A atual conjuntura macroeconômica não saciou a fome dos fundos de venture capital por boas companhias. A questão é que, agora, os investidores estão mais criteriosos. “Ainda há bastante apetite para investir no Brasil e em todo o mundo. No entanto, a barra está muito mais alta, com maior seleção e disciplina por parte dos investidores”, disse Maria Tereza Azevedo, líder de investimentos no SoftBank Latin America Fund, durante painel no “Startups Fever”, evento promovido pela fintech Conta Simples e pelo portal parceiro Startups nesta quinta-feira (3).
Se em 2021 a estratégia era construir um grande portfólio de empresas de tecnologia, atualmente as gestoras e fundos de investimento estão de olho em teses fortes, times resilientes e modelos escaláveis, a valuations mais razoáveis. “O mercado passa por uma correção difícil, mas saudável. Boas empresas continuam tendo acesso ao dinheiro, mas precisam ter negócios de qualidade elevada”, analisou a executiva do SoftBank.
Embora os ajustes tenham sido mais amenos no early-stage, Maria Tereza também enxerga oportunidades no estágio de growth, ainda que em níveis menores. “Há capital disponível, mas depende da qualidade do negócio. Empresas bem capitalizadas evitaram ir ao mercado neste momento, mas os fundos de growth continuam”, pontuou. No entanto, a maior parte dos cheques foi para empresas internas do portfólio, dando mais conforto para os investidores reforçarem a aposta em negócios que já conhecem e têm proximidade.
Com o inverno no venture capital, o ecossistema vive também um cenário de downrounds, com uma realidade inevitável de startups fechando rodadas a um valuation menor do que o da captação anterior. Mas essa não precisa ser a regra. “Nem todas as empresas que fizeram boas rodadas anteriormente estão sujeitas ao downround. Há casos de flat round e até upround, mas para as startups que tenham forte crescimento, com métricas financeiras boas e sustentáveis”, disse a executiva do SoftBank.
Ecossistema desenvolvido
Ela ressalta que mesmo em momentos de incerteza há teses fortes em todos os setores do Brasil, inclusive com produtos com potencial de exportação para outras regiões. “Temos empresas do portfólio buscando internacionalização, e muitos produtos podem ser exportados. O ecossistema está cada vez mais desenvolvido”, destacou.
Carlos Costa, sócio da Valor Capital Group, reconhece que houve um ajuste significativo em relação ao mercado de 2021. No entanto, colocando em perspectiva macro do ecossistema, percebe-se que o venture capital se tornou uma importante classe de ativos. “Vemos isso com muitos bons olhos. Gostamos de empresas ambiciosas, que querem ser grandes e impactar a região onde atuam. Fizemos ajustes, mas as oportunidades ainda surgem”, disse.
Os executivos mencionaram que este é o momento propício para o M&A. As empresas que estão bem financeiramente têm a oportunidade de comprar concorrentes ou potenciais parceiros, e as que não estiverem terão que aceitar a venda como solução para viabilizar a sobrevivência do modelo de negócio.
*Conteúdo publicado originalmente pelo portal parceiro Startups.
Leia também:
Com ‘breakeven’ na mira, fintechs direcionam esforços para o B2B
A taxa de juros e sua relação com os aportes em startups
Em meio a prejuízo recorde, SoftBank demite 30% do time global