Por fora, mais parece uma loja de doces. Mas é só fachada. Uma das casas “secretos” mais exclusivas de São Paulo, só para sócios e convidados, por dentro replica a atmosfera de um bar de jazz da Nova York dos anos 1930. Lá, onde é terminantemente proibido filmar e fotografar, a fintech Revolut decidiu abrir o jogo sobre como pretende crescer no Brasil. Dando crédito, por exemplo.
Criada na Inglaterra pelo russo Nikolay Storonsky e pelo ucraniano Vlad Yatsenko em 2015, bem antes da guerra, a fintech é hoje uma das maiores do mundo. Seu valor de mercado, estimado de US$ 48 bilhões, é próximo ao do Nubank. No Brasil, onde chegou em 2021, o Revolut escolheu ir devagar, mantendo uma postura low profile. Mas, no evento realizado no bar secreto na segunda-feira (16/4), o CEO brasileiro, Glauber Mota, decidiu dar alguns spoilers a parceiros e jornalistas.
Não é a primeira vez que Glauber promete “pisar no acelerador”. Mas dessa vez deu exemplos concretos. E diante de muitas testemunhas. “Acho que a gente ficou um pouquinho de tempo muito calados, e agora a gente tem muita coisa nova pra falar pra vocês”, anunciou.
“Posso até tomar um puxão de orelha por isso”, continuou. “Não posso dizer que estamos dando crédito. Mas estamos começando um piloto de cartão de c’redito junto com a Visa, com nossos primeiros clientes, para testar a oferta”. Segundo Glauber, o Revolut decidiu oferecer por aqui tudo o que já oferece nos outros países. A meta é conquistar a ‘principalidade’ do cliente brasileiro sendo um banco completo – e não apenas uma conta internacional multimoeda.
Crédito controlado
A liberação dos cartões de crédito será feita de forma controlada, com foco nos usuários que já utilizam a plataforma aqui. “O Brasil também passou no crédito. Está a caminho. Mas a gente vai ser muito cuidadoso com esse lançamento”, afirmou Glauber.
“Vamos fazer convites para aqueles clientes que já estão conosco há mais tempo, que nós já conhecemos, que já temos uma boa relação.” A empresa não divulgou data para o lançamento amplo do crédito.
Luisa Bernardi Lopes, responsável por produtos e operações do Revolut no Brasil, reforçou que a estratégia é “co-construir” o produto com os usuários. “Decidimos privilegiar aqueles clientes que acreditaram na gente desde o começo. A ideia é poder ouvir também o que vocês querem.”
Além do crédito, a Revolut anunciou outras novidades para o mercado brasileiro. Uma delas é a conta remunerada com rendimento de 100% do CDI, liquidez imediata e pagamento diário de juros. O produto já está disponível no aplicativo.
Competição
Na sua principal frente de atuação o Brasil, a conta global, o Revolut decidiu promover uma redução da margem de 1% para 0,6%. “A gente quer provocar os nossos competidores, a gente quer mostrar que a gente veio pra ficar no Brasil”, disse Glauber.
Embora ofereça conta digital grátis, o Revolut acaba de lançar a categoria Metal, que custa R$ 79 por mês e oferece uma série de serviços, incluindo cartão de débito Visa Infinite, dois acessos gratuitos a salas VIP via Dragon Pass e assinaturas internacionais como Tinder Gold, Financial Times, WeWork, ClassPass, VPN e PicTart. Segundo a empresa, o valor dos benefícios somados chega a R$ 500 a R$ 600 por mês.
A fintech também lançou uma conta voltada a menores de idade, com foco em educação financeira. Pais podem criar metas e pagar mesada diretamente pelo app. A conta pode ser aberta a partir dos 6 anos, com ou sem celular, e os responsáveis mantêm o controle sobre as movimentações.
Entre os serviços que já estavam disponíveis, estão a conta global com suporte a mais de 30 moedas, inclusive algumas menos comuns como as da Indonésia e Islândia, transferências via Pix, envio de valores para mais de 160 países e possibilidade de armazenar e negociar criptomoedas.
O aplicativo permite ainda a criação de metas, divisão de despesas em grupo, rastreamento por país e tipo de gasto, controle de assinaturas e envio de mensagens e GIFs entre usuários. “Você consegue mandar dinheiro e conversar com a pessoa tudo dentro do aplicativo”, destacou Luisa.
A Revolut afirma já ter mais de 50 funcionários dedicados à operação brasileira e diz que o país se tornou uma prioridade estratégica. “O mercado brasileiro é muito importante para a Revolut. A gente tem certeza que essa aposta vai se pagar”, afirmou o CEO. A quantidade de clientes e o tamanho das receitas no País, a matriz não revela. Os resultados globais relativos a 2024 ainda não saíram, mas em 2023 a fintech dobrou suas receitas para 1,8 bilhão de libras.