As fintechs brasileiras levantaram US$ 108,5 milhões junto a fundos de venture capital em agosto, segundo levantamento da Sling Hub. O valor de apenas um mês representa quase metade do angariado nos primeiros seis meses do ano – US$ 198,3 milhões, segundo o Panorama Tech América Latina 2023, estudo realizado em parceira entre Distrito, SoftBank e Upload divulgado na semana passada.
Considerando todas as fintechs latinas e todos os tipos de aportes – FIDCs, dívida e equity -, a soma dá US$ 765 milhões. É uma recuperação importante para o setor, que não tinha um desempenho tão significativo desde dezembro de 2021 (US$ 826 milhões), segundo a SlingHub.
“As rodadas de equity somaram US$ 352 milhões no Brasil (considerando todas as startups). “Foi o melhor desempenho em volume de rodadas deste tipo no país desde maio de 2022”, disse em nota João Ventura, fundador e CEO da Sling.
A melhora soa como animadora, mas os números ainda estão bem distantes do passado recente. Os US$ 198,3 milhões do semestre, mesmo multiplicados por dois, ainda ficariam longe dos US$ 1,663 bilhão de 2022, e mais ainda dos US$ 3,766 bilhões de 2021.
Fintech é pop
Independentemente da conjuntura e das oscilações no apetite dos investidores, as fintechs não perderam o posto de queridinhas – não apenas no Brasil, como em toda a região.
Os dados do levantamento da Distrito mostram que o segmento é o que tem o maior numero de unicórnios da região (19, ou 42%), e foram as fintechs que mais “brotaram” em 2023 – pela primeira vez desde 2019, representam mais de 12% do total das startups brasileiras.
Mas, como ressalta o Distrito, o alto grau de desbancarização, principal impulsionador do nascimento e sucesso das fintechs no Brasil, é um cenário que está mudando. “Desde o início da pandemia, 22,7 milhões de brasileiros abriram sua primeira conta bancária, de acordo com o Banco Central. Além disso, impulsionadas pela democratização do acesso à internet e à facilitação do acesso ao crédito, as vendas por e-commerce estão cada dia mais altas, representando muitas oportunidades para o ecossistema de inovação de pagamentos”, diz o relatório da Distrito.
Quando o assunto é fusões e aquisições, o panorama se repete: todo mundo quer ser uma fintech. Segundo o Distrito, de 2019 até junho deste ano, foram realizadas 153 fusões e aquisições no setor financeiro, “o que pode ser explicado em grande parte pela necessidade de evolução dos players tradicionais da indústria, que utilizam essa prática para modernizar seus modelos de negócio tradicionais”.
“B de bilhão”
Considerando toda a região e todos os setores, o estudo da Distrito mostra que houve uma queda de 84,7% no volume de investimentos e 50,8% no número de rodadas quando comparamos o segundo trimestre de 2023 com o de 2021 – no entanto, em relação ao primeiro trimestre, foi registrado uma ligeira melhora.
Semestre contra semestre, 2022 ainda dá de lavada em 2023: US$ 5,5 bilhões contra US$ 1,4 bilhão.
Mas Ventura, da Sling, está otimista com o segundo semestre. “Se em julho, com apenas US$ 803 milhões em investimentos, já tínhamos motivos para comemorar o melhor mês do ano, agosto veio para aquecer de vez o mercado. Foram US$ 1,2 bilhão distribuídos em 79 rodadas – o volume mensal captado pelas startups LatAm não superava a marca do bilhão há 11 meses”, diz.
O resultado foi impulsionado pelas rodadas não-equity, que representaram 63% do total levantado no mês por todas as startups na região.
A modalidade influenciou diretamente o desempenho do Brasil, que saltou de US$ 295 milhões em julho para US$ 994 milhões em agosto, com crescimento de 237% no mês e de 132% em um ano. A responsável pelo salto foi quem? uma fintech. A Meu Tudo, de crédito consignado, levantou um FIDC de US$ 417 milhões junto ao BTG Asset Management no mês passado.