'EMBEDDED FINANCE'

Ume capta US$ 21,8 milhões para dar "poder de banco" a varejistas

Com rodada liderada por Valor Capital e Bewater, fintech vai acelerar expansão e projeta R$ 1 bi de GMV anualizado neste ano

Berthier Ribeiro e Theo Ramalho/Ume
Berthier Ribeiro e Theo Ramalho/Ume | Imagem: divulgação

Fundada em 2019, a Ume nasceu com uma solução de crediário digital para varejistas oferecerem a seus clientes. Com a evolução célere do Pix e o próprio desenvolvimento do negócio, a fintech vem se transformando em uma plataforma de crédito e pagamento que dá “poder de banco” aos varejos. Na prática, a Ume permite a essas empresas criarem suas próprias operações de crédito, eliminando a dependência de instituições financeiras tradicionais.

Atualmente com 6 mil lojas parceiras pelo Brasil, a Ume prevê atingir R$ 1 bilhão de GMV anualizado em 2025. A expectativa é crescer 2 ou 2,5 vezes no ano que vem. GMV é a sigla em inglês para volume geral de vendas. “Estamos acelerando. Tem uma demanda reprimida muito grande. São players que querem fazer [crédito], mas não têm dinheiro e time. Nós oferecemos o serviço completo”, diz Berthier Ribeiro, cofundador e CEO da Ume, ao Finsiders Brasil.

Para imprimir esse ritmo de aceleração, a fintech anuncia nesta segunda-feira (8/9) uma rodada Série B de US$ 21,8 milhões (equivalente a R$ 118 milhões, no câmbio atual). O aporte teve a liderança dos fundos Valor Capital Group e Bewater, estreantes no captable da empresa. A captação contou com a participação de atuais investidores como PayPal Ventures, NFX, Globo Ventures, Canary e Big Bets.

Com o “Pix” recebido, a Ume vai investir em tecnologia proprietária, infraestrutura de Inteligência Artificial (IA) e escala comercial. O objetivo, assim, é acelerar a estratégia de expansão e distribuição Brasil afora. “Começamos operando com varejistas no Norte e Nordeste principalmente, mas hoje estamos no Brasil inteiro. Agora, a ideia é reforçar times localmente para atender os varejistas”, explica Berthier. Segundo o CEO, dos 300 maiores varejistas no País, 80% não oferecem crédito no ponto de venda, ou seja, um “oceano azul” inexplorado, como ele define.

A solução

Questionado sobre a intensa competição no mercado de infraestrutura de crédito, Berthier diz que a Ume não se posiciona como um concorrente de provedores de Banking as a Service (BaaS) ou Credit as a Service (CaaS). Com alguns, inclusive, tem relação de parceria. “Somos enabler de operações de crédito completas, oferecendo toda a plataforma para o varejista dar crédito. Não fazemos só a infraestrutura, e sim todo o ciclo de crédito, passando pelo acesso a funding no mercado de capitais, até a cobrança e recuperação de crédito”, afirma o CEO.

De acordo com Berthier, a solução proprietária da fintech permite “customizar” o produto de crédito com base nas necessidades de cada varejista. A plataforma integra decisões de crédito baseada em IA, atendimento e cobrança otimizada com modelos de linguagem (LLMs) e integração nativa com o Pix. “Em cima dessa plataforma, é possível parametrizar o produto de crédito – por exemplo, com juros, sem juros, com limite recorrente, ou com limite apenas para aquela compra”, destaca.

“A Ume está construindo a base para uma nova era de crédito e pagamento lideradas por empresas não financeiras”, afirma Theo Ramalho, cofundador e responsável por Operações (Chief Operating Officer, COO) da Ume. “Não estamos apenas otimizando a operação de crédito, estamos redesenhando como negócios crescem, se conectam com seus clientes e gerenciam riscos.”

Como funding (fonte de financiamento) para as operações de crédito, a Ume levantou um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 100 milhões em 2024, junto a investidores como Verde, Western Asset, Itaú, Credit Saison e Milenio. Berthier diz que a fintech está captando um novo FIDC e mais detalhes serão anunciados em breve.

Futuro

No longo prazo, a Ume prevê replicar o embedded finance (serviços financeiros embarcados) em outros setores além do varejo. “Nossa visão é proporcionar que qualquer negócio com relação transacional, que tenha resultado financeiro, possa internalizar sua operação de crédito. Pode ser agência de viagens, operadora de energia elétrica etc.”, aponta o CEO.

Se depender do otimismo dos novos investidores, a Ume tem um futuro promissor. “Acreditamos que o modelo da Ume vai mudar de forma definitiva como as empresas operam crédito, gerando valor de longo prazo para empresários e consumidores”, afirmou Paulo Passoni, managing partner da Valor Capital Group, em nota.

“Ficamos impressionados com a tecnologia que a Ume desenvolveu. A forma como utilizam a infraestrutura do Pix, combinada com uma Inteligência Artificial (IA) proprietária para análise de crédito e recuperação, é única no mercado”, disse Guilherme Weege, sócio-fundador da Bewater, também em nota. “Mas a tecnologia, por si só, não é o suficiente. Nossa decisão de investir na Ume foi impulsionada pela visão e capacidade de execução de Berthier, Theo e equipe.”