
Depois do sucesso absoluto como meio de pagamento no Brasil, o Pix promete provocar uma “revolução silenciosa” também no mercado de crédito. A previsão é de Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central (BC). Nessa direção, ele deu como exemplos o Pix em Garantia, uma das novas funcionalidades em desenvolvimento pelo BC, com previsão de lançamento no biênio 2026/27. Também nesse horizonte está o Pix Duplicata, que beberá da fonte do potencial trilionário mercado de duplicatas escriturais (ou eletrônicas).
O Pix em Garantia, na prática, permitirá que lojistas usem recebíveis futuros do Pix como garantia em operações de crédito. A modalidade é o paralelo, no arranjo Pix, do chamado “crédito fumaça” que é atrelado a recebíveis de cartão de crédito. Já o Pix Duplicata possibilitará às empresas pagarem suas duplicatas escriturais por meio do sistema instantâneo. Apesar de não ter sido comentado por Gomes durante a transmissão, há uma grande expectativa para a divulgação das regras do Pix Parcelado. A modalidade já é disponibilizada por diversos bancos e fintechs, mas não há um padrão na oferta.
“Talvez não seja tão óbvio da concepção original do Pix ou não saltem aos olhos, mas existem alguns produtos que vão causar uma revolução silenciosa no mercado de crédito e pagamentos no Brasil”, disse Gomes. Ele participou da “LiveBC” sobre os cinco anos do Pix nesta terça-feira (11/11). O sistema de pagamento instantâneo completa o quinto aniversário no próximo domingo (16/11).
Em relação ao Pix em Garantia, o diretor do BC reconheceu a complexidade no desenho dessa solução. “É o tipo de produto que mobiliza diversas bases de dados simultaneamente. Quando você está falando de um meio de pagamento como cartão de crédito, que liquida 30 dias depois, você estabelece um sistema de recebíveis. E criar essencialmente um mercado de recebíveis já tem certo grau de complexidade. Quando leva isso para um arranjo de liquidação instantânea, como é o Pix, a coisa se torna mais complexa. E você não pode atrasar o Pix por causa disso”, explicou.
Ao responder sobre a predominância do boleto nas transações entre empresas (B2B), Gomes apontou que o Pix Duplicata pode contribuir para a redução no uso desse tradicional instrumento de cobrança. “Quando estiver na praça, acho que vai ser mais um passo na direção de menos utilização do boleto. O Pix tem liquidação imediata, o Pix Duplicata vai permitir uma base centralizada. Vai ter uma série de propriedades que tornarão o boleto menos interessante e relevante”, disse Gomes. Para ele, haverá uma transição gradual.
Aceitação
O diretor do BC lembrou também que existem “propriedades legais” que o Pix Cobrança hoje não tem. Por exemplo, os boletos podem ser executados, citou ele. “E isso o Pix não herda imediatamente. Então, isso é uma limitação, e o boleto tem essa vantagem comparativa. Mas as coisas estão já se confundindo, pois muitas instituições já oferecem o boleto com QR Code para pagamento via Pix, o chamado ‘Bolepix‘. Então, acredito que, com o tempo, essas fronteiras vão se dissipando.”
Gomes observou, ainda, que o Pix vem ganhando cada vez mais espaço como meio de pagamento aceito por lojistas. O recebimento instantâneo justifica a preferência, mas os custos também. Segundo o diretor do BC, hoje os comerciantes pagam, em média, algo como 0,3% para receber via Pix. “Se você compara isso, por exemplo, às tarifas de cartão de débito, elas estão em 1,1%, 1,2%, em média. Em comparação ao cartão de crédito, o Pix é ainda mais barato. Então, aceitar o Pix como PJ não é algo particularmente custoso. Dependendo do segmento das PJs, as instituições nem cobram porque a concorrência é muito grande”, disse.
Ao fazer um balanço com números e impacto do Pix nos cinco anos, o diretor do BC enfatizou que o sistema de pagamento instantâneo substituiu principalmente o dinheiro de papel. “O grande inimigo do Pix é o dinheiro em espécie”, disse Gomes. “A logística de distribuição do dinheiro é gigantesca e muito custosa”, complementou ele. Além disso, o Pix derrubou o número de saques no País – caiu cerca de 35% entre 2020 e 2024, segundo ele.
>> Acompanhe nas próximas semanas uma série de reportagens especiais sobre a evolução e e os novos passos do Pix.