O Drex é pop: bancos, cooperativas e fintechs surfam o “buzz” em torno da nova moeda

Faz algum tempo que a nova sensação tecnológica do mercado financeiro brasileiro, o Real digital – moeda estável emitida pelo governo em blockchain – é assunto recorrente. Não só entre especialistas e imprensa, mas até mesmo entre curiosos.

Desde que o Banco Central batizou a nova moeda de Drex e o piloto de testes saiu do papel, o frisson se intensificou e o Drex virou pop.

Diversos bancos, cooperativas e fintechs integrantes dos 16 consórcios credenciados para participar da experiência vêm anunciando quase que diariamente cada passo dado dentro do projeto.

Afinal, investimento em marketing, assim como foi no advento do PIX, é estratégico para conquistar o cliente antes da concorrência.

Itaú e BTG anunciaram no dia 31/8, conforme reportagem do site parceiro BlockNews, a primeira transferência interbancária na rede do projeto. A movimentação ocorreu das reservas do BTG para o Itaú e depois o caminho inverso, em cinco segundos, de acordo com os padrões que o BC estabeleceu.

Caixa e Banco do Brasil, anunciaram, em 5/9, que também realizaram o teste com sucesso nos dias 30 e 31 de agosto, com transferências de reservas no ambiente piloto do BC. Os valores saíram do BB e foram para a Caixa, e depois voltaram ao Banco do Brasil.

Mas o consórcio de cooperativas financeiras SFCoop (que inclui Sicoob, Sicredi, Cresol, Ailos e Unicred) informou no dia 8/9 que havia realizado antes, em 17/8, a primeira transferência interbancária da era Drex.

“Já temos uma rede com determinados participantes, alguns contratos inteligentes desenvolvidos e disponibilizados pelo BC nesta rede. Conseguimos, agora, realizar com sucesso essa transação”, disse o consórcio em nota.

Em 7/9, outro grande banco privado, o Bradesco, revelou que na véspera havia realizado um transferência interbancária com a Caixa e o Inter utilizando o Drex. Uma versão tokenizada de reservas de ambos foi para o Bradesco, e vice-versa.

Puxando a fila

A Caixa está no piloto num consórcio com a Elo e a Microsoft. Mas, o Banco do Brasil não anunciou se tem e quem são seus parceiros.

Quando anunciou a primeira transação, a presidenta da Caixa, Maria Rita Serrano, lembrou que a transferência usando Drex foi a primeira entre bancos públicos. A informação também é da reportagem do site parceiro BlockNews.

“Estamos entusiasmados com os resultados positivos até agora, e ansiosos para explorar o potencial das moedas digitais e das transações ágeis”, afirmou Maria Rita.

Para a presidenta do BB, Tarciana Medeiros, o Drex permitirá “melhorar serviços bancários com a adoção da tecnologia blockchain e a tokenização. O teste é mais um passo importante do projeto, e demonstra nossa capacidade de incorporar novas tecnologias e inovações aos nossos modelos de negócio”, disse.

O BB foi um dos primeiros a instalar seu validador na rede blockchain do BC, que possibilita criar tokens para simular transações. De acordo com Marisa Reghini, vice-presidenta de negócios digitais e tecnologia do BB, com o Drex vamos poder realizar um financiamento imobiliário em questão de horas.

“Tanto o dinheiro quanto o imóvel serão tokenizados. Todos os participantes obrigatórios desse processo estarão conectados em uma única rede. Esse é um caso que vai trazer comodidade aos clientes, melhorar a eficiência da operação, reduzir custos e ampliar o mercado”, explica Marisa.

Entretanto, outro setor a se beneficiar muito com a tokenização é o de investimentos, com a possibilidade de se tokenizar títulos públicos ou privados, distribuindo-os de forma fracionada para pequenos investidores”, disse o BB em comunicado.

Os nós

Em 6/9, um dia antes do anúncio do Bradesco, a Genial Investimentos informou que finalmente conseguiu conectar seu nó à rede do Banco Central. O consórcio, liderado pela Genial e pelo Mercado Bitcoin, e composto por Mastercard, Sinqia e Cerc, utilizou a infraestrutura da Genial para a integração.

Embora o consórcio estivesse pronto para a conexão desde meados de julho, a Genial informou em nota que foi necessário aguardar o aumento da banda de conexão na Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN), “um pré-requisito essencial”.

O Agibank também não resistiu a tirar sua casquinha: admitido no consórcio ABBC em 17 de agosto, junto com Stone e Efí, o Agi divulgou nota também no dia 6, comentando as oportunidades abertas.

“A expectativa é que o Drex pavimente o caminho para soluções revolucionárias, conceitos de negócios e modelos de interação que ainda nem conseguimos conceber”.

A opinião é de Marcelo Oliveira, diretor de Tecnologia do Agibank. Segundo ele, “a moeda digital é um convite para cocriar e liderar a descoberta de um futuro financeiro repleto de possibilidades inovadoras.”

