Fruto do avanço tecnológico e de mudanças regulatórias, a competição aumentou no setor financeiro, com uma participação crescente de fintechs e bancos digitais. Os dados constam de trechos do Relatório de Economia Bancária de 2022, que será divulgado na íntegra pelo Banco Central (BC) na próxima terça-feira (6).
Conforme o boxe “Evolução de meios digitais para realização de transações de pagamento no Brasil”, divulgado hoje (31) pelo BC, a quantidade de instituições de pagamento (IPs) autorizadas a funcionar pelo regulador passou de 37 em 2021 para 74 no ano passado. Em 2019, por exemplo, eram apenas 19.
Já de acordo com o boxe “Perfil de utilização de cartões de crédito no Brasil”, revelado na segunda (29), em três anos o número de usuários de cartão de crédito de instituições que operam predominantemente no modelo digital, como fintechs e bancos digitais (representados pelo G3), cresceu mais de 4x, saindo de 8,9 milhões para 36,5 milhões.
No mesmo período, bancos públicos e os três maiores bancos privados (G1), por sua vez, viram a quantidade de usuários de cartão também aumentar, mas num ritmo menor — de 51 milhões para 57,7 milhões.
A expansão foi de 16% no caso dos demais bancos e financeiras (G2), incluindo aquelas ligadas a empresas do ramo varejista e que emitem cartões vinculados às suas redes de lojas. Já o número de usuários de cartões de cooperativas (G4) passou de 2 milhões para 3,6 milhões nesse intervalo.
Conforme o documento, em junho do ano passado a quantidade de cartões de crédito (190,8 milhões) representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil (107,4 milhões), segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e estatísticas do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Inclusão X endividamento
Esse aumento do saldo devedor está ligado, principalmente, ao crescimento da base de clientes das instituições financeiras e de pagamento (IPs) do G3. Um dado que reflete a expansão e escala de fintechs e bancos digitais nos últimos anos.
Conforme disse Angelo Duarte, chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro (Decem) do BC, a expansão do mercado de cartões de crédito é “positiva do ponto de vista de inclusão financeira”, mas merece atenção por causa do potencial de aumentar o nível de endividamento das famílias.
“Quando o cliente deixa de pagar o valor total da fatura do cartão, o valor não pago se torna uma modalidade de empréstimo, chamada ‘rotativo do cartão de crédito’. Essa é uma das operações de crédito com maiores taxas de inadimplência e custo no mercado.”
Leia mais:
Bancos digitais e fintechs ampliam fatia no crédito, mostra BC
Fintechs mais seguras a partir de garantias regulatórias do BC
Bancos e fintechs terão de compartilhar entre si dados sobre fraudes
Google Pay tem aval do BC para ser instituição de pagamento no Brasil