Americanas recua e descarta se desfazer da fintech Ame 

Segundo o CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, a fintech passou por um processo de reestruturação financeira e operacional desde o primeiro trimestre deste ano

Seis meses depois de publicar um comunicado informando que estudava alternativas estratégicas para a Ame Digital, a Americanas voltou atrás. A varejista disse nesta quinta-feira (16) que a fintech é parte fundamental do negócio e descartou se desfazer da empresa. Pelo menos por ora. 

“Não trabalhamos hoje com a premissa de que a Ame não vai fazer parte da Americanas. Pelo contrário, é parte importante na junção entre os mundos físico e digital”, disse o CEO da companhia, Leonardo Coelho Pereira, executivo especialista em reestruturações e que assumiu o comando da Americanas em meio ao processo de recuperação judicial da empresa. 

De acordo com o executivo, a Ame é uma forma de “rentabilizar de maneira inteligente” a base de clientes da Americanas. “Mas precisamos fazer isso de forma responsável, especialmente nesse ambiente de restrição de capital”, afirmou Leonardo, durante a apresentação do balanço atrasado de 2022. 

Reestruturação

Segundo ele, a fintech passou por um processo de reestruturação financeira e operacional desde o primeiro trimestre deste ano. “A Ame ainda está em processo de auditoria. Os números já foram fechados, mas é uma revisão mais complexa até por ser uma entidade regulada pelo Banco Central”, disse Camille Farias, CFO da Americanas, na teleconferência, enfatizando que “não há nenhum problema específico” para esse atraso, a não ser a complexidade da operação.

Conforme os executivos, a Ame atuará para aumentar o engajamento dos clientes no universo Americanas. Isso significa, por exemplo, expandir o programa de loyalty, assim como estimular o cashback. A fintech continua, ainda, como um meio de pagamento que ajuda a “potencializar sinergias” com as lojas físicas da varejista, informou o CEO. 

Outra frente envolve explorar oportunidades de crédito para clientes. Nesse caso, inicialmente o funding virá de instituições parceiras, sem que o risco fique no balanço da Ame. “Temos buscado no ecossistema de fintechs e bancos opções de funding selecionadas para as campanhas. Mas isso é muito embrionário”, ressaltou a CFO da Americanas.

Contexto

Criada em 2018, a Ame nasceu como uma carteira digital para atender o ecossistema da Americanas e ganhou corpo, tornando-se uma plataforma financeira. Tanto é que, para fortalecer a estratégia, realizou três aquisições: a financeira Parati e as fintechs Bit Capital, de banking as a service (BaaS), e Nexoos, de empréstimos peer-to-peer (P2P) e credit as a service (CaaS).

Em outubro do ano passado, a fintech recebeu autorização do Banco Central (BC) para operar como instituição de pagamento (IP), nas modalidades de emissor de moeda eletrônica e credenciador. 

O balanço mais recente, do terceiro trimestre de 2022, mostrou que a Ame teve lucro líquido de R$ 20,2 milhões, cifra 5x superior ao número do trimestre anterior. No período, a fintech informou ter mais de 30,5 milhões de contas, sendo mais de 10 milhões de usuários ativos mensais. 

Na apresentação dos resultados de hoje (16), a Americanas informou um prejuízo de R$ 12,9 bilhões em 2022. Já a dívida líquida real da empresa somou R$ 26,3 bilhões. De acordo com as demonstrações financeiras auditadas e apresentadas ao mercado, a fraude total foi de R$ 25,2 bilhões, entre VPC (Verba de Propaganda Cooperada) fictício, juros não contabilizados em resultado e despesas contabilizadas como investimentos.

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