seus IPOs.

No Brasil, a última operação desse tipo ocorreu lá no saudoso ano de 2021. Com o ambiente de juros elevados, a tendência é que a janela para IPOs continue fechada por mais tempo.

“No Brasil, essa instabilidade global pode prolongar a espera por novas aberturas de capital, especialmente para fintechs que buscam valuations favoráveis. Empresas podem optar por aguardar condições de mercado mais estáveis antes de prosseguir com IPOs”, diz Bruno.