Daniel Ibri, CEO da Mindset Ventures

Daniel Ibri, managing partner da Mindset Ventures (Divulgação)
Daniel Ibri, managing partner da Mindset Ventures (Divulgação)

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Mindset Ventures já captou 70% do seu terceiro fundo, de US$ 50 milhões. Durante a pandemia, a gestora congelou o fundraising e direcionou o foco para novas oportunidades, mas neste mês retomou a captação e prevê fazer o segundo closing em agosto, com um terceiro e último fechamento previsto até o fim do ano, conta Daniel Ibri, CEO da Mindset Ventures, em entrevista à Finsiders.

“A percepção é de que parece que passou o susto. Todo mundo já entendeu que é um cenário que não vai resolver da noite para o dia.”

Tese de investimento

Com dinheiro aportado geralmente por investidores brasileiros, a Mindset Ventures faz investimento em startups nos Estados Unidos e em Israel, sempre co-investindo com fundos locais. O cheque médio é de US$ 1 milhão mais follow-ons.

Daniel Ibri, CEO da Mindset Ventures (Crédito: Divulgação)
Daniel Ibri, CEO da Mindset Ventures (Crédito: Divulgação)

O olhar está centrado em startups com modelo B2B, que já tenham clientes e faturamento, em cinco verticais: fintechs, agtechs, healthcare, cibersecurity e software (SaaS) para enterprise. Normalmente, a gestora entra em rodadas seed ou series A.

Portfólio

Criada em 2016 e hoje com dez pessoas na equipe, a Mindset Ventures aposta em empresas nascentes israelenses, país conhecido pelo grande desenvolvimento tecnológico e de produção de patentes. Desde o início da operação, a gestora aportou recursos em 41 negócios, entre eles, as fintechs Weel, Brex e PayJoy — ao todo, são seis fintechs na carteira.

Neste ano, a gestora investiu em dois negócios (Turing e Pecan) e planeja outros quatro investimentos até o fim do ano. De todas as startups investidas, dez delas, incluindo Weel e PayJoy, já estão operando no Brasil.

Segundo Ibri, a escolha por Israel se deu porque o país tem características complementares ao Brasil. Basicamente, é reconhecido por seu polo tecnológico e forte investimento em pesquisa, mas carece de mercado para escoar as inovações.

“O Brasil é o oposto: tem menos pesquisa, nível de desenvolvimento tecnológico baixo, mas possui grande mercado, com muitas oportunidades.”

Fintech virou mercado ‘crowded’

Para o investidor, o mercado básico de fintechs ficou ‘crowded’, ou seja, abarrotado de soluções muito parecidas umas com as outras. Alguns setores, como pagamentos, ficaram “meio banalizados”, avalia Ibri.

Ele conta que a busca tem sido por negócios diferentes e dá como exemplo a Weel, fintech que usa um modelo próprio de inteligência artificial, com tecnologia criada em Israel, para análise de risco para precificar uma antecipação de recebíveis. “Agora já tem bastante gente fazendo o que ela faz.”

Contexto: Criada em 2014, a Weel atraiu interesse da Franklin Templeton, uma das maiores gestoras do mundo, que injetou US$ 30 milhões no negócio em 2019. Neste ano, o banco BV (antigo Votorantim) — que já tinha investido US$ 6 milhões no ano passado— liderou um round de R$ 80 milhões e ampliou a disponibilidade de funding para R$ 800 milhões.

Ibri lembra que o setor de seguros, historicamente conhecido por ser um mercado interessante, enorme, mas arcaico, começou a revelar algumas boas oportunidades. Nos últimos seis meses, o investidor tem visto diversos negócios na área.

“Provavelmente nosso próximo deal será em insurance.”

A prova de que o setor segurador começa a atrair o olhar dos investidores vem de fora. A americana Lemonade abriu capital na bolsa de NY recentemente, enquanto a concorrente Hippo Insurance acaba de levantar US$ 150 milhões e planeja IPO. No Brasil, a insurtech que mais se destaca é a thinkseg, liderada por André Gregori, ex-sócio do BTG Pactual.

Para Ibri, as insurtechs ainda não caminharam do mesmo jeito que as fintechs. A explicação vem da complexidade do setor e, em muitos casos, de certa reticência das seguradoras em adotar novas tecnologias e soluções. Outro fator que atrapalha negócios na área é a falta de atratividade.

“Não é um setor sexy. Para nós, quanto menos sexy, melhor. Quero que o negócio tenha tecnologia e dê certo.”

Oportunidades

Outra área que chama atenção da Mindset Ventures é cibersecurity ligada ao mercado de fintechs, como prevenção a fraudes e controle de privacidade. “É o próximo pepino que os bancos vão ter”, diz. Para o investidor, é uma fronteira que ainda não foi tão explorada pelos empreendedores.

Em junho, a gestora anunciou uma nova sócia, a investidora Jules Miller, que ficará à frente das operações no Vale do Silício. Na IBM, ela co-fundou e liderou o IBM Blockchain Ventures e o IBM Blockchain Accelerator. “Com isso, começamos a abrir portas para negócios ligados a infraestrutura de fintech baseada em blockchain”, explica Ibri.

Além disso, empresas na fronteira entre agronegócio e fintech são outro tipo de startup que desperta interesse da Mindset Ventures. São negócios que atuam com antecipação de safra e crédito para produtores rurais, por exemplo. No Brasil, há algumas empresas olhando para esse nicho, mas o segmento é tímido em outros países, diz Ibri.

Trajetória

No mercado de venture capital há dez anos, o investidor montou em 2011 a Grid Investimentos, fundo que aportou capital na Pagar.me, vendida em 2016 para a Stone. Ibri foi, ainda, CEO da Acelera Partners.

Hoje, além de liderar a operação da Mindset Ventures no Brasil, é mentor da Endeavor e professor do Insper e da FIAP.