CONTRASTE

PicPay e C6 lucram mais de R$ 2,5 bi em 2024; Creditas e Neon seguem com prejuízo

Diversificação e ampliação de portfólio, e crédito com garantia são alguns dos destaques dos balanços das fintechs não listadas em bolsa

Resultados financeiros/lucro ou prejuízo
Resultados financeiros/lucro ou prejuízo | Imagem: Adobe Stock

Se as maiores instituições financeiras digitais listadas em bolsa mantiveram bons resultados em 2024, com alta de 62% no lucro combinado, o mesmo não se pode dizer dos principais bancos digitais e fintechs que não têm capital aberto. C6 Bank e PicPay fecharam o ano passado com o balanço no azul. Já Creditas e Neon seguiram com prejuízo, embora venham melhorando os números nos últimos trimestres.

Último a publicar o desempenho, nesta segunda-feira (31/3), o PicPay encerrou 2024 com lucro líquido de R$ 251,8 milhões. A cifra é quase sete vezes maior em relação aos R$ 37,4 milhões registrados no ano anterior. A receita líquida do banco digital da J&F atingiu R$ 5,6 bilhões em 2024, avanço de 61% na comparação anual. Já a carteira de crédito somou R$ 10,6 bilhões no período, número 18 vezes superior ao apurado um ano antes. O volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês) saltou 55%, para R$ 421 bilhões.

O PicPay chegou ao final de 2024 com 60,2 milhões de contas, incremento de 14% em relação ao ano anterior. A base de usuários ativos, por sua vez, cresceu 13%, alcançando 38,9 milhões. A receita média por usuário ativo (ARPAC, na sigla em inglês) avançou 75%, chegando a R$ 47 no quarto trimestre de 2024.

Em nota, o CEO do PicPay, Eduardo Chedid, atribuiu o resultado à estratégia de lançamento e cross-sell (venda cruzada) de produtos. Isso vem impulsionando a diversificação do portfólio. “Com um modelo eficiente e um custo de servir baixo, seguimos ampliando nossa presença no mercado de forma sólida e sustentável, com avanços na carteira digital e destaque para a evolução da carteira de crédito”, afirmou.

No C6, foco em crédito com garantia

Assim como já tinha ocorrido no primeiro semestre de 2024, o C6 foi o banco digital que apresentou o maior lucro no consolidado do ano passado. A instituição que tem o JP Morgan Chase como acionista registrou ganhos de R$ 2,3 bilhões em 2024. Assim, reverteu o prejuízo de R$ 726 milhões no ano anterior. Foi o primeiro resultado anual positivo desde que o C6 entrou em operação, em agosto de 2019.

De acordo com o C6, o desempenho reflete o crescimento e a melhora na carteira de crédito, assim como a alavancagem operacional. Entre 2023 e 2024, a receita líquida do banco teve alta de 45%, somando R$ 8 bilhões. O aumento e diversificação da carteira de crédito, além do incremento das receitas com serviços, puxaram a receita para cima.

A carteira de crédito atingiu R$ 60 bilhões em 2024, alta de 30% ano contra ano. O avanço foi puxado pelas modalidades com garantia (consignado e financiamento de veículos, principalmente), que representam quase 78% do portfólio do banco. A base de clientes do C6 é de cerca de 35 milhões de clientes.

“Encerramos 2024 com um crescimento forte em todas as áreas de negócio e com um resultado expressivo que só reforça a consistência do nosso modelo”, disse Marcelo Kalim, CEO do C6 Bank, em nota. “Chegar ao lucro é consequência natural do nosso trabalho contínuo de gerar receitas crescentes sem perder de vista o controle dos custos.”

Neon: melhora no prejuízo

Das quatro fintechs, a Neon apurou o maior prejuízo em 2024. Conforme as demonstrações financeiras da Instituição de Pagamento (IP) do grupo – a Neon Pagamentos -, a fintech somou perdas de R$ 299,6 milhões no período. O resultado representa uma melhora de 66% em relação ao balanço de 2023, quando a fintech teve perdas de R$ 880,6 milhões.

No relatório da administração que acompanha os números, a Neon diz ter priorizado o crescimento sustentável e lucrativo dos produtos de crédito, além dos produtos já mais consolidados. Além disso, ampliou o relacionamento com clientes atuais e potenciais, assim como realizou novos investimentos estruturais para ampliação do portfólio. A fintech informa, ainda, que nos últimos dois meses de 2024 alcançou os primeiros resultados positivos da sua história. A Neon diz ter mais de 36 milhões de clientes.

Ao longo do ano passado, a Neon concentrou esforços em iniciar a originação de crédito por meio da Neon Financeira, “o que substancialmente o custo de funding à medida que reduz a dependência exclusiva de FIDCs [Fundos de Investimento em Direitos Creditórios]. Ainda segundo a empresa, as licenças de financeira e de IP também permitiram maior “independência operacional” em relação a processos e serviços bancários para os clientes. De acordo com a Neon, isso vem reduzindo “substancialmente” o custo operacional.

Em 2024, as receitas de intermediação financeira da Neon Pagamentos somaram R$ 939,4 milhões, recuo de quase 3% ante o ano anterior. As receitas de operações com cartões de débito e crédito, por exemplo, caíram 18% no intervalo. As despesas de intermediação financeira, por sua vez, cresceram cerca de 25%, para R$ 514,2 milhões. A carteira de crédito (considerando cartão de crédito, consignado privado e crédito pessoal) atingiu R$ 6,2 bilhões em 2024 – o maior volume vem de cartão (R$ 4,65 bilhões).

Creditas: crescimento futuro de 25%

A Creditas também registrou perdas no ano passado. Em 2024, a fintech de crédito com garantia teve prejuízo líquido de R$ 106,3 milhões, uma melhora de 74% ante o resultado negativo de R$ 411 milhões apurado em 2023. O lucro bruto somou R$ 889 milhões, aumento de 45% na mesma base de comparação. A receita alcançou R$ 2,03 bilhões, alta de 6,4%. Já a carteira de crédito também avançou 6,4%, para quase R$ 6 bilhões.

Segundo a Creditas, 2024 foi um ano de “consolidação”. Houve crescimento de originação de 27% em relação ao ano anterior, ao mesmo tempo em que a empresa manteve o lucro operacional mais “próximo do ponto de equilíbrio” – em 2024, o resultado operacional ficou negativo em R$ 70 milhões.

Com margem bruta de 44,6%, dentro da faixa projetada de 40–45%, a empresa mira um crescimento anual de 25% ou mais nos próximos anos, mantendo a rentabilidade da carteira. “Continuamos focados em construir uma empresa com uma base sólida que gere lucros para reinvestir em crescimento futuro, possibilitando a reaceleração da originação sustentada pelos próprios recursos da companhia”, disse a fintech, no texto que acompanha os resultados.

*Matéria atualizada para corrigir o título, que informava incorretamente lucro combinado de R$ 1,5 bilhão de PicPay e C6.