A pandemia acelerou a digitalização, pois o pagamento do auxílio emergencial levou muitos brasileiros a abrir uma conta bancária pela primeira vez – a maioria, em fintechs. Porém, o número de não bancarizados no país ainda é significativo. Representam 10% da população, somam cerca de 16 milhões de pessoas e movimentam por ano R﹩ 174 bilhões, ou 4% da renda nacional. Os números fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em janeiro, que investigou a relação da população com os bancos.
Um dado da pesquisa que chama atenção é o contingente que, apesar de ter conta em banco, não a utilizou no último mês. São 17,7 milhões de brasileiros, 11% da população, que movimentam anualmente R﹩ 173 bilhões. O perfil dos não bancarizados e dos que usam pouco a conta têm semelhanças: ambos são formados em sua maioria por mulheres do interior do país, das classes sociais mais populares. No primeiro caso, a faixa etária predominante se situa entre os 18 e os 29 anos e a escolaridade não vai além do fundamental; o segundo grupo é um pouco mais velho – entre 30 e 34 anos, — e um pouco mais escolarizado (ensino médio).
Apesar desse perfil, Renato Meirelles, presidente do Locomotiva, destaca que o movimento de bancarização experimentado desde o início da pandemia cresceu principalmente entre os mais pobres. Segundo ele, o auxílio emergencial pago pelo governo federal e por alguns governos estaduais mudou a entrada de dinheiro, assim como a venda pela internet por parte de pequenos empreendedores também alavancou a abertura de contas. “Ainda assim temos cerca de 30 milhões de pessoas que não usam banco ou que têm alguma poupança perdida. Essa é a gente que usa dinheiro. Numerário em espécie ainda é a preferência nacional”, diz.
Com efeito, receber e sacar dinheiro é a operação mais realizada por quem tem conta em banco (65% dos entrevistados), à frente do pagamento de compras (54%) e de transferências (45%). Outro dado relevante do levantamento: quase a metade dos entrevistados (49%) dizem não se sentir à vontade nas agências bancárias. Nas classes D e E esse índice sobe: 54%. “Situações cotidianas ajudam a moldar a impressão de que falta acolhimento e parceria por parte dos bancos. Quem não teve problemas na porta giratória de uma agência e acabou se sentindo discriminado? Ou tentou abrir uma conta ou conseguir um empréstimo numa situação de urgência e não conseguiu? A crescente digitalização dos serviços também tem seu quinhão nesse processo. Se, de um lado, facilitou a vida dos clientes, de outro contribuiu ainda mais para a sensação de impessoalidade e distanciamento”, explica Renato Meirelles.
O custo dos serviços bancários é outro calcanhar de Aquiles apontado pela pesquisa. Entre os entrevistados, 66% consideram que os bancos cobram muitas tarifas. Praticamente a metade deles (51%) é cliente de bancos tradicionais e 39% declararam já ter conta nos bancos digitais. A preferência pelos digitais é maior (48%) na faixa dos 18 aos 29 anos. O desafio para o setor, sejam instituições tradicionais ou digitais, segundo Meirelles, segue sendo a incorporação de quem não tem acesso aos bancos. A boa notícia vem da pesquisa: 39% dos não bancarizados já tiveram conta e 69% gostariam de ter.
A pesquisa nacional, realizada entre os dias 12 e 19 de janeiro, entrevistou por telefone 1.500 pessoas, de ambos os sexos, a partir dos 18 anos. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.