Marcando território

Mas, mesmo quem não está envolvido diretamente nos consórcios e na fase de testes, como Fitbank, Rispar e Linker, não perde a chance de marcar seu território.

“Os provedores de serviços de pagamento (PSPs) com capacidade de entregar o PIX com as mesmas qualidades e confiabilidade do cartão de crédito – prontidão e disponibilidade imediata de recursos – fazem parte de um seleto grupo”. A frase é de artigo recentemente enviado à Fintechs Brasil assinado por Octavio Farah, CEO do Fitbank.

Isso porque, segundo Farah, o Índice de Qualidade de Serviços do PIX, do BC, mostra que apenas 14% dos participantes do arranjo conseguem nota máxima.

“A experiência com o PIX precede o que está por vir com o Drex, uma rede escalável de soluções automatizadas, que entregará imediatez, segurança e proteção na movimentação de recurso. Mas, agora, com uma abrangência do varejo até o atacado institucional”, diz, vendendo seu peixe como especialista no assunto “com mais de oito anos de estrada”.

Criptomoedas

“É o primeiro projeto do BC a utilizar tecnologias que foram desenvolvidas para as criptomoedas. A moeda digital mantém a paridade com o real, seguindo a relação de 1 para 1. Isso a diferencia das criptomoedas tradicionais, que são descentralizadas e cujo valor pode flutuar significativamente“, comenta Rafael Izidoro, CEO e fundador da fintech de crédito com garantia em criptomoedas Rispar.

“As vantagens da chegada do Drex são agilidade nas operações, quebra de barreiras globais para a utilização e movimentação da moeda, infraestrutura e segurança que evita fraudes e redução de custos das movimentações financeiras”, diz Ingrid Barth, co-fundadora e COO do Linker.

“Tanto as empresas quanto a população vão poder entender melhor como vai funcionar o Drex, para estarem preparadas para o momento certo”, diz Ingrid.

 O Drex é pop

Assim como o PIX democratizou o acesso a serviços de pagamentos, o Drex está sendo desenvolvido para democratizar o acesso a serviços financeiros, como crédito, investimentos e seguros.

A fase de testes do Drex está sendo desenvolvida em Hyperledger Besu, uma das tecnologias de registros distribuídos (DLT, do inglês Distributed Ledger Tecnology) similares à blockchain. A “programabilidade” através de smart contracts é uma parte fundamental da plataforma do Drex. 

Existem vantagens claras – algumas já pontuadas acima – mas também problemas a superar no processo de desenvolvimento e implantação do Drex.

Segundo o próprio BC informou em 21/8, o piloto vai sofrer um atraso por conta da mobilização dos servidores, e da necessidade de revisão de largura de banda de alguns dos participantes. A expectativa agora é que os clientes possam fazer as primeiras operações com o real digital no fim do ano que vem.

O outro motivo? “A inclusão de participantes tem sido mais lenta do que o planejado e questões de privacidade estão se mostrando um desafio no desenvolvimento da moeda digital”, escreveu o BC em nota.

O BC reforça, ainda, que em alguns casos haverá custos associados ao Drex, dependendo do serviço prestado pela instituição ofertante. “Caberá a cada uma definir a cobrança, seguindo a regulação e considerando o ambiente competitivo. Mas o serviço pode até mesmo ser gratuito ou ter custo significativamente inferior ao de serviço similar anterior à adoção do Drex”.  

Carros, imóveis e benefícios sociais

Um bom exemplo para o uso do Drex é a compra de um carro entre duas pessoas. Nessa situação, é formalizado o contrato inteligente (“smart contract”), feito em linguagem de programação e executado automaticamente entre duas entidades. Tudo é feito simultaneamente com o uso do Drex, evitando a discussão do que será entregue primeiro. O dinheiro e a propriedade serão transferidos de forma simultânea. Se uma das partes falhar, o montante pago e o carro voltam para seus respectivos donos.

“Diferentemente das criptomoedas, como o Bitcoin, cuja cotação é atrelada à demanda e à oferta e pode apresentar volatilidade, o Drex terá o exato valor do Real. Portanto, cada 1 Drex valerá R$ 1. Além disso, o Drex é emitido pelo BC enquanto as criptomoedas são ativos digitais descentralizados, emitidas de forma independente de órgãos reguladores”, lembra Mareska Tiveron, sócia da área de Banking, Fintechs & Startups no Viseu Advogados, e associada do Colink Business Consulting.

Além de contratos inteligentes para negociação de bens de alto valor, como im;oveis e carro, o BC espera também que benefícios sociais também possam ser pagos com a moeda digital.

Saiba mais sobre o Drex aqui.

Os eleitos

  • Bradesco, Nuclea e Setl
  • Nubank
  • Banco Inter, Microsoft e 7Comm
  • Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM
  • Itaú Unibanco
  • Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin
  • Caixa, Elo e Microsoft
  • SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e UnicredXP, Visa
  • Banco BV
  • Banco BTG
  • Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft.
  • Banco B3, B3 e B3 Digitas
  • Consórcio ABBC: Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP
  • MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial
  • Banco do Brasil

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