BALANÇOS

Neon e Creditas fecham semestre no vermelho; C6 e PicPay lucram

Das quatro fintechs, todas sem capital aberto na bolsa, o C6 foi o que teve o maior lucro na primeira metade do ano: quase R$ 1 bi

Resultados financeiros
Resultados financeiros | Imagem: Adobe Stock

Enquanto as fintechs com ações listadas na bolsa aumentaram em 74% o lucro no primeiro semestre, no caso de quatro delas que ainda não têm capital aberto, os números vieram mistos no período.

O resultado da instituição de pagamento (IP) da Neon foi negativo em R$ 278,9 milhões, dificultando a meta de atingir o lucro ainda em 2024. A Neon publicou o relatório financeiro em seu site, mas ainda não fez a divulgação à imprensa.

Já a Creditas divulgou os resultados na quinta-feira (29/8), e também segue com perdas. Após um primeiro trimestre no azul, o prejuízo líquido ficou em R$ 13,6 milhões no semestre. Mas ambos vêm melhorando os indicadores, num momento em que as fintechs perseguem o caminho da lucratividade ou, no mínimo, do breakeven.

No lado oposto, C6 Bank reverteu o prejuízo em lucro, chegando a quase R$ 1 bilhão positivos. O PicPay também aumentou o resultado positivo na última linha do balanço.

Antes de detalharmos os números, vale fazer algumas observações. Os resultados de C6 e Creditas são ajustados, conforme as próprias companhias indicam em suas demonstrações financeiras.

Neon: prejuízo menor

Em busca do lucro ainda este ano, a Neon não chegou ao resultado positivo na primeira metade de 2024. De acordo com as demonstrações financeiras da instituição de pagamento do grupo (a Neon Pagamentos), a fintech apurou prejuízo de R$ 278,9 milhões no período. As perdas, porém, diminuíram entre um ano e outro – nos seis primeiros meses de 2023, somavam R$ 476,1 milhões.

No relatório da administração que acompanha os números, a Neon destaca que priorizou o crescimento sustentável e lucrativo dos produtos de crédito, além dos produtos já consolidados. Além disso, ampliou o relacionamento com clientes atuais e potenciais, assim como fez novos investimentos estruturais para ampliação do portfólio.

Segundo a empresa, houve esforços também em começar a originar crédito por meio da Neon Financeira, o que reduz o custo de funding. “As licenças da Neon Financeira (SCF) e Neon Pagamentos (IP) também permitiram maior independência operacional da Neon no que diz respeito a processos e serviços bancários para os clientes, também reduzindo substancialmente o custo operacional da companhia”, diz o texto.

De janeiro a junho de 2024, as receitas de intermediação financeira da Neon Pagamentos foram de R$ 512,2 milhões, alta de 22% ante igual período de 2023. Serviços no app, por exemplo, tiveram aumento de 71% na receita nesse mesmo intervalo, para R$ 29,1 milhões. Já as operações com cartões de débito e crédito geraram R$ 299,4 milhões em receitas, contra R$ 243,8 milhões um ano antes.

Já as despesas de intermediação financeira quase dobraram, na mesma base de comparação, chegando a R$ 302,8 milhões. As obrigações de empréstimos saltaram de R$ 22,8 milhões no primeiro semestre de 2023 para R$ 178,8 milhões em igual período deste ano.

Creditas: inversão de sinal

Depois do primeiro lucro trimestral de sua história, no período encerrado em março deste ano, a Creditas voltou a inverter o sinal. Considerando os números de janeiro a junho de 2024, a fintech de crédito com garantia teve prejuízo líquido ajustado de R$ 13,6 milhões. As perdas nem se comparam, claro, aos R$ 246,7 milhões negativos no primeiro semestre de 2023.

No relatório publicado em seu site, a Creditas diz ter iniciado em 2024 uma nova fase em sua história, com um “crescimento sustentável e lucrativo”. Porém, quando fala sobre lucro, a fintech se refere ao lucro bruto. Esse, sim, vem crescendo nos últimos trimestres. Na primeira metade de 2024, totalizou R$ 415 milhões, alta de quase 55% em relação a igual período do ano passado.

