No Open Investment, a principal "alocação" do BB é assessoria para os clientes

Em agosto, o banco lançou uma nova plataforma de investimentos apta a operar na fase 4 do Open Finance, que se inicia no dia 29

O Open Investment está prestes a se tornar realidade no Brasil. A partir de 29 de setembro, como parte da fase 4 do Open Finance, os clientes poderão compartilhar os dados de seu portfólio de investimento entre diferentes instituições. Essa etapa é vista como crucial para conhecer o cliente de forma mais ampla e, assim, prover serviços mais personalizados. No caso do Banco do Brasil (BB), a assessoria é a palavra de ordem para fisgar novos clientes e fidelizar os atuais. 

Em encontro virtual com um grupo de jornalistas nesta terça-feira (5), executivos do banco avaliam que o diferencial será na entrega dessa solução de assessoria, com ofertas que façam sentido para cada investidor. Isso significa, por exemplo, disponibilizar uma alternativa de investimento para quem tem um papel com vencimento próximo, ou mesmo oferecer relatórios de ‘research’ mesmo para os clientes que ainda não investem pelo banco. 

O desafio do BB e de toda a indústria será despertar o interesse do cliente investidor, em meio à acirrada concorrência de plataformas de investimento independentes e ligadas a ‘bancões’. “O mercado tende a uma ‘commoditização de produtos, inclusive de preços e taxas. Então, são as soluções de assessoria que vão, de fato, gerar valor na vida do cliente”, afirma Eduardo Villela, executivo de alocação e produtos de investimentos. 

Segundo ele, com o compartilhamento de informações de investimentos, será possível atingir um novo público, o de investidores. Conforme o último “Raio-X do investidor”, da Anbima, esse grupo chegou a cerca de 60 milhões de pessoas no Brasil no fim de 2022. Neste ano, a previsão é que haja um aumento de 9 milhões de pessoas nesse universo. 

Digital + físico

Na jornada de evolução para o Open Investment, o BB está preparado, dizem os executivos. “Fizemos experimentos com os clientes que compartilharam dados de conta e saldo de poupança. Além disso, desenvolvemos desde o ano passado a possibilidade de usar a iniciação de pagamento para fazer aplicação em fundos de investimento”, exemplifica Karen Machado, executiva de open finance do banco.

Há cerca de um mês, o BB também divulgou o lançamento de uma nova plataforma de investimentos, já apta a operar na nova fase do Open Finance. Entre outros recursos, o aplicativo oferece um agregador de investimentos e o InvestTalk, um hub de conteúdos para investidores que tem a curadoria de especialistas do banco. Mais uma novidade é o uso de inteligência artificial no assistente virtual da instituição no WhatsApp, canal que tem recebido bastante atenção do BB.

Um exemplo recente foi o estímulo para o reinvestimento das aplicações perto da data de vencimento. De março a junho deste ano, por exemplo, a assessoria digital via WhatsApp permitiu a renovação de R$ 1,5 bilhão em LCA e LCI, a partir de abordagens ativas para clientes que tiveram vencimento desses produtos. “Imagine quando tivermos as informações de títulos que o cliente tem em outras instituições. Isso reforça o nosso objetivo de ter a principalidade no fluxo financeiro”, diz Eduardo.

Mesmo com o uso crescente dos meios digitais, o BB não deixa de investir no presencial. Atualmente, a instituição tem 43 agências especializadas e mais de 1,4 mil profissionais dedicados ao atendimento a investidores. Em outubro do ano passado, o modelo de relacionamento do banco passou a contemplar assessoria especializada a todos os clientes classificados no nicho investidor. Nesse grupo estão aquelas pessoas com, ao menos, R$ 150 mil em investimentos.

“Com o Open Investment, fizemos toda uma revisão dos nossos parâmetros, e quando identificamos que é um cliente investidor e o porte dele, conseguimos entregar tanto uma assessoria mais adequada, quanto produtos por nível de risco e um pacote de benefícios”, diz Ciro Calaça, executivo de estratégia de clientes. “Termos um investimento muito grande em infraestrutura, analytics e BI [business intelligence].”

Consentimento e ITP

O cenário é promissor, porém, um dos principais desafios com a chegada da fase 4 é a renovação dos consentimentos. Isso porque, para compartilhar dados de investimentos, o cliente terá de dar um novo consentimento. “Teremos o desafio de renovar todos os consentimentos da base. E estamos confiantes para quem já experimentou alguma solução”, diz Karen.

Segundo ela, a tendência é que esse volume seja menor do que tem sido visto até então, porque o público investidor é menor do que aquele que busca crédito. No entanto, trata-se de um perfil, em geral, com mais “maturidade financeira”, o que pode facilitar na hora de mostrar os benefícios do compartilhamento de dados, avalia a executiva. 

Por questão estratégica, o BB não informa sua taxa atual de renovação de consentimentos no Open Finance. Mas Karen diz que o índice está acima “bem acima” do observado em outras instituições. “E para quem já experimentou alguma solução nossa, como o agregador de contas, [esse índice] costuma ser 25% maior”, afirma ela. Atualmente, o banco soma 2 milhões de consentimentos únicos e 3,4 milhões de consentimentos totais.

Em relação ao uso da iniciação de pagamento para facilitar as aplicações financeiras, Eduardo diz que há a intenção de levar essa jornada para outros produtos de investimento. Contudo, isso não é prioritário. “Em algum momento do futuro breve devemos retomar o movimento”, afirma o executivo. “Vamos esperar melhorias no ITP para avançar, como as novas funcionalidades de  pagamentos recorrentes variáveis e jornada sem redirecionamento”, complementa Karen.

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