Pelo menos nos últimos 7 anos, uma das frases que mais ouço de líderes de bancos e fintechs é que os clientes estão no centro para o desenvolvimento de novas soluções. Até aí, tudo bem. Mas qual cliente? Aquelas pessoas que já estão inseridas no sistema financeiro? Homens heterossexuais, que moram nos grandes centros urbanos? E as brasileiras e os brasileiros ‘invisíveis’, que estão em pequenas cidades espalhadas pelo país e não têm acesso tampouco à internet?
Perguntas como essas vêm provocando instituições financeiras de todos os portes a sair da ‘zona de conforto’. São indagações que ganham mais força num contexto de uma sociedade que questiona cada vez mais e pede por mudanças. E mais: o setor está em um momento de profunda transformação tecnológica e regulatória, com inovações como Pix, Open Finance e o futuro Drex — sem falar no ‘super app’.
“O Open Finance é uma ruptura no mercado e vem para democratizar e aumentar a inclusão financeira”, diz Andressa Tavares, líder de open finance e inovação do Banco Mercantil e host dos podcasts Let’s Women e Black Voices, ambos da plataforma Let’s Media. Ela participou de uma discussão promovida nesta semana pelo movimento Women Leaders in Fintechs (WLF). O evento, em sua terceira edição, discutiu o tema “O que esperar do mercado financeiro do futuro”.
Na visão das especialistas, o Open Finance pode ajudar a destravar o acesso a crédito, porém os players no setor precisam furar a “bolha” e, assim, construir produtos e serviços que realmente resolvam problemas reais dos clientes. Nesse sentido, é fundamental ter equipes diversas para desenvolver as soluções. “Quando pensamos em experiência, o horizonte é quase infinito, mas é importante que tenha diferentes pessoas pensando nos problemas”, afirma Ana Luiza Martins Castro, head de pagamentos da fintech AstroPay.
Educação e esforço conjunto
E em meio a tantas novidades que pululam no setor financeiro, um dos grandes desafios das empresas é a educação dos clientes. “Pense que, num espaço de 5 anos, vamos ter Pix, Open Finance e Drex. É muita coisa. Os players do mercado precisam trabalhar juntos nesse processo educacional”, defende Ana Luiza.
Esse esforço de educação dos usuários, inclusive, é crucial para o combate às fraudes, que escalaram nos últimos anos. Segundo Janaína Attie, chefe da divisão do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro no Banco Central (BC), a atuação do órgão em relação a esse tema envolve, principalmente, três frentes: regulação, comunicação e supervisão.
“O BC tem um trabalho muito grande em relação a fraudes. Em regulação, por exemplo, a norma mais recente [Resolução nº 6] entrará em vigor agora em novembro. Desenvolvemos também iniciativas de comunicação integrada com o mercado, assim como uma ação forte de supervisão nas instituições”, destaca a porta-voz do BC.
Grupo criado para combater a baixa participação feminina em fintechs, o WLF vem organizando uma série de eventos temáticos nos últimos meses. O próximo será em dezembro, no escritório do Nubank.
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