Apenas 8,2% das fintechs são cofundadas por mulheres

A desigualdade de gênero é uma realidade no ambiente de startups. É o que aponta um estudo que acaba de ser divulgado pela empresa de inovação Distrito, em parceria com a rede global de empreendedorismo Endeavor e com a B2Mamy, empresa que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação. O dado mais alarmante, mas não o único: apenas 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres. Somente 5,1% têm founders mulheres e homens. A grande maioria (90,2%) é fundada exclusivamente por homens. 

Conforme a pesquisa, há dez anos, quando o ecossistema de startups brasileiro ainda estava no seu estágio inicial de desenvolvimento — tinha 18% do tamanho que tem hoje –, as empresas de base tecnológica fundadas apenas por mulheres representavam apenas 4,4% deste mercado e outras 3,5% tinham fundadores de ambos os gêneros. Aquelas fundadas exclusivamente por homem eram 92,1% em 2011. Em 2020, são 90,2%. Quando os quadros societários são analisados, a presença feminina é um pouco maior: 29,5% das startups brasileiras possuem mulheres entre os sócios.

No recorte por setores, as startups voltadas para moda (conhecidas como fashiontechs) têm a maior presença de mulheres — mais de 60% dos negócios no setor foram fundadas por mulheres. No setor financeiro, 8,2% das startups foram cofundadas por mulheres. Quase 30% têm a presença feminina no quadro societário.

Entre as fintechs, os segmentos que lideram por ter uma mulher entre fundadores são crowdfunding (37,5%) seguido por crédito (21,4%), meios de pagamento (14,3%), Risco e compliance (14,3%), Dívidas (12,5%), fidelização (11,8%) e investimentos (10%). Em duas áreas (câmbio e cartão), não há startups cofundadas por mulheres.

“Os números aos quais chegamos comprovam uma disparidade de gênero imensa e que já era percebida pelo ecossistema de empreendedorismo. Proporcionalmente, o número de startups fundadas por homens é quase 20 vezes superior ao daquelas criadas por mulheres”, aponta Lilian Natal, líder do Distrito for Startups, em nota. “Este levantamento traz uma fotografia atual da presença das mulheres neste universo e, com elas, compreendemos quais as reais dificuldades que enfrentam no dia a dia. Reconhecer o problema e entender a sua real grandeza é um primeiro passo para projetarmos uma economia mais igualitária, sustentável, equilibrada e justa”, completa.

“Temos uma baixíssima representatividade de mulheres no ecossistema de inovação. Por isso, desde 2020, assumimos o compromisso de estimular o comprometimento das scale-ups com a construção de um ecossistema mais diverso e inclusivo”, explica Renata Mendes, diretora de Relações Institucionais e Advocacy da Endeavor, referindo-se às startups mais maduras. “O Female Founders nos mostrou  que a falta de diversidade é ainda mais gritante entre scale-ups, grupo que representa apenas 4% das empresas do ecossistema”, completa.

Empreendedorismo feminino

Os dados mostram, ainda, que o empreendedorismo feminino é uma realidade recente. Quase 65% das empresas com mulheres à frente surgiram somente nos últimos cinco anos, e mais da metade delas ainda estão em fase de validação do produto ou início das operações. Para 60% das empreendedoras, por exemplo, escalar o negócio é o principal desafio enfrentado em suas jornadas.

A validação do modelo de negócio (56,4%), a falta de boas conexões (44,6%)  com investidores, mentores e outros empreendedores e a dificuldade em captar investimentos (38,8%) também são questões bastante apontadas pelas mulheres ouvidas. Esse último ponto, inclusive, é confirmado com outro dado levantado pelo estudo: as startups lideradas só por mulheres receberam apenas 0,04% dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado em 2020.

A diversidade é um problema, inclusive, nos fundos de venture capital. Atualmente, 74% dos fundos não têm mulheres entre seus fundadores, nem mesmo em conselhos. E somente 3% têm apenas mulheres entre as fundadoras.

Questionadas sobre captação de recursos, 68,2% das mulheres responderam que não fizeram esse movimento. As demais, não precisaram captar por terem ainda recursos próprios ou por não saberem exatamente o caminho das pedras para isto. Entre as que foram ao mercado em busca de recursos, 36,2% não conseguiram.

No grupo entrevistado, 72,4% das mulheres que passaram por dinâmicas de captação afirmaram ter sofrido assédio moral em função do gênero durante suas entrevistas. Muitas foram questionadas se eram ou se pretendiam ser mães, qual era a idade de seus filhos na ocasião, se possuíam homens no quadro societário e, ainda, se seriam capazes de tocar o negócio por conta própria.

“Sem pontes, capital e habilidades necessárias para navegar nesse universo, as mulheres não se sentem representadas nestes ambientes e suas jornadas são mais árduas”, comenta Dani Junco, CEO da B2Mamy, em nota. “Há 5 anos, temos desenvolvido o ecossistema, acelerando estas fundadoras no início de suas startups, período reconhecidamente mais desafiador para elas. Adaptamos a narrativa, envolvemos elas com a comunidade e oferecemos conteúdos que possam ajudá-las nesta empreitada para que não precisem mais optar entre carreira ou vida pessoal.”

Falta diversidade

O estudo também traça o perfil das empreendedoras, mostrando como também há pouca diversidade entre as mulheres que lideram startups: 76,5% delas são brancas, e 87,5% se declaram heterossexuais. Quase metade afirma não ter filhos.

Nas contas do Distrito, o ecossistema de startups brasileiro tem cerca de 13 mil empresas. Para o estudo (baixe aqui), foram consideradas uma amostra de, aproximadamente, 6.200 startups que apresentaram dados suficientes para todas as análises propostas. Para além da pesquisa quantitativa, uma pesquisa qualitativa foi aplicada a mais de 400 mulheres empreendedoras. A pesquisa tem 96% de nível de confiança, com 4% de margem de erro.