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Fintechs se antecipam a PIX Garantido: 87,5% delas já oferecem PIX Parcelado, diz estudo da GMattos; juros vão de 3,5% a 8,2% ao mês

Enquanto o Banco Central não formaliza o PIX Garantido como tipo de pagamento parcelado pela plataforma PIX, o mercado já oferece uma modalidade semelhante de parcelamento de compras fora do cartão de crédito. Batizada como PIX Parcelado, ela é disponibilizada por 87,5% das fintechs analisadas pelo Estudo Gmattos BNPL.

A Gmattos, consultoria que há mais de 20 anos identifica tendências na agenda dos pagamentos online no país, analisou, na semana de 23 de março de 2023, a atuação de fintechs no segmento de BNPL (Buy Now, Pay Later) no mercado brasileiro. E concluiu que, em relação à proposta do Banco Central para o PIX Garantido, a grande diferença do PIX Parcelado trabalhado por essas empresas está no potencial da amplitude da oferta. 

No modelo que oferecem, as fintechs fazem a intermediação da liquidação da transação, gerenciando diretamente a cobrança do consumidor e o repasse ao vendedor. Dessa maneira, assumem o risco de não pagamento das parcelas por parte do consumidor, fazendo o repasse imediato do valor da compra para o lojista mediante a cobrança de uma taxa de desconto. No PIX Garantido do BACEN, o risco seria assumido pelo emissor PIX, que controlaria a liquidação do parcelamento de forma centralizada. 

Atualmente, nas fintechs, os compradores encontram planos de parcelamento sem juros, mas a maioria (75%) das fintechs oferecem planos com cobrança de juros, em que o valor é dividido em até 36 parcelas.  

A consultoria comparou as taxas de juros ofertadas (normalmente divulgadas como taxas ao mês), e sua correspondente taxa anual, para parcelamentos em 12 vezes. O espectro de variação foi significativo, com oferta de juros a 3,45% ao mês (ou equivalente à 50,17% ao ano), até taxa de 8,17% ao mês (equivalente à 156,61% ao ano). 

O parcelado sem juros, em planos com entrada mais 3 prestações sucessivas, são ofertados por 25% das empresas BNPL. Nesse caso, sendo os pagamentos quinzenais, o consumidor tem 45 dias para pagar toda a dívida, e a taxa de desconto cobrada do lojista é, em média, 33% maior do que a verificada no parcelamento com juros. 

Mas enssas ofertas de das fintechs a captura de clientes não é massiva, se dando caso a caso no checkout das lojas integradas a sua oferta, ao contrário do previsto no PIX Garantido do BC. Existe um caminho crítico de integração da fintech com as lojas de interesse. Essas integrações são orgânicas focando perfis nichados em segmentos de turismo, moda e bens duráveis (eletrodomésticos). 

Parcelado nas fintechs, Garantido nos bancos

Por sua vez, o futuro PIX Garantido acena com a chance de adesão dos bancos de varejo à modalidade, o que abriria um leque de demanda de milhões de clientes bancários. Porém, alguns aspectos conjunturais colocam em dúvida a concretização dessa expansão. 

Em primeiro lugar, diferentemente do pagamento instantâneo PIX, o Garantido não será obrigatório para os emissores. Além disso, o BC não definiu o detalhamento da oferta do Garantido – formato, padrão, requisitos. Após essas definições, o tempo estimado para que os bancos interessados possam desenvolver o operacional da oferta chega a ser de no mínimo um ano. 

É preciso incluir ainda nesse cálculo de possível amplitude o fato de que vários bancos de varejo já oferecem parcelamento direto aos seus clientes, em lojas selecionadas, com pagamento via PIX.  

“Considerando esse contexto, caso o BC mantenha o lançamento do PIX Garantido, ele poderá ser uma aposta para bancos que entendam que sua oferta tenha como se diferenciar do atual PIX Parcelado e, principalmente, que haja a adesão massiva de lojas para atingir a capilaridade necessária que justifique o significativo esforço para seu desenvolvimento”, avalia Gastão Mattos, cofundador e CEO da Gmattos.