As contas laranjas, usadas para realizar transações fraudulentas, estão ganhando contornos de profissionalização. Isso porque cada vez mais os criminosos se valem de contas de empresas (PJ) para essa prática. Conforme o estudo “Golpes com Pix 2024“, feito pela empresa de proteção financeira digital Silverguard, em janeiro deste ano, um em cada quatro golpes tinham como destino uma conta PJ, enquanto em junho essa proporção chegou à metade dos casos relatados na plataforma SOS Golpe, criada pela startup.
“As contas laranjas estão mudando de perfil. Há um crescimento especialmente no uso de contas de microempreendedores individuais (MEIs) como destino para o dinheiro dos golpes”, disse Marcia Netto, fundadora e CEO da Silverguard, em evento online nesta terça-feira (12/11) para apresentar os resultados da pesquisa.
Diferentemente de contas falsas, as contas laranjas são alugadas e golpistas costumam utilizá-las por certo período. Em geral, criminosos convencem pessoas com dificuldades financeiras com ofertas que chegam a R$ 2 mil para que esses indivíduos emprestem sua conta. As negociações acontecem nas redes sociais e em grupos de mensagens no WhatsApp e Telegram, por exemplo.
O levantamento (acesse aqui) indica que os horários de atividade dos golpistas refletem os de trabalhadores comuns, com maior incidência às sextas-feiras e um “descanso” aos domingos. “Os dias de ‘trabalho’ dos golpistas batem com o de pessoas honestas. Coibir os laranjas é um grande desafio no País e é algo ainda muito impune”, afirmou a empreendedora.
Perfis
Em um mercado cada vez mais digital e com ferramentas simples e fáceis de usar como o Pix, nota-se uma diversidade de golpistas. A pesquisa da Silverguard identificou seis tipos deles. Eles vão desde organizações criminosas equipadas do ponto de vista tecnológico até pessoas que praticam estelionato na internet – conhecidos pela gíria Raul. “Antes os Rauls ficavam no caixa eletrônico, agora estão no mundo digital, no WhatsApp”, disse Marcia.
De acordo com o estudo, aplicativos de mensagens e redes sociais são os principais pontos de partida dos golpes – juntos, essas plataformas somam quase 88% dos casos. Os primeiros são os canais mais usados para abordar pessoas acima de 60 anos. Já o público de 18 a 29 anos acaba sendo mais acessado pelas mídias sociais. Cerca de 80% das fraudes começam em plataformas da Meta, como WhatsApp, Instagram e Facebook.
O “golpe das tarefas” foi classificado pela Silverguard como o “golpe do ano” devido ao volume de denúncias e ao impacto econômico no orçamento das vítimas – em sua maioria, indivíduos de baixa renda. A perda financeira média é de R$ 4,9 mil. “É o principal golpe aplicado no Telegram”, disse Marcia.
Funciona assim: uma pessoa que se diz recrutadora entra em contato oferecendo uma oportunidade de ganhar dinheiro com tarefas digitais simples, por exemplo, avaliar produtos, curtir vídeos e até resgatar cupons. Para conquistar a confiança da vítima, os golpistas liberam pagamentos iniciais de pequenos valores. Depois, a pessoa recebe convite para participar de um grupo VIP no Telegram e começa a receber ofertas para aplicar em investimentos com “retorno garantido”.
O estudo teve como base informações de 5 mil denúncias recebidas pela Central SOS Golpe entre janeiro e junho de 2024. Além disso, contou com dados do BC por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), assim como entrevistas com 16 especialistas nacionais e internacionais.