A comunidade de investidoras-anjo Sororitê está lançando o seu primeiro fundo de venture capital, com tese em diversidade de gênero. O veículo é um dos primeiros deste tipo no Brasil e vai realizar aportes no early-stage. A ideia é dar continuidade ao trabalho feito com o investimento-anjo junto às fundadoras e oferecer mais oportunidades também para as investidoras.
Em entrevista ao site parceiro Startups, Erica Fridman e Jaana Goeggel, cofundadoras da Sororitê, contam que a proposta é investir em startups que tenham pelo menos uma mulher no time fundador, potencial de escalabilidade e de crescimento no setor de tecnologia, com interesse, principalmente, nas verticais de fintech, healthtech, agritech e retailtech.
“Somos agnósticas, mas gostamos de teses que vão resolver grandes problemas do país. Essa é uma evolução de um trabalho longo que a gente tem feito no ecossistema, sempre trazendo a pauta de diversidade com retorno financeiro”, afirma Erica.
O Sororitê Fund 1 terá 22 investidas e parte dos recursos será usada para fazer follow-ons nas melhores startups, entrando com cheques maiores na rodada seed dessas empresas. O objetivo é realizar dois primeiros investimentos ainda este ano. Já o restante será ao longo dos próximos quatro ou cinco anos.
“Estamos no pré-seed porque se a gente fosse investir em Série A simplesmente não teria pipeline. A gente precisa existir no comecinho”, acrescenta Erica.
Demanda das investidoras
O Sororitê Angel Network surgiu em 2021 para fazer a conexão entre as investidoras e fundadoras. Atualmente, fazem parte dessa comunidade mais de 140 executivas e empresárias. Juntas, investiram mais de R$ 6 milhões em 16 startups ao longo dos últimos anos.
Jaana conta que a criação do fundo foi uma demanda das próprias investidoras, além de uma necessidade do mercado. Para compor o fundo, as sócias buscaram atrair investidores tanto pessoas físicas, quanto institucionais, como family offices, empresas e fundos.
A rede de investimento-anjo continuará atuando, mas agora as investidoras terão mais uma oportunidade, explica a sócia: “Muitas dessas mulheres ainda estão na jornada executiva, não têm tempo para fazer análise de startups e tomar a decisão de investir. Além disso, é um portfólio que tem que ser diversificado e cuidado ao longo de 10 anos, o que é bastante tempo. Através do fundo, enxergamos oportunidades para que as mulheres possam tomar a decisão de investir sem ter que se preocupar com a gestão”.
Retorno financeiro
Quando se fala em diversidade, muitos ainda pensam que se trata de uma iniciativa de cunho social. Mas as investidoras ressaltam que há boas razões financeiras para querer financiar empresas com lideranças femininas. Estudo feito pelo fundo de capital de risco First Round Capital revela que startups fundadas por mulheres apresentam performance 63% superior.
Além disso, um levantamento feito pelo Boston Consulting Group (BCG) mostra que startups fundadas por mulheres geram 10% mais receita acumulada em um período de cinco anos. Essas empresas são também mais eficientes. Para cada dólar de financiamento, startups de mulheres geraram 0,78 centavos de retorno, enquanto as startups fundadas por homens geraram menos de metade, apenas 0,31 centavos.
“Não é só uma causa por justiça social, mas a gente entende isso como oportunidade de negócios também. Nosso portfólio tem desde startups mais voltadas ao público feminino, como muitas que são agnósticas de gênero, resolvendo problemas na economia real, trazendo tecnologia para transformar setores”, explica Jaana.
Ecossistema desigual
Para as fundadoras da Sororitê, a expectativa é que o novo fundo ajude a incentivar mais mulheres a ingressarem no ecossistema de inovação, ainda muito desigual no mundo todo. No Brasil, menos de 20% dos fundadores são mulheres, segundo dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Além disso, startups com lideranças femininas recebem menos de 12% dos recursos de VC no país.
“Para quem é fundadora e passa por essa jornada, que é muito dura naturalmente, ter uma interlocução feminina que se propõe justamente a levar o dinheiro carimbado de alguma forma motiva. Já aconteceu de fundadoras ficarem emocionadas quando contamos que estávamos construindo esse fundo. Mesmo que a gente acabe não dando o cheque naquele momento, saber que a tese existe diz que ela pode tentar, que ela pode continuar fazendo”, diz Erica.
Segundo a investidora, essa também será uma oportunidade de provar que os aportes em startups com lideranças femininas são um negócio lucrativo.
“Tem projetos de startups muito bons, com muito potencial, que podem não estar recebendo dinheiro ou recebendo menos do que deveriam. A gente está super bem posicionada para selecionar os melhores projetos e temos uma responsabilidade gigante, de provar que essa é uma tese de retorno. Caberá a nós daqui a 10 anos contar do sucesso desse fundo, e espero que até lá não sejamos mais as únicas”.
*Conteúdo publicado originalmente pelo site parceiro Startups.