O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (17) que a briga no setor financeiro será cada vez mais por canal, e menos por produtos. A tendência é que isso ganhe força em meio à evolução do Open Finance no Brasil, afirmou Campos Neto, que participou de uma live dos jornais Valor Econômico e O Globo.
“Se você tem uma informação e pode comparar para gerar portabilidade e comparabilidade em tempo real, é razoável imaginar que a briga, que sempre foi por produto, vai passar a ser por canal também. Lembrando que até um tempo atrás, tínhamos vários buscadores, e hoje pensamos em um ou dois”, disse o presidente do BC.
A declaração ocorre depois que Campos Neto comentou sobre um possível fim dos aplicativos de grandes bancos como Itaú, Bradesco e Santander, numa fala que repercutiu bastante nas redes sociais no último fim de semana. Em um evento nos EUA, o chefe da autoridade monetária brasileira disse que “talvez daqui a um ano e meio ou dois anos” não teremos mais um app dessas grandes instituições, e sim um app agregador, que também vem sendo chamado de ‘super app’.
Aplicativos estão virando marketplaces
“Em nenhum momento, eu quis dizer que banco A, B ou C estão em condição de inferioridade. Muito pelo contrário, os bancos estão fazendo muita força, com gastos em tecnologia para desenvolver esses marketplaces”, comentou. “Estamos numa era em que os aplicativos estão tendo um upgrade, desenvolvendo novas funcionalidades e virando marketplaces. E quem tem mais de uma conta eventualmente vai preferir um aplicativo.”
Durante o evento, Campos Neto voltou a citar a agenda tecnológica e de inovação do BC. São 4 blocos: Pix, Open Finance, Drex (a versão digital do Real) e internacionalização da moeda. “Em algum momento, vai fazer sentido que a gente tenha um aplicativo que junte as informações de todos os bancos. Ele, inclusive, pode ser feito por um banco, ou por quem não seja banco”, disse. “Vamos inserir um último bloco que é inteligência artificial em cima da plataforma, para ajudar as pessoas a se programar financeiramente”, acrescentou.
Sobre o Pix, sistema de pagamento instantâneo do BC que completou três anos ontem (16), Campos Neto mostrou números que evidenciam o sucesso e a popularização dessa modalidade entre a população. “Chegamos a ter 174 milhões de operações por dia. Estamos caminhando para ter 1 operação por dia por pessoa. Isso é 3x mais em relação ao sistema de pagamento instantâneo na Índia, que tem muito mais tempo”, citou.
Pix offline e biometria
Campos Neto disse também que o Banco Central está trabalhando no desenvolvimento do recurso offline, tanto para o Drex quanto para o Pix. “Estamos testando alguns modelos assim”, contou o presidente do BC, que diz ter ficado “um pouco frustrado” porque achou que os bancos fariam o Pix offline à medida que o sistema de pagamento instantâneo foi lançado pelo órgão.
“É relativamente fácil. Hoje, você pega um troco e coloca na carteira. Você pode fazer isso de forma digital: tira do online e coloca no offline, com limite pequeno. Mesmo sem sinal, conseguiria pagar via celular, sem ter wi-fi; em alguns casos, pode até ser por contato”, exemplificou. “Achei que os bancos iam fazer isso naturalmente, mas não fizeram. O entendimento é que era um desenvolvimento caro, tinha outras prioridades, e como fizemos muita coisa, os bancos ficaram sobrecarregados.”
O presidente do BC destacou, ainda, que um dos principais desafios neste momento é a “biometria de entrada”, fazendo referência aos mecanismos de identificação e autenticação para acesso aos aplicativos de bancos e instituições financeiras de maneira geral. “Hoje temos um avanço na computação de tal forma que essas biometrias tendem, no tempo, a ficar mais vulneráveis. Então, estamos trabalhando para ver como melhorar a biometria, principalmente com a criação dos ‘super apps’.”
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