Com 39 milhões de CPFs que já deram consentimento para compartilhar os dados entre instituições financeiras, o Open Finance no Brasil é um caso de sucesso. Não é à toa: trata-se do maior ecossistema desse gênero no mundo. Ainda assim, há um grande desafio do Banco Central (BC) e dos players em expandir o alcance desse tema para a população em geral. O próprio regulador reconhece isso.
“O Open Finance tem um desafio de marketing e em algum momento a gente vai trabalhar nisso”, disse Otávio Damaso, diretor de Regulação do BC, em evento na segunda-feira (16/12) promovido pelo Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (IBRAC). “Não adianta a gente ficar angustiado de tentar dar essa visibilidade estatística e de presença no nosso cotidiano para o Open Finance porque ele é diferente.”
Ao contrário do Pix, que ganhou fama rapidamente por ser um mecanismo mais simples e rápido de fazer pagamentos e transferências, o Open Finance funciona como uma infraestrutura, comparou Damaso. É com base na troca de dados que passa por essa “tubulação” que as instituições oferecem benefícios para o cliente final.
“Ele não é um ‘popstar’. Nunca vai alcançar a visibilidade que o Pix tem pelo simples fato de que você faz um Pix. E o jargão ‘fazer um Pix’ pegou”, afirmou o diretor do BC. “O Open Finance não se materializa unica e exclusivamente em um produto. É um conjunto de informações que pode ser usado para organizador financeiro, avaliação de risco de crédito, portabilidade, ou seja, para uma série de operações dentro do sistema financeiro.”
De acordo com Damaso, há casos de instituições com mais de 80 iniciativas de produtos e serviços financeiros sendo construídos e implementados, com base nos dados via Open Finance. “E o projeto da instituição A é diferente do projeto da instituição B”, disse. “O que vai acontecer é o cidadão perceber que, se der adesão, vai se beneficiar de alguma coisa ali, muitas vezes sem saber que foi graças ao Open Finance.”
Ampliação do ecossistema e portabilidades
Damaso também contou que o BC planeja tornar obrigatória a adesão ao Open Finance para todas as instituições reguladas e supervisionadas. “Quando isso vai ocorrer, eu não sei”, complementou. Em julho deste ano, por meio da Resolução Conjunta nº 10, o regulador já aumentou o escopo de players que integram o ecossistema. Segundo Damaso, atualmente mais de 850 instituições participam do Open Finance. “Mais pra frente, a gente vai falar em torno de 1,5 mil ou 2 mil instituições participando.”
Sobre a agenda para 2025, o diretor do BC destacou as portabilidades de crédito e salário entre as prioridades, sendo a de crédito o “carro-chefe”. A ideia, segundo ele, é iniciar com as modalidades de crédito mais simples, deixando para o final o crédito imobiliário, “o produto mais complexo”.
Damaso comentou que, embora existam há bastante tempo no País, as portabilidades têm jornadas “cheias de fricções e de troca de informações imprecisas”, e isso acaba impedindo que o processo não ocorra. “Dentro do Open Finance, vai ocorrer com muita fluidez porque as trocas serão diretas, digitais e padronizadas entre as instituições financeiras”, afirmou.
O diretor do BC mencionou, ainda, que um tema importante para 2025 é o avanço do Open Finance entre as pessoas jurídicas (PJs), principalmente as pequenas e médias empresas (PMEs). Em conjunto com a governança do ecossistema, o regulador está conduzindo um estudo para avaliar como melhorar esse quadro.
Damaso citou também a criação da estrutura definitiva de governança do sistema como um grande movimento em 2024. No último dia 5/12, houve a constituição da empresa que liderará essas atividades, assim como a eleição dos conselheiros. “O processo agora é de contratação dos administradores – CEO e dois diretores”, afirmou Damaso, acrescentando que isso deve ser concluído no primeiro bimestre de 2025.