O que as fintechs precisam fazer para conquistar a geração Z, cerca de 50 milhões de brasileiros que têm hoje entre 13 e 28 anos? A resposta pode estar em um antigo slogan das Lojas Marisa, “De mulher pra mulher”. Com mais de 30 anos de idade, ele continua atual: nada melhor do que falar “de igual para igual” com seu público.
O recado foi dado no dia 27/9 por três empreendedores na casa dos 25 anos – Daniel Ruhman (CEO na fintech Cumbuca, de pagamentos compartilhados), Manoella Neves (Founder da Cocria Sales, de tecnologia de vendas por WhatsApp) e Petrus Arruda (COO na fintech NG.CASH, voltada a jovens), que conversaram com Stéphanie Fleury (Conselheira na ABFintechs) sobre o tema no painel “Gerações Nativas Fintechs“, no encerramento do Fintouch 2023.
Agora que essa geração Z está efetivamente no mercado e vai dar o tom do consumo de produtos e serviços – inclusive financeiros – nos próximos anos, quem não entender o que eles querem e como querem vai ficar para trás.
Para eles, offline não existe. São assumidamente imediatistas, querem comprar com facilidade, sem fricção; e já partem do principio de quer ser digital é o mínimo. “A régua subiu, banco sem taxa e sem fila é default. Nenhuma fintech mais vai ganhar a geração Z tirando a gente da fila“, diz Ruhman.
Renda & consumo digital
Stéphanie lembra que a velocidade e quantidade de acesso à informação aumentam a expectativa por experimentação. Além disso, a internet vem permitindo que diferentes classes de renda acessem serviços da mesma forma. “Hoje, o jovem pode não querer uma conta no banco, mas quer assistir um streaming, jogar online, chamar um Uber ou pedir iFood. E sem conta não dá”, diz, comparando uma conta digital hoje a um celular nos anos 1990. “Quem não tem, está fora do mercado”.
“O lado bom de tudo isso é que no final do dia todos estão assistindo os mesmos conteúdos no Youtube, independentemente do colégio onde estuda, da renda familiar ou do meio de transporte que usa. Nossa missão é democratizar o acesso ao dinheiro digital, sem barreiras de tarifas e taxas”, diz Arruda.
A Cumbuca nasceu para facilitar a tarefa de dividir despesas compartilhadas, como um final de semana na praia, pizza ou aluguel de um coworking com a família e/ou amigos. “Estamos na fase de digitalizar dinheiro. Tem questões de segurança? Sim, mas desde o email já enfrentamos isso”, afirma Ruhman.
Para Manoella, falar a língua dos jovens é fundamental. Hoje, por exemplo, eles não querem mais falar no telefone: “O WhatsApp acabou com o 0800. E existe um dialeto próprio para o WhatsApp, que é diferente das redes sociais. Qualquer empresa que se relaciona com clientes hoje precisa entender isso”.
Autenticidade
Para Arruda, da NG, um empreendedor da geração Z que vende para clientes da geração Z entrega autenticidade, além dos produtos e serviços, o que ele considera muito importante. “Por exemplo, nosso aplicativo já nasceu com a função dark mode, não foi preciso discutir se deveria ou não deveria ter. O usuário Z gosta, e o empreendedor Z sabe. Nosso produto foi feito pela gente pra gente. Quem sabe das dificuldades e dores é o usuário. Esse conhecimento vale mais do que personalizar de fora para dentro”.
Mas, e quando essa geração ficar mais velha? Como esses empreendedores vão continuar atendendo bem as novas gerações alpha, beta…?, provoca Stéphanie. “Vamos crescer com nossos clientes. Nosso foco não é atender jovens, mas atender a geração Z”, diz Arruda.
Apesar disso, eles admitem que a diversidade etária é importante – e as empresas precisam endereçar o desafio inter geracional que existe hoje. Cumbuca e NGCash, por exemplo, têm gente de 50 a 60 anos nos times – principalmente para “lidar com investidor e regulador”.
“O ideal é pegar o melhor de cada geração. Nunca tive carteira de trabalho assinada. Não consigo nem imaginar dress code, hora de entrada e de saída. O que vale é a entrega, não a forma de falar e vestir”, conclui Ruhman.