Nova onda de 'super apps' deve vir das wallets digitais, diz estudo

De acordo com a Juniper Research, as transações com o uso das wallets digitais devem ultrapassar mais de US$ 16 trilhões em 2028

A próxima geração de ‘super apps’ deve vir das carteiras digitais. Essa tendência ganhou força durante a pandemia, foi fortalecida pelo movimento “cashless” (sem dinheiro) em diversas economias e é importante para a inclusão financeira. É o que mostra um novo relatório publicado pela consultoria Juniper Research.

No cenário atual, há basicamente três tipos de carteiras digitais: as de circuito fechado (‘closed loop’), em que os usuários podem carregar uma conta de gastos específica, vinculada à uma fonte de pagamento, como cartão de crédito. Existem, ainda, as de circuito semi-fechado, que permitem comprar e transferir fundos para consumidores na mesma rede. E, por fim, e as de circuito aberto, que armazenam dados do cartão de crédito e fundos para o uso em sites, comércio ou smartphones via NFC.

Do lado das oportunidades, o estudo aponta que a redução do papel-moeda é, em alguns casos, incentivada pelos governos; em outros, é resultado natural da adoção da tecnologia de pagamento mobile. Outro fator estrutural é o crescimento da penetração de smartphones: em 2022, 68% dos indivíduos tinham acesso a um telefone inteligente. Até 2028, esse patamar deve alcançar 80%, de acordo com a previsão da Juniper.

Ainda, o período de isolamento social incentivou métodos alternativos de pagamento. “Isso incentivou a mudança do dinheiro para métodos de pagamento alternativos e fez com que muitas pessoas utilizassem um método de pagamento alternativo pela primeira vez”, diz o documento. Combinados, esses aspectos criaram uma dinâmica nos pagamentos via dispositivos móveis em que as wallets digitais despontam como o meio principal. 

Tendências

Os ‘super apps’, que oferecem múltiplas funções e serviços em um único ambiente, podem estar na origem ou incluir uma wallet digital. Eles largam à frente das carteiras digitais em alguns aspectos, como a possibilidade de gerar receita em diferentes frentes e a possibilidade de acessar um grande volume de dados de transações – e, portanto, de gerar novas oportunidades. Por outro lado, sem as inúmeras soluções dos aplicativos, as carteiras conseguem trazer uma experiência simples. 

O Open Banking aparece entre as tendências para as carteiras digitais nos próximos anos. Há diversos casos de uso, a exemplo da agregação de diversas contas em um único lugar. Ao coletar esses dados, as instituições financeiras podem fazer o onboarding digital, fazer a verificação de identidade, executar práticas de segurança e contra lavagem de dinheiro. É possível, também, monitorar as contas, usar dados para melhorar a experiência do usuário e prover serviços para a alta renda.

Um terceiro caso de uso são as cripto wallets. Elas representam um subconjunto de carteiras que contêm chaves públicas e privadas dos usuários, permitindo enviar, receber e gastar criptomoedas. Contudo, este tipo de carteira não armazena as moedas digitais em si. Uma chave pública permite ao usuário receber as transações, e outra, privada, confirma o endereço e a realização das transferências.

Desafios

De acordo com o estudo, as transações com o uso das wallets digitais devem passar de US$ 9 trilhões, em 2023, para mais de US$ 16 trilhões, em 2028. Esse movimento é direcionado em grande parte ao crescimento da adoção de soluções como BNPL (“buy now, pay later”), microempréstimos e gerenciamento de finanças pessoais. 

Para isso, porém, há alguns desafios à vista a serem enfrentados pelos provedores. O primeiro deles é justamente o uso do dinheiro. Apesar da tendência clara de digitalização da economia, o papel-moeda ainda é o método mais familiar para a maioria dos consumidores, é útil para o pagamentos no comércio informal e não existe a necessidade da troca de dados entre as partes para que uma transação ocorra. 

Por outro lado, as wallets podem facilitar os negócios nos e-commerces e acessar facilmente uma ampla variedade de merchants. Em relação ao dinheiro, as carteiras digitais são mais seguras para pagamentos de valores elevados, por exemplo.

No caso dos cartões, esse é um meio mais comum entre consumidores em mercados mais desenvolvidos. Assim como as wallets, eles também ajudam a pagar no comércio eletrônico e conseguem realizar pagamentos sem contato (‘contactless’). Mas há uma vantagem para as carteiras: enquanto os cartões precisam de dados detalhados para as transações em e-commerces, as carteiras digitais podem fazer o mesmo, inclusive com o mesmo cartão, mas sem fornecer as informações sigilosas.

A concorrência é mais pesada com digital banking. Os aplicativos de bancos podem facilitar as transferências P2P (entre pessoas físicas) e permitir agendar uma ordem de pagamento. Além disso, mais do que apenas usar fundos, os usuários podem fazer o controle das próprias contas. E as instituições financeiras ainda se beneficiam da relação de confiança com os clientes, o que não existe com as wallets.

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