CONCORRÊNCIA

O que explica a corrida dos bancos digitais brasileiros no México

Mercado Pago, Nubank, Revolut e até o tradicional Bradesco estão com apetite para crescer no país latinoamericano

México - Imagem: Emir Saldierna/Unsplash
México - Imagem: Emir Saldierna/Unsplash

Quem conhece o mínimo da cultura e culinária do México, sempre se lembra dos saborosos tacos, burritos, guacamole, tequila e, claro, da lendária artista Frida Kahlo, ou ainda da festa do “dia de los muertos”. Sem falar no atemporal seriado “Chaves”. Mas quando o assunto é finanças digitais, a segunda maior economia da América Latina ainda possui altos níveis de desbancarização e uso de dinheiro em espécie. 

Não à toa, dois dos maiores bancos digitais brasileiros — Nubank e Mercado Pago — estão renovando o apetite para crescer no México, onde já são líderes. Instituições tradicionais como o Bradesco também estão de olho na oportunidade de incluir financeiramente mais mexicanos. Até o britânico Revolut, que busca ganhar espaço no Brasil, anunciou recentemente sua entrada no México. 

Com um PIB de US$ 1,81 trilhão, o país ocupa a segunda posição entre as maiores economias latinoamericanas. Fica atrás apenas do Brasil, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). O peso mexicano está entre as moedas da região que mais se valorizaram em relação ao dólar nos últimos meses. Por lá, o ecossistema de fintechs também está “bombando”. Em 2023, chegou a 773 empresas, alta de 18,9% em relação ao ano anterior. Também só perde para o Brasil. 

Considerando as mais de 217 companhias estrangeiras em operação no México, o número se aproxima de 1 mil negócios no mercado de fintechs, de acordo com dados de um levantamento da plataforma de inovação Finnovista, em conjunto com a Visa. A maior parte das companhias atua em empréstimos, pagamentos e remessas, e tecnologias para instituições financeiras.

Concentração bancária

Apesar do avanço recente, a penetração dos neobanks no México é de apenas 15% da população, ou 19 milhões de usuários ativos, conforme levantamento do Bank of America (BofA). Para analistas do banco, o cenário é semelhante ao do Brasil seis anos atrás. Ainda assim, o crescimento por lá é mais “suave”. Enquanto aqui, entre os anos 2018 e 2020, os downloads mensais de aplicativos de fintechs saltaram de 90% a 160% ao ano, no México o ritmo de expansão está entre 10% e 30% anualmente

“Além disso, pudemos rastrear pelo menos nove neobanks com mais de 500 mil downloads por mês no Brasil até o final de 2019, em comparação com apenas dois no México: Mercado Pago e Nubank”, escreveram os analistas Mario Pierry, Antonio Ruette, Flavio Yoshida e Ernesto Gabilondo.

Outra característica interessante do mercado mexicano, aponta o relatório, é a concentração nas mãos de duas instituições — Mercado Pago e Nubank. Considerando também o PayPal, os três nomes abocanham quase 80% dos usuários ativos mensais de aplicativos bancários no México, segundo a análise recente do BofA.  

De acordo com estudo publicado nesta semana pelo banco norte-americano, o Mercado Pago atingiu 6,8 milhões de usuários ativos mensais em abril. Já o Nubank contabilizou 4,5 milhões. Porém, o banco do cartão roxo é quem vem liderando a adição de novos usuários. 

À espera da licença

Para o Nubank, o México é o maior foco da expansão internacional. A fintech fundada por David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible desembarcou no país em 2019. Atualmente, reúne mais de 7 milhões de clientes e vem ampliando os produtos e serviços. Em abril, anunciou um aumento de capital de US$ 100 milhões para a Nu México, sua no país latino.

Por lá, o Nu ainda aguarda uma licença bancária para acelerar o crescimento da operação. Em setembro de 2021, o neobank também comprou a fintech local Akala, que já era autorizada como Sociedad Financiera Popular (Sofipo), uma modalidade de instituição financeira no país — um “passo anterior” do aval para operar como um banco completo. 

Nesta semana, foi a vez do Mercado Pago divulgar que planeja obter uma licença bancária no México. “A oportunidade é fenomenal. Vemos no México o que aconteceu no Brasil na última década, onde houve um enorme aumento no acesso a serviços bancários, pagamentos eletrônicos e crédito”, disse Osvaldo Gimenez, presidente do Mercado Pago, em entrevista à “Bloomberg News”.

‘Sinal verde’

Quem já saiu na frente nessa corrida pelos “bolsos” dos mexicanos é o britânico Revolut, com mais de 40 milhões de clientes ao redor do mundo. No início de abril, a fintech anunciou que recebeu ‘sinal verde’ da Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV) para atuar como instituição bancária múltipla no México. 

Em nota à imprensa na ocasião, o Revolut diz que contratou um time local e se prepara para o processo de auditoria realizado pelas autoridades. Esse é um passo anterior ao início das operações locais. “Finalmente, os mexicanos terão um banco digital que oferece uma variedade de serviços em um único aplicativo”, afirmou Juan Miguel Guerra, diretor-geral da Revolut México.

Mas não são apenas os bancos nativos digitais que estão interessados em uma fatia do mercado mexicano. Em fevereiro, o Bradesco recebeu licença para avançar em sua estratégia de banco digital no país. O aval veio meses depois da compra da compra da plataforma Ictineo pela Bradescard México, subsidiária do banco no país.

Enquanto no Brasil os bancos digitais vivem uma onda de consolidação, definindo os prováveis “vencedores” de uma corrida que começou anos atrás, no México a maratona só está começando. A ver como serão os próximos quilômetros.