Por Danillo Branco*, para o Finsiders
Em 2019, o Instituto Locomotiva lançou uma pesquisa com um retrato complexo do Brasil: uma em cada três pessoas acima de 16 anos não tem acesso (ou possui um acesso restrito) às instituições bancárias no país. Para o mercado financeiro, esta é uma realidade dura.
Na medida em que todos buscam – e cobram – mais desenvolvimento econômico para todo o país, 45 milhões de brasileiros não conseguem acessar ferramentas básicas de empreendedorismo. Isso representa um total de R$ 817 bilhões fora do sistema financeiro. São soluções básicas, como contas bancárias, tomada de crédito, score bancário ou simplesmente um gerente parceiro.
Quando falamos de inclusão financeira, é muito importante lembrar: uma parte enorme da população precisa, literalmente, ser incluída no sistema. E esse é um desafio monumental. A grande oportunidade de mudar essa realidade está em uma visão muito mais moderna de um conceito antigo. Afinal, o que a tecnologia de hoje pode contribuir para a educação financeira?
Por que incluir não é sinônimo de bancarizar?
As instituições financeiras e fintechs entregaram centenas de grandes ideias nos últimos anos. São ótimos produtos, grandes inovações de interface e facilidade de acesso. Mas ajudar o consumidor a navegar entre as suas escolhas ainda é um desafio em todo o mundo.
Ser user-friendly está muito além de ferramentas como chatbots, alertas e nudgets – ferramentas que melhoram a visualização entre serviços e ajudam na tomada de decisões em pagamentos, crédito e seguros, mas que ainda representam poucas mudanças em um cenário pós-pandêmico, em que 78% dos lares têm dívidas prestes a vencer.
E essa é uma crise mundial: segundo relatório da consultoria inglesa PA, no Reino Unido, 37% dos jovens precisaram de crédito para pagar contas essenciais em 2022. Grandes nomes que investiram no conceito ‘buy now, pay later’ (uma tradição brasileira, mas novidade lá fora), como as australianas Afterpay e Zip, enfrentam grandes tempestades, pivotando seus modelos de negócio após quase US$ 300 milhões em perdas no ano.
Mais do que nunca, é preciso aprender a navegar as crises com precisão. E novas fintechs e instituições precisam repensar seus modelos. Ensinar sobre investimentos, dívidas, números e possibilidades de mercado se tornou a grande inovação.
Não é o que se diz, é o que o outro entende
“Assimetria” é a palavra que estamos buscando. O Open Finance tem sido construído com a finalidade de ajudar bancos e instituições de todos os tipos a ter melhor acesso a grande volumes de informação, que devidamente enriquecidos trazem insights extremamente precisos e individualizados.
Tudo para construir uma relação mais pessoal, direta, inteligente, em que o indivíduo – que não deveria ser mais tratado apenas como uma meta de vendas – tem total compreensão de suas escolhas. O cliente que inova, cresce e traz lucro para si é o maior investimento para a instituição.
Criar novas contas bancárias e dar acesso a novas soluções online é apenas parte da jornada. Para uma inclusão real, é necessário gerar cidadãos conscientes e produtivos – totalmente educados financeiramente.
*Danillo Branco é CEO da Finansystech, especializada em conectar empresas do mundo do Open Finance.
As opiniões neste espaço refletem a visão dos especialistas e executivos de mercado. O Finsiders não se responsabiliza pelas informações apresentadas pelo autor do texto.
Leia também:
Artigo | O ponto de inflexão para a inclusão financeira na América Latina
Cinco cenários para o futuro do setor bancário, na visão da PwC