“Desde o final de 2023, operamos com fluxo de caixa positivo, permitindo autofinanciar o crescimento da empresa”, afirmou a Creditas no texto. A empresa diz que continua a construir uma “base sólida que gera lucros para reinvestir no crescimento futuro”. Já as receitas ficaram praticamente estáveis entre um ano e outro, atingindo R$ 980 milhões ao final do primeiro semestre.

C6: quase bilionário

Das quatro fintechs, o C6 foi o que apresentou o maior lucro líquido de janeiro a junho. O banco digital que tem o JP Morgan Chase como acionista registrou resultado positivo de R$ 969 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 285,3 milhões em igual período de 2023. A instituição já havia reportado o primeiro lucro de sua história de janeiro a março deste ano. Agora foi o primeiro balanço semestral no azul.

De acordo com o C6, o resultado é fruto da combinação entre expansão de receitas, controle de custos e estabilização da provisão para devedores duvidosos (PDD). “Em cinco anos, construímos um banco de varejo completo com receitas diversificadas e baixo custo que nos permite expandir exponencialmente nossa alavancagem operacional”, afirmou Philippe Katz, CFO do C6 Bank, em nota.

A receita líquida do banco atingiu R$ 4,15 bilhões nos seis primeiros meses do ano, alta de 57,4% em relação ao mesmo período de 2023. Uma das principais explicações para o resultado, informou o C6, foi a expansão e diversificação da carteira de crédito, que cresceu 25% entre um ano e outro.

Modalidades de crédito com garantia, como consignado (quase metade do portfólio) e financiamento de veículos, ajudaram a puxar os números para cima. A inadimplência para empréstimos com atraso de 90 dias ou mais ficou em 3,1%, ante 5,3% no primeiro semestre de 2023.

“Além de expandir a carteira de crédito, nós registramos um aumento expressivo na captação de recursos, depois de dar início a uma estratégia de diversificação de funding”, disse o CFO. A base de depósitos da instituição chegou a R$ 57 bilhões ao final de junho deste ano, contra R$ 34 bilhões no mesmo período de 2023. O C6 tem cerca de 30 milhões de clientes.

PicPay: lucro de R$ 61,8 milhões

Quem também vem numa trajetória ascendente na última linha do balanço é o PicPay. No primeiro semestre de 2024, a fintech da J&F registrou lucro líquido R$ 61,8 milhões. A cifra significa uma alta de mais de 24 vezes ante igual intervalo de 2023. O resultado também representou quase o dobro do lucro no ano passado inteiro (R$ 37 milhões).

Em nota, Eduardo Chedid, CEO do PicPay, diz que os números reforçam o compromisso da empresa com o crescimento aliado à rentabilidade. “A melhora na qualidade dos nossos números e a consolidação das novas avenidas que construímos nos levaram a mais um grande desempenho”, afirmou.

Nos seis primeiros meses do ano, a receita total do PicPay alcançou R$ 2,4 bilhões, um incremento de 50% em relação ao mesmo período de 2023. Dando sequência à estratégia de diversificação, a fintech expandiu novas avenidas de crescimento, como crédito e adquirência, assim como seguiu investindo em cross-sell de produtos e serviços. De acordo com o PicPay, a receita média por usuário cresceu 40% no primeiro semestre, para R$ 35.

Segundo a empresa, a carteira de crédito – que avançou 62%, para R$ 6 bilhões – foi um dos principais fatores da diversificação de receitas. Os produtos com garantia representaram quase metade (47%) do portfólio, mas 68% do volume originado no primeiro semestre. A inadimplência de 15 a 90 dias ficou em 3,94% ao final de junho.

Além de ampliar as receitas, o PicPay notou uma melhora na eficiência operacional no primeiro semestre. Nesse sentido, a relação de custos e despesas sobre receita total passou de 98,7% ao final de junho de 2023 para 76,8% no mesmo intervalo deste ano. Conforme o PicPay, isso indica um “controle mais eficiente dos gastos”. Atualmente, o super app totaliza mais de 36 milhões de clientes ativos, base que cresceu 10% entre um ano e outro.