NOVA FASE

Quatro anos após venda para fintech da Americanas, Nexoos volta a ter vida própria

Fintech de crédito fechou acordo para recomprar os ativos de tecnologia e a marca que haviam sido adquiridos em 2021 pela Ame Digital

Murilo Bassora e Daniel Gomes/Nexoos
Murilo Bassora e Daniel Gomes/Nexoos | Imagem: divulgação

Comprada em 2021 pela Ame Digital, a Nexoos voltou a ter vida própria, apurou o Finsiders Brasil. A fintech de crédito fechou um acordo para recomprar os ativos de tecnologia e a marca que haviam sido adquiridos há quatro anos pela fintech da Americanas. A operação, cujos termos são privados, foi concluída recentemente.

Ao mesmo tempo, também no ano passado, a Nexoos pediu ao Banco Central (BC) o cancelamento da mudança de controle de sua instituição financeira, a Nexoos Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). A transação estava sob análise do BC desde que a Ame anunciou a compra da fintech. Porém, não chegou a receber o sinal verde do regulador.

Em conversa com o Finsiders Brasil, o co-fundador e CEO, Daniel Gomes, confirmou as informações, mas não abriu detalhes sobre o negócio costurado com a Ame. De acordo com Daniel, a fintech fundada por ele e Murilo Bassora passou por uma reestruturação ao longo de 2024. Agora está pronta para voltar a crescer.

Foco em CaaS

O foco principal é o Credit as a Service (CaaS). A fintech passou a experimentar esse modelo de negócio em 2020, quando sua operação de crédito para pequenas e médias empresas (PMEs) no formato peer-to-peer (P2P) sofreu o impacto da pandemia. Nessa frente de serviços, a Nexoos tem 12 clientes, incluindo companhias dos setores como agronegócio e energia solar. Do início de 2024 até agora, com o avanço do CaaS, a receita da Nexoos cresceu mais de cinco vezes, diz o CEO.

A solução pode ser contratada por módulos, que incluem processo de onboarding, esteiras de análise de risco de crédito, além de emissão de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) e plataforma de monitoramento e cobrança. A Nexoos oferece o serviço e a infra tecnológica, mas não assume o risco de crédito. “O risco de crédito é do nosso parceiro”, explica Daniel.

Quando uma empresa passa a usar a solução de CaaS e não tem uma fonte de financiamento (funding), a fintech também pode conectá-la a players de mercado. Isso inclui, por exemplo, gestoras que operam Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).

Mesmo com a intensa concorrência nessa arena de infraestrutura em serviços financeiros e crédito, Daniel acredita que a Nexoos está mais do que preparada para ganhar mercado com o CaaS. “Tem muita empresa que oferece a tecnologia, mas não tem o know-how de crédito, e isso nós temos”, argumenta ele.

Consignado privado no radar

Segundo o CEO, a maior parte das iniciativas é para crédito com garantia, como recebíveis de cartões. “O crédito clean (sem garantia) foi praticamente extinto”, brinca Daniel. Ele vê oportunidade, por exemplo, no novo consignado privado, modalidade lançada pelo Governo Federal em março. A implementação das duplicatas escriturais também pode ajudar a destravar o crédito para as PMEs, na visão dele.

“No caso do novo consignado privado, avaliar o risco do empregador é tão importante quanto o risco do trabalhador. E nisso temos experiência, analisando PMEs”, diz. “Estamos começando a ver como funciona [a integração com a Dataprev], mas queremos ser o CaaS do consignado privado”, diz Daniel.

Perguntado sobre o negócio de P2P que deu origem à Nexoos em 2016, Daniel diz que a operação segue ativa. “Não diria que o P2P não pegou no Brasil, mas sim que é um produto nichado, para um perfil de investidor”, avalia ele. Desde o início da empresa, a Nexoos soma R$ 1 bilhão em operações de crédito e já analisou mais de 700 mil CNPJs, segundo Daniel.

Contexto

A Nexoos não foi a única fintech comprada pela Ame que tomou outro rumo após a fraude contábil bilionária da Americanas, que culminou com a recuperação judicial da varejista. No ano passado, a empresa vendeu a Parati Financeira para a fintech de consignado meutudo.

Ainda em 2024, a Americanas informou o encerramento das atividades da plataforma de serviços financeiros Ame e colocou sua Instituição de Pagamento (IP) regulada à venda.

Procurada pelo Finsiders Brasil para comentar sobre a Nexoos, a Americanas confirmou a saída da fintech do grupo. Em nota, disse que a parceria se desfez em 2024, “em meio ao plano de transformação da companhia iniciado em 2023”.