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Real digital: compatibilidade com Ethereum está no radar do BC; rede será permissionada - BlockNews

O Banco Central (BC) está testando diferentes redes blockchain para o real digital e em relação a Ethereum, “é uma possiblidade”. Uma vantagem da criação de Vitalik Buterin é que “há várias redes compatíveis com a tecnologia de Máquinas Virtuais Ethereum (EVMs, na sigla em inglês)”. Foi o que disse o coordenador do projeto da moeda digital do BC, Fábio Araujo, em sua aula no curso sobre finanças descentralizadas (DeFi) do Lift Learning, programa da federação dos servidores do BC, Fenasbac, em parceria com o BC.

A reportagem foi publicada primeiro pelo site parceiro BlockNews.

Os projetos que testam o real digital no Lift Challenge do BC incluem redes como Ethereum, Corda e Stellar. Um dos pontos mais importantes em teste é a interoperabilidade entre as redes, ou seja, o real digital poder ser emitido numa rede e stablecoins de bancos em outras. E todas “conversarem”. A moeda digital não é uma stablecoin, alertou Araujo, mas uma representação da moeda soberana e quem a tem na carteira, poderá recebê-la fisicamente.

A EVM é a ferramenta da Ethereum que permite implantar e executar contratos inteligentes e também controlar a situação de cada novo bloco da rede. Ter compatibilidade EVM significa que outra rede – como Solana e Polygon – consegue ter contratos inteligentes que podem executar em EVM. Diversas blockchains são hoje essa camada e buscam oferecer redução de custo e tempo de transação.

O BC está avaliando “usar modelos de open source para trabalhar com os desenvolvimentos que ocorram dentro do espaço tecnológico do tipo de DLT que decidir adotar. Isso (a adoção) ainda não está fechado”, completou Araujo. E disse ainda que a rede do real digital será permissionada, “só com nós de participantes permissionados”.

BC testa infraestrutura do real digital similar a DeFi

O BC até tem no radar a ideia de descentralização progressiva. Na verdade, os mercados já caminham para retirarem alguns intermediários dos processos, como lembrou Araújo. “Mas, (uma descentralização) total é um objetivo que parece estar um tanto longe”. Só que a evolução da tecnologia e da regulação podem ir mudando esse cenário. completou.

A infraestrutura tecnológica com que o BC trabalha e que é similar à de DeFi prevê uma camada DLT básica de liquidação. No slide apresentado do modelo citado há citação à blockchain Ethereum, a principal para finanças descentralizadas. Essa camadaserá usada para emissão monetária do real digital e de outras stablecoins autorizadas pelo BC. Assim, se alguém criar um real digital sintético em outra blockchain, está criando uma stablecoin que precisa ser regulada.

Acima dessa camada de liquidez vem a de ativos tokenizados que podem ser registrados. Essas duas camadas são o campo de atuação do real digital. Sobre isso, são construídos os protocolos, que são análogos aos mercados. As duas camadas posteriores seriam análogas ao open finance, com diferentes serviços financeiros oferecidos ao mercado através de agregadores, explicou Araujo.

Nos testes do real digital, um dos projetos que o BC escolheu foi do protocolo de empréstimos descentralizados Aave. O projeto é de criação de um pool de liquidez – junção de recursos de várias pessoas – para oferecer crédito. Mas, dentro das regras do BC.

“Estamos tentando compreender como a tecnologia pode ser incorporada de forma segura e com simetria de conhecimento entre quem desenvolve e quem consome”. Essa maior simetria é o que o mercado financeiro chama de suitability. O objetivo é proteger o investidor para que não entre em investimentos fora de seu perfil e até mesmo caia em fraudes.

Regulação para evitar brechas da descentralização

Questionado sobre transparência de DeFi, o coordenador do real digital afirmou que a questão não é tanto que o contrato não é transparente. “O contrato tem assimetria de conhecimento entre quem desenvolve e quem usa e isso sempre vai acontecer”. Motivo: não é todo mundo que entende de códigos. No entanto, a questão da transparência está mais em quem responsabilizar se alguma coisa der errado. Por exemplo, quem responsabilizar numa Organização Autônoma Descentralizada (DAO), um modelo bastante usado em DeFi.

Assim, como não poderia ser diferente, regulação para o BC é crucial. De acordo com Araujo, a questão da “descentralização para a regulação é que se você tem alguém prestando serviço financeiro que não é regulado pelo BC, então você tem um problema de integridade dentro do sistema. Se alguém faz um deploy (implantação) de código de smart contract dentro do sistema, você tem dificuldade de responsabilizar por algum problema que ocorra. A descentralização vai no mesmo nível da descentralização do open finance”.

Rede para criação de produtos Web3

Para o BC, a plataforma que está desenvolvendo para o real digital é para permitir pagamentos inteligentes com contratos inteligentes – o que é bem diferente do Pix. É para instituições de finanças tradicionais terem mais segurança para desenvolverem produtos da Web3. Assim como para quem desenvolve produtos em Web3 possa “migrar seus trabalhos para essa plataforma”, buscando alinhamento regulatório com o BC. Isso significa buscar segurança jurídica e menos dor de cabeça sobre possíveis interrupções de suas operações.

Araujo afirmou que as discussões do BC costumam ser mais fechadas. Mas a inovação tem ocorrido numa velocidade tão grande, que a instituição concluiu que poderia ficar discutindo ideias ou levar ao mercado proposta de desenvolvimento conjunto dentro de escopo definido. Esse escopo são as diretrizes que divulgou em 2021. E assim, ter muitos ganhos com esse trabalho com instituições financeiras e atores do segmento de criptomoedas.