Os crimes financeiros e de estelionato têm três pilares básicos: ganância, vaidade e curiosidade. A afirmação é de André Brandão, promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e integrante do “Cyber Gaeco“, unidade do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado voltada ao enfrentamento de crimes cibernéticos.
“A ganância faz a pessoa achar que aquela mensagem vai dar algum dinheiro. A vaidade leva alguém a acreditar que um desconhecido está apaixonado por ela. E a curiosidade faz com que cliquem em links [falsos] da Receita ou de encomendas que não pediram”, explicou o promotor em painel durante o evento “Digital Privacy Summit 2025“, realizado nesta segunda-feira (8/9) pela Opice Blum Academy, vertical de educação do escritório Opice Blum Advogados.
Para o promotor, é fundamental desenvolver estratégias de prevenção e educação para fazer frente à escalada de fraudes e golpes digitais. “Nunca vamos conseguir impedir todos esses crimes, nem investigar todos eles”, afirmou Brandão. De acordo com ele, o próprio Cyber Gaeco de São Paulo tem uma equipe de apenas três promotores e oito funcionários. “É pouco para dar apoio ao estado de São Paulo como um todo e trabalhar em parceria com outros Gaecos pelo País.”
Ele lembrou ainda que, diante do crescente volume de crimes financeiros digitais, ampliar a capacidade de investigação é urgente. “O criminoso não tem medo da lei ou da pena. O criminoso tem medo de ser pego”, disse. “E ninguém trabalha sozinho. Existe uma integração com outras forças de inteligência e policiais.”
Golpe x fraude
Também presente no debate, Mariana Dib, diretora do BTG Pactual, alertou que no dia a dia do setor financeiro os golpes são mais comuns do que as fraudes. “E na maioria das vezes, as próprias vítimas se colocam neles [nos golpes]”, afirmou. “Fraude geralmente significa que possivelmente contribuímos com algum detalhe, com falha de segurança ou na prestação de algum serviço”, pontuou a executiva.
Segundo ela, além dos clássicos golpe da maquininha e dos boletos falsos, as pessoas vêm caindo em “promessas fáceis” envolvendo investimentos. “Tenho visto muito golpe de pirâmide financeira, de promessas fáceis que as pessoas caem por ganância ou vaidade. E mesmo pessoas instruídas, com ótima formação, estão caindo em golpes e fazendo transferências de valores altos via Pix”, exemplificou Mariana.
Na visão de Camilla Jimene, sócia do Opice Blum Advogados, responsável pela área de contencioso digital e moderadora do painel, os golpes já podem ser encarados como uma “epidemia”, em razão da escalada de casos e da sofisticação crescente. “As pessoas acham absolutamente razoável clicar em qualquer link, mas acham loucura depositar dinheiro na conta de um estranho sem conferir. A alfabetização digital é fundamental”, defendeu ela.
Antonio Arruda Neto, fundador e CEO da Pacific Sec, especializada em cibersegurança, alertou para o descompasso entre a velocidade do avanço da Inteligência Artificial (IA) e o ritmo de evolução do arsenal de medidas e ferramentas de segurança. “A adoção de IA pelas empresas está numa velocidade absurda”, disse. Ele apontou, ainda, o risco de vazamento de dados estratégicos por desenvolvedores, que levam “segredos de negócio” para chatbots de IA. “Acho que a gente vai ter muitas questões relacionadas a vazamento de dados estratégicos por conta da ampla adoção de Inteligência Artificial de forma ininterrupta.”