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Banco Central retomará testes do real digital em setembro - BlockNews

O Banco Central (BC) vai retomar em setembro o programa de testes de casos de uso do real digital, o Lift Challenge, que estava previsto para começar em abril passado. O atraso foi por conta da greve de servidores da instituição. O programa dura quatro meses e deve acabar entre janeiro e fevereiro, já que nesse período há as festas de final de ano. A informação, publicada no site parceiro BlockNews, foi dada por Fabio Araújo, responsável pelo projeto da moeda digital do BC (CBDC), durante a Febraban Tech 2022, em São Paulo. Depois desse período, o banco vai publicar os resultados e deverá iniciar uma fase de piloto.

De acordo com Araújo, a tendência é que haja competição do real digital com conta corrente. Mas, a expectativa do BC é que o mercado ofereça serviços com as stablecoins que as instituições irão criar com base nos depósitos, ou seja, vão tokenizar os depósitos. Espera-se que esses serviços sejam mais atraentes não apenas porque podem ser diferentes, como finanças descentralizadas, como também mais baratos e mais ágeis. E também que essas stablecoins dos bancos continuem a prover crédito ao mercado, como já acontece com o dinheiro que os correntistas depositam em conta corrente, “multiplicando o dinheiro na economia”, afirmou. O tokens, ou stablecoins, ficam custodiadas no banco. Só que uma das diferenças aqui é que as stablecoins permitirão acesso a serviços na Web 3.0.

De acordo com Araújo, a tokenização de ativos é uma parte “fundamental para o sucesso do real digital”. A CBDC vai facilitar as operações envolvendo esses tokens. E reafirmou que esse movimento pode eliminar intermediários que hoje são necessários para darem garantia a operações financeiras. “A gente acha que quanto menos intermediário tiver, de forma que garanta integridade da operação, esse é o caminho a seguir”. E relembrou que é a tecnologia que vai fazer esse papel de garantidor. “Se a tecnologia permite isso sem custo adicional, pode-se prestar o mesmo serviço a um custo muito menor e amplia-se a base (de clientes) que pode ser atendida.

Para Thamilla Talarico, sócia-líder de Blockchain e Cripto da EY Brasil, o real digital vai cumprir um papel de pagamentos que as criptomoedas ainda não conseguiram, porque hoje funcionam bem como investimentos. E, afirmou, “a tokenização é o grande valor que tiramos dessas inovações, porque dá liquidez a ativos não tão líquidos. Assim, esses ativos ficam mais acessíveis para investidores e também para empreendedores na captação de recursos.

Quando o real digital chegar, a população já estará acostumada a esse tipo de transação, acredita Rafael Morais, vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa Econômica Federal (CEF). E como exemplo deu o fato de que em um ano até junho passado, o número de chaves cadastradas para uso no Pix no banco cresceu cerca de 100 vezes. Eram 93 milhões há dois meses. A instituição, segundo ele, responde por 20% de todas as transações do Pix. “De janeiro a junho de 2022, cresceram mais de 700%. Em janeiro de 2021 eram 44 milhões de transações e passaram para 357 milhões no mês de junho de 2022”, completou.

O desenho do real digital continua forte também no propósito de chegar ao usuário final. Seria de atacado para operações entre os bancos. Mas de varejo porque a instituição “quer que as pessoas possam usar smart contracts.” Na prática, isso significa dar acesso a produtos e serviços que hoje não chegam a quem tem menos dinheiro. E um dos motivos é que gerenciar contratos na forma como acontece atualmente, tem um custo que se torna proibitivo para transações de menor valor. “Mas se escreve um protocolo, não faz diferença entre R$ 1 milhão e R$ 1 real. Reduzir o ticket da transação é um ponto fundamental que a tecnologia traz para o mercado financeiro”. Inclusive, prevê-se também maior atuação de fintechs em áreas que hoje não atuam por conta disso.

Thamilla lembrou dos diversos casos de uso que o real digital vai permitir, como o payment versus payment no cãmbio de moedas, sem intermediários, e maior integração com internet das coisas. “É a viabilização dos protocolos DeFi”, completou. E o vice-presidente da Caixa disse que uma das consequências da tokenização é ter juros menores nos empréstimos por conta dos custos reduzidos. Fora a redução de gastos com transporte de numerário para agências, caixas eletrônicos e lotéricas.