A piora do cenário econômico será um teste para as fintechs brasileiras, aponta a Fitch Ratings. Para a agência de classificação de risco, as empresas têm uma miríade de oportunidades, mas precisarão provar sua resiliência em um contexto macroeconômico adverso, principalmente com juros altos. O atual quadro também tende a abrir espaço para uma possível consolidação de mercado.
A reportagem foi publicada originalmente no Finsiders, site parceiro de Fintechs Brasil.
“As fintechs com perfis de negócios bem desenvolvidos — englobando clientes, produtos e canais — que já abordaram aspectos de capital e captação provavelmente manterão seu ritmo de crescimento, aumentando a participação de mercado e até, possivelmente, adquirindo entidades complementares de menor porte”, escreve a agência, em comentário.
Na visão da Fitch, o atual sentimento negativo do mercado, combinado com o aumento das taxas de juros, pode desafiar a base de captação e a posição de liquidez das fintechs, especialmente aquelas que dependem de produtos de captação estruturada e/ou investidores institucionais.
“As fintechs que são dependentes de entradas futuras de novo capital, provavelmente serão desafiadas pelo cenário atual, devido à redução de apetite dos investidores”, diz a agência no texto, citando que repassar os custos de captação mais altos para os clientes pode ser mais desafiador, dada a estratégia das fintechs que costuma ser baseada, em grande parte, em preços.
Os custos mais elevados para aquisição de clientes também vão limitar os gastos com marketing nas fintechs, analisa a Fitch. Na opinião da agência, esse contexto tem potencial de tornar o setor mais orientado para retenção de clientes, com base em vendas cruzadas de produtos e serviços e ativação de clientes, em vez de focar apenas no crescimento agressivo da base de clientes.
Tamanho da oportunidade
Não há dúvidas sobre o crescimento das fintechs no mercado brasileiro nos últimos anos. O aumento da concorrência, uma bandeira do Banco Central (BC) dentro da Agenda BC#, é saudável para o setor financeiro e, claro, para o consumidor, que tem buscado cada vez mais conveniência na contratação de produtos e serviços financeiros.
Ainda no comentário, a Fitch aponta que o Pix, sistema de pagamentos instantâneos com a curva de adoção mais rápida do mundo conforme o BIS (Bank for International Settlements), possibilitou a inclusão financeira de mais de 50 milhões de pessoas — muitas delas realizaram transferências bancárias pela primeira vez.
“Algumas fintechs estão fortemente engajadas no desenvolvimento de novos produtos derivados do Pix, como seguros (para fraudes no sistema, devido a roubo de celulares) e a possibilidade de os clientes dividirem um único pagamento, por meio do Pix, em várias parcelas”, exemplifica a agência.
A implementação do Open Finance no país também deve contribuir para a expansão das fintechs. “A posição competitiva destas instituições em relação aos grandes bancos de varejo — que também fornecem serviços semelhantes — era, muitas vezes, limitada pela falta de acesso a dados históricos de clientes, normalmente disponíveis apenas em agências de crédito. O Open Finance facilitará este acesso”, diz a Fitch.
América Latina
De acordo com um estudo recém-divulgado pelo BID, seu braço de investimentos para o setor privado BID Invest e pela empresa de inovação Finnovista, o número de fintechs na América Latina mais do que dobrou entre 2018 e 2021.
Três em cada dez (31%) fintechs na região são brasileiras. Em seguida, vem o México, que totaliza mais de 500 fintechs, ou 21% do total mapeado na região.
Finsiders é uma plataforma de conteúdo especializada no ecossistema de fintechs, fundada pelo jornalista Danylo Martins