NEGÓCIOS

Bertha Capital já investiu R$ 20 milhões em fintechs em 2024 e vem mais por aí

Neste ano, gestora de recursos fez aportes em cinco empresas do segmento e outros cheques devem ser anunciados em breve

Rafael Moreira/Bertha Capital
Rafael Moreira/Bertha Capital | Imagem: Divulgação

Em 2023, as fintechs representaram quase 60% dos aportes feitos pela Bertha Capital. Neste ano, a gestora de venture capital (VC) já investiu cerca de R$ 20 milhões em cinco empresas do segmento: Saks (previdência), Zemo Bank (infra de pagamentos), Consignei (consignado), CashU (crédito B2B) e Moss (crédito de carbono). Outros cheques devem ser divulgados em breve. 

“Investimos em uma fintech no setor de agroindústria, que ainda será anunciada. Não é uma empresa que financia o produtor rural, e sim a agroindústria que está por trás, a comercialização de produtos no agro”, conta Rafael Moreira, CEO e fundador da Bertha Capital, em entrevista ao Finsiders Brasil

Outras áreas na mira da gestora são cartão consignado público e insurtechs com foco em seguro de crédito, assim como startups que atuam com inteligência no mercado de câmbio e eFX. “No caso de fintechs, nossa grande tese é fazer com que as estruturas de crédito funcionem em prol das investidas”, diz Rafael. 

Na prática, significa que a Bertha não apenas compra participação (equity) nas fintechs, como também estrutura veículos de financiamento (funding). Gestora de recursos autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Bertha possui atualmente oito fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) atrelados a fintechs investidas. 

“Investimos em crédito digital, e as fintechs são as originadoras. Montamos até uma mesa de crédito para suportar essas operações. E dialogamos com outras casas e gestores de crédito, que são parceiras. As fintechs podem operar como SCD [Sociedade de Crédito Direto] ou correspondentes bancários.”

Corporações

O modelo de atuação da Bertha Capital combina venture capital, corporate venture capital (CVC) e venture building. Atualmente, a gestora tem 14 fundos com 35 corporações como investidoras. São companhias que, combinadas, possuem uma receita bruta anual de cerca de R$ 90 bilhões, segundo Rafael. “Se pensar para frente ou para trás na cadeia, duplicamos o valor agregado. Ou seja, são R$ 180 bilhões rodando em nosso ecossistema.”

No ano passado, aportou R$ 53,4 milhões em startups — desse montante, R$ 30,6 milhões foram para fintechs. Entre elas, nomes como Bitgov e Saks. Além dessas, fazem parte do portfólio as fintechs Antecipa Fácil, CashU, Cashin, Consignei, Linkapital, ISPCred, Ume e ZemoBank.

Além das startups do setor financeiro, onde se concentra a maior parte da alocação, a Bertha mira em outras duas verticais: soluções diretas para consumidor (D2C, na sigla em inglês) e indústria 4.0. O foco está em negócios B2B (entre empresas) ou B2B2C (companhias que vendem para outras empresas que, por sua vez, acessam consumidores finais).

IA e mudanças regulatórias

No mercado de fintechs, especialmente as de crédito (“credtechs”), Rafael enxerga grande potencial para uso de inteligência artificial (IA). “E não é porque os temas de IA e dados estão na moda”, diz o CEO. De acordo com ele, a oportunidade está na “riqueza de dados desestruturados” que há no Brasil, como por exemplo, informações fiscais.

“Se trabalhar melhor esses dados, é possível fazer uma originação e gestão de crédito muito mais inteligentes”, afirma. “Para altas volumetrias, a IA vai ser importante para dar mais inteligência na tomada de decisão rápida, especialmente no caso de créditos de baixo valor.”

Para Rafael, a IA também pode ser aplicada internamente nas estruturas de crédito, ou seja, no backoffice. “Fintechs costumam olhar para o ataque e se esquecem da defesa. Isso inclui todo o backoffice, compliance, conciliação, controladoria.”

Se o avanço de tecnologias como IA está na ordem do dia das fintechs, as mudanças regulatórias no setor financeiro também pavimentam a transformação das empresas, assim como a criação de novos modelos de negócios. No crédito, Rafael destaca o Open Finance e a regulamentação das duplicatas escriturais. “O mercado de crédito no Brasil poderia ser muito maior, e essas agendas do Banco Central vão mudar o jogo.”


Vida pré-VC

Antes de fundar a Bertha, em 2019, Rafael fez carreira no setor público. Primeiro passou pela Anatel entre 2005 e 2007. Depois, atuou em diversas posições nos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, e da Indústria e do Comércio, até janeiro de 2019. “Lá atrás, em 2011, fomos criadores do Startup Brasil, que foi meu ingresso no ecossistema de startups. Naquela época, o país não tinha cultura de VC”, relembra.

Cumprido o período de quarentena, em setembro de 2019 Rafael lançou a Bertha Capital. “Nossa tese sempre foi trazer grandes corporações para alocar capital. Em vez de fazer um CVC focado na corporação, a ideia é montar teses mais potentes para essas empresas investirem